Notícias

Tartarugas “de Darwin” redescobertas em Galápagos 1o6141

Pesquisadores da Universidade de Yale descobrem que descendentes de tartaruga gigante considerada extinta ainda sobrevivem nas ilhas

Vandré Fonseca ·
9 de janeiro de 2012 · 13 anos atrás
As tartarugas G. Becky são nativas da Ilha Isabela e têm a carapaça em forma de domo. (Foto: Cortesia Yale University)
As tartarugas G. Becky são nativas da Ilha Isabela e têm a carapaça em forma de domo. (Foto: Cortesia Yale University)

A Chelonoidis elephantopus era uma tartaruga com carapaça em forma de sela, encontrada apenas na Ilha Floreana, sul do arquipélago de Galápagos. Alvo de caçadores, foi considerada extinta há 150 anos, mas pesquisadores da Universidade de Yale, Estados Unidos, descobriram que descendentes desta espécie ainda vivem em uma área remota, no norte do arquipélago, a cerca de 320 quilômetros do habitat original.

Em um artigo que será publicado na edição desta quarta-feira do periódico científico Current Biology, os pesquisadores revelam ter encontrado marcadores genéticos indicando que a existência de pelo menos 84 indivíduos híbridos descendentes diretos de C. elephantopus puro-sangue. Estas tartarugas vivem em meio a uma população de 7 mil animais, a maioria delas da espécie G. becki, no vulcão Wolf, Norte da ilha Isabela, a maior de Galápagos.

 

Para os pesquisadores, a descoberta é importante porque significa a possibilidade de repovoar o habitat original das tartarugas. “Se nós pudermos encontrar estes indivíduos, poderemos restaurá-los à ilha original. Isto é importante porque estes animais são espécies-chave, que desempenham um papel importante na manutenção da integridade ecológica das comunidades das ilhas”, afirma a autoria principal do artigo, Gisella Caccone, pesquisadora do Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Yale.

As amostras de sangue de mais de 1.600 tartarugas encontradas no vulcão Wolf foram coletadas pelos pesquisadores em 2008. Os dados genéticos foram comparados com informações de tartarugas vivas e extintas. Os pesquisadores concluíram que, em 30 casos, a fecundação ocorreu nos últimos 15 anos. Esse dado levou a equipe de pesquisadores a acreditar em uma grande possibilidade de muitas C. elephantopus puras ainda estarem vivas, já que as tartarugas-gigantes podem viver mais de cem anos em ambiente selvagem.

O difícil é encontrá-las, já que devem ser poucos indivíduos, misturados a milhares de tartarugas soltas na ilha. Mesmo que não sejam encontrados indivíduos puros, os pesquisadores acreditam que um programa de cruzamentos intensivos entre híbridos possa ressuscitar a C. elephantopus.

Salvos por piratas

Esta é uma híbrida, resultado do cruzamento entre a G. Becky e uma C. elephantopus, espécie considerada extinta e nativa da Ilha Floreana, que fica a mais de 320 quilômetros de distância. Análises genéticas da população de tartarugas na Ilha Isabela sugerem ainda há possibilidade de encontrar indivíduos puros C. elephantopus na Ilha Isabela. (Foto: Cortesia Yale University)
Esta é uma híbrida, resultado do cruzamento entre a G. Becky e uma C. elephantopus, espécie considerada extinta e nativa da Ilha Floreana, que fica a mais de 320 quilômetros de distância. Análises genéticas da população de tartarugas na Ilha Isabela sugerem ainda há possibilidade de encontrar indivíduos puros C. elephantopus na Ilha Isabela. (Foto: Cortesia Yale University)
As tartarugas de Galápagos são famosas por terem influenciado as idéias de Charles Darwin sobre a evolução das espécies baseada na seleção natural. Mas são impressionantes também devido ao tamanho. Elas podem pesar mais de 400 quilos, medir mais de 1,80 metro e viver por mais de 100 anos. Hoje, restam apenas 13 subespécies, e a maioria delas sob grave perigo de extinção.

Na viagem histórica que fez a Galápagos, em 1835, o naturalista notou que tartarugas que viviam em ilhas diferentes tinham formato de carapaça diferente, uma das observações que inspiraram a teoria da evolução baseada em seleção natural. Enquanto as tartarugas da Ilha Floreana eram em forma de sela, ou seja, tinha a parte anterior mais alta, outras tartarugas tinham o casco em forma de domo, mais comum entre os quelônios.

As carapaças em forma de sela são características das tartarugas que vivem em áreas mais secas do arquipélago. Este formato facilita o movimento da cabeça e pescoço do animal para cima, para se alimentar de arbustos e plantas mais altas.

Os hibrídos encontrados pelos pesquisadores seriam descendentes das últimas 38 C. elephantopus puro-sangue sobreviventes. A equipe duvida que as tartarugas encontradas no Vulcão Wolf tenham chegado lá por elas mesmas. Para os cientistas, estas tartarugas devem ter sido capturadas por piratas ou caçadores de baleia, o que era comum na época, para servir de alimento durante a viagem. Mas os animais teriam sido jogados no mar ou em direção à ilha Isabela.

Artigo: Genetic rediscovery of an ‘extinct’ Galápagos giant tortoise species.
Autores: Ryan C. Garrick, Edgar Benavides, Michael A. Russello, James P. Gibbs, Nikos Poulakakis, Kirstin B. Dion, Chaz Hyseni, Brittney Kajdacsi, Lady Márquez, Sarah Bahan, Claudio Ciofi, Washington Tapia, and Adalgisa Caccone.

  • Vandré Fonseca vd27

    Jornalista especializado em Ciências e Meio Ambiente.

Leia também 84q8

Salada Verde
30 de maio de 2025

Sociedade civil protesta contra PL que quer acabar com o licenciamento 6n1v2o

Mobilização ocorre em ao menos 12 capitais. Protestos estão marcados para ocorrer neste domingo e marcam o início da semana do meio ambiente

Salada Verde
30 de maio de 2025

Chance de aquecimento da Terra ultraar 1,5°C aumentou, mostra estudo 3263y

Países caminham para que a principal meta do Acordo de Paris seja descumprida. Chance de que o aquecimento fique entre 1,5ºC e 1,9ºC em pelo menos um dos próximo cinco anos é de 86%, diz ONU

Reportagens
30 de maio de 2025

Como comunidades de fecho de pasto conservam o Cerrado no oeste baiano 4h422r

Há 300 anos vivendo no bioma, modo de vida fecheiro envolve a criação de gado para subsistência e a proteção da vegetação nativa

Mais de ((o))eco 6q6w3q

quelônios 4y3b5y

Notícias

Projeto focado na conservação de quelônios completa 16 anos z261t

Reportagens

Soltura de filhotes marca esforço para conter a extinção da Tartaruga-da-Amazônia 5p4l31

Salada Verde

Ibama publica novo Guia de biota marinha em atividades de pesquisas sísmicas 4f4l1l

Salada Verde

Pesquisa analisa os locais de desova das Tartarugas na Amazônia em praia 1i6p

conservação 4y3hz

Notícias

Tribunal de Justiça do RS desobriga companhia de isolar fios para evitar choques em bugios 48634p

Notícias

Perda global de florestas atinge recorde em 2024, mostra estudo da WRI n6j56

Análises

O PL da Devastação e a falsa promessa do progresso 155t47

Reportagens

Ajustes em trilha podem melhorar sua função de corredor ecológico no Cerrado 3w201a

mudanças climáticas 1j5e1m

Salada Verde

Podcast investiga o que restou de Porto Alegre um ano após a enchente de 2024 2651j

Colunas

Por que os cristãos defendem o licenciamento ambiental 4o3a5d

Reportagens

“Brasil não pode ser petroestado e líder climático ao mesmo tempo”, alerta Suely Araújo 3q19z

Notícias

“O poder da juventude está em aproximar realidades cotidianas dos espaços de decisão” 204t6u

Capa 5w1yx

Fotografia

A Catedral de Mármore 4f25l

Fotografia

Um monte entre as nuvens 623h3o

Fotografia

Uma praia sem mar 1v4hp

Fotografia

Preikestolen, o Púlpito de Pedra 2v645l

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.