Reportagens

Não basta reduzir o desmatamento 415f4w

Artigo publicado na revista Science por pesquisador Luiz Aragão revela que as queimadas aumentam em áreas onde o desmatamento foi reduzido. 

Vandré Fonseca ·
7 de junho de 2010 · 15 anos atrás

Evidência do vazamento do fogo em uma área desmatada para uma área de floresta no estado do Mato Grosso (foto: Instituto Centro de Vida)
Evidência do vazamento do fogo em uma área desmatada para uma área de floresta no estado do Mato Grosso (foto: Instituto Centro de Vida)

O que é REDD
O mecanismo para Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD) começou a ser discutido oficialmente pela ONU em 2005, durante a 11ª Conferência sobre Mudanças Climáticas, em Montreal (Canadá). Naquela ocasião, países tropicais como Costa Rica, Papua Nova Guiné e Indonésia propam que florestas nativas pudessem gerar créditos de carbono.
O Brasil, desde o início, se opôs à inclusão de florestas tropicais num mecanismo de mercado e, na Conferência de Nairóbi (2006), apresentou a proposta de um fundo global para a redução efetiva de emissões. Ou seja, países desenvolvidos investiriam em países tropicais para parar o desmatamento, mas não ganhariam créditos de carbono por isso.
Em Copenhague (2009), foram decididos quais países e projetos poderão se beneficiar de um futuro mecanismo. Em 2010, espera-se que seja o momento de decidir como de fato será o mecanismo e de onde virá o dinheiro para interromper o desmatamento.

Para saber mais leia “O pequeno livro do REDD” em nossa biblioteca

Para reduzir as emissões de carbono pela floresta não basta diminuir o desmatamento, é preciso também evitar o uso do fogo em áreas já desmatadas. A conclusão está em um estudo realizado por Luiz Eduardo Aragão, da Universidade de Exeter, Reino Unido, e Yosio Shimabukuro, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), publicado na edição desta sexta-feira da revista Science.

Durante a elaboração do artigo “A Incidência de Queimadas nas Florestas da Amazônia e suas implicações para o REDD”, os pesquisadores usaram imagens de satélite do Inpe para analisar as taxas de desmatamento e compará-las com dados sobre queimadas na Amazônia Brasileira.

“Usamos dados disponíveis para tentar entender como as queimadas respondem a cenários de redução de desmatamento, semelhantes aos que devem ocorrer com a implantação da REDD. E tivemos uma surpresa: em 59% das áreas onde houve redução no desmatamento ocorreu também o aumento da indicência de queimadas”, afirma Luis Aragão.

O Brasil tem conseguido reduzir as taxas de desmatamento, mas a área total de floresta destruída continua a aumentar, embora em ritmo menor. Isto significa, conforme explica Luiz Aragão, que a floresta secundária, a fragmentação da mata primária e a área de borda, mais suscetíveis ao fogo, continuam a aumentar ano a ano.

Além disto, o fogo que começa nas capoeiras invade o subbosque das florestas, levando à degradação destas áreas e à emissão de carbono. Esta degradação não é contabilizada no monitoramento do desmatamento e das emissões. “Não se olha o que ocorre por baixo, no subbosque”, destaca o doutor em Sensoreamento Remoto.

Questão de efetividade

 Árvore morta por fogo no subbosque: uma evidência da entrada de queimadas de fazendas vizinhas nas bordas floresta amazônica no Mato Grosso ( foto: Luiz Aragão)
Árvore morta por fogo no subbosque: uma evidência da entrada de queimadas de fazendas vizinhas nas bordas floresta amazônica no Mato Grosso ( foto: Luiz Aragão)

A principal implicação deste estudo é que os projetos de REDD podem se tornar bem mais caros e serem menos efetivos do que se imagina atualmente.

Mais caros pois o que mostra o estudo de Aragão é que queimadas emitem tanto carbono quanto o desmatamento. Segundo o estudo, queimadas no subbosque que não são quantificadas na contagem do desmatamento emitem entre 0,1 e 0,2 tonelada de carbono por ano em anos secos, como 1998 e 2005. É a mesma ordem de magnitude das emissões da floresta de desmatamento relativas ao ano 2000.

Assim, se os projetos, realmente cortarem as emissões florestais precisam sair o dobro do preço. De acordo com Luiz Aragão, o problema não está em utilizar o REDD, que poderia realmente reduzir queimadas e desmatamento em florestas primárias, mas na necessidade dos sistemas de monitoramento identificar áreas degradadas e monitorar também áreas em recuperação.

Tendências

No estudo foram identificadas três tendências a partir da redução do desmatamento. A primeira é de ele vir acompanhado pela diminuição das queimadas. A segunda é o aumento das queimadas, como ocorreu na maior parte da região, devido ao crescimento da fragmentação, da área de borda e da queima da floresta em recuperação. A terceira tendência é de haver menos queimadas, graças a uma agricultura intensiva, ou seja, com técnicas mais modernas, que dispensem o uso do fogo.

De acordo com Luiz Aragão, se o desmatamento vem acompanhado da agricultura tradicional, que usa fogo, as queimadas aumentam. Mas se o tipo de agricultura muda, as queimadas diminuem. “Isto tem implicações nos custos de REDD, porque deveria haver investimento também em treinamento, maquinário e apoio técnico para agricultures”.

Para o pesquisador, a implantação dos projetos deve ser negociada com organizações de agricultores, para que não se tornem ineficientes. “A implantação não deve ser de cima para baixo, mas deve partir das organizações, de baixo para cima.

O pesquisador lembra que os efeitos destas queimadas não ficam s à Amazônia, mas têm efeitos sobre o clima de todo o planeta. E que a Amazônia também pode sofrer com o aquecimento global. “Modelos de circulação global mostram que eventos de seca na Amazônia têm probabilidade de se tornarem mais freqüentes com o aquecimento global. E emissões de carbono na Amazônia contribuem para o efeito estufa e o aquecimento global. Existe uma retroalimentação”, segundo Luiz Aragão.

Link – Ouça entrevista com o pesquisador Luiz Aragão (em inglês) 

Vandré Fonseca é repórter em Manaus

Leia mais:

– Especial sobre queimadas na Amazônia – A Trajetória da Fumaça

  • Vandré Fonseca vd27

    Jornalista especializado em Ciências e Meio Ambiente.

Leia também 84q8

Salada Verde
9 de junho de 2025

Senadores acumulam pedidos de cassação por ofensas à ministra Marina Silva 4g5m21

Há quatro representações no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar contra condutas dos parlamentares da Amazônia

Salada Verde
6 de junho de 2025

Em pronunciamento, Marina Silva sai em defesa do Licenciamento Ambiental 32i1x

“Não podemos permitir que, em nome da agilização das licenças ambientais, seja desferido um golpe mortal em nossa legislação”, discursou a ministra. Leia o discurso na íntegra

Análises
6 de junho de 2025

Governo do RS ignora perda anual de vegetação campestre para comemorar a ilusão do Pampa conservado 6w566i

Relatório que apontou queda no desmatamento do bioma ite limitação para avaliar campos, mas Governo do Estado vangloria-se de um suposto sucesso da sua política ambiental

Mais de ((o))eco 6q6w3q

redd 5s643k

Colunas

REDD+ em terras indígenas e marco temporal na mesa de negociações 1xp9

Reportagens

Inação do governo provoca boom no mercado voluntário de créditos de carbono 471ot

Reportagens

Governo transfere responsabilidade de corte de emissões ao setor privado m534w

Reportagens

Famílias vão receber mil reais por mês para manter a floresta em pé 35532k

desmatamento 4y695i

Análises

Governo do RS ignora perda anual de vegetação campestre para comemorar a ilusão do Pampa conservado 6w566i

Notícias

Ibama vai receber R$ 825,7 milhões do Fundo Amazônia para combate ao desmatamento 1h48d

Notícias

Morre Dalton Valeriano, responsável por modernizar o monitoramento do desmatamento no país 5q4d16

Colunas

O segredo mais bem guardado da política climática brasileira 433a2j

queimadas t276g

Notícias

Ibama vai receber R$ 825,7 milhões do Fundo Amazônia para combate ao desmatamento 1h48d

Notícias

Perda global de florestas atinge recorde em 2024, mostra estudo da WRI n6j56

Notícias

Governo confirma mobilização de 4.600 brigadistas para combate ao fogo no Brasil em 2025 6gg1i

Notícias

Governo se antecipa e decreta estado de emergência em áreas vulneráveis a queimadas 5j4o67

mudanças climáticas 1j5e1m

Colunas

ONU reúne 2 mil cientistas para transformar conhecimento em ações políticas para o oceano 6k6n12

Reportagens

Como as unidades de conservação podem resistir à crise climática? 512p5g

Colunas

O segredo mais bem guardado da política climática brasileira 433a2j

Colunas

Verão em Realengo  6i1i14

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.