– Vocês precisam ver o efeito que esses dez estudantes vindos dos Estados Unidos têm na comunidade. E o efeito que a experiência tem sobre eles. Nós fomos ver a apresentação da última turma, ao voltar para o Novo México, para os colegas da universidade. Foi emocionante, eles eram totalmente diferentes dos que haviam ficado. Haviam trabalhado numa comunidade brasileira, trabalhado no campo e visto seu país de longe, conta Sebastião.
– A maneira da gente trabalhar é com a espécie da gente, né? Então, essa espécie tem que ser educada, diz Lélia.
O Instituto tem, também, cursos de curta duração e de reciclagem, para grupos específicos como professores de primeiro e segundo grau; para bombeiros, sobre técnicas de combate a incêndios florestais e queimadas, por exemplo; ou para a polícia ambiental, sobre identificação de espécies da fauna, para terem melhor noção do que estão apreendendo com caçadores e traficantes; entre outros. Trabalham com crianças das escolas, que transformam em monitores – os terrinhas – para tratar de temas ambientais com os colegas. É um projeto que vai além da reconstrução, é militante e tem uma projeção cultural totalmente intencional. Espelha tanto a fotografia de Sebastião Salgado, quanto a visão de Lélia Salgado.
– É uma questão filosófica. A gente tem que aprender a viver em harmonia com a natureza, buscar o ponto de equilíbrio. O ser humano não possui o planeta, é parte dele. É apenas uma de suas espécies e tem que aprender a respeitar as outras espécies e o meio ambiente, explica Lélia.
Tudo a ver
Essa visão sistêmica coincide com a nova etapa do projeto existencial e profissional dos dois – “somos uma equipe”, diz Sebastião – o “Gênesis”, 30 reportagens para serem feitas ao longo de oito anos.
– Provavelmente nosso último grande projeto, faltam ainda 4 anos e meio para completá-lo, e já estou com 64 anos. Não abandonaremos a fotografia, mas talvez não façamos mais grandes séries de reportagens como essa, explica.
Depois de fotografar por quase toda a carreira tragédias sociais e humanas, a experiência na fazenda Bulcão os levou a pensar numa série de reportagens sobre as partes do planeta ainda em estado puro, que o ser humano não conseguiu explorar.
O projeto é militante, além de fotos, livros e exposições, ele está gerando um programa educacional, testado em São Paulo e, agora, em implantação também em Astúrias, cujo governo tem dado muito apoio ao Instituto Terra. Vai ser traduzido para o italiano, para ser difundido em parte da Itália e, ao final, a UNESCO o distribuirá por todo o mundo.
– Todos os projetos de fotografia que a gente fez, eu e a Lélia, são trabalhos ligados à maneira da gente viver, à forma de vida da gente. Eu fiz muito trabalho de fotografia social, porque a gente tinha uma militância, social, política, conta Tião, como o chamam na sua terra. A militância ambiental no Instituto Terra desaguou no projeto Gênesis.
– Nós não acreditamos em manejo de florestas, diz Sebastião.
– É um absurdo, nós não precisamos de nenhum manejo. Não tem mais que tirar madeira da Amazônia, é preciso parar já, completa Lélia.
Ambos acham que é preciso parar o desmatamento, preservar o que ainda está intocado, e refazer o que pode ser refeito. “Ainda é possível salvar o que é salvável”, diz Sebastião. Para ele, o custo alternativo da restauração do que foi destruído na Amazônia, revela o valor inestimável do patrimônio que ainda pode ser preservado.
“Dá para refazer o planeta” diz, quase utópico. O projeto Gênesis tem o objetivo de mostrar o que não foi destruído, para que possa ser salvo:
– Vamos procurar o que ainda tem de maravilhoso no mundo, para mostrar o que precisa ser preservado, explica Lélia.
O projeto do Instituto Terra, tem por missão mostrar que é possível refazer, para que a idéia se alastre.
“A gente tá aprendendo. O que a gente faz é aprender a cada minuto. A cada minuto a gente descobre que não sabe nada e aprende novas coisas junto com outros. Se a gente puder transmitir isso tudo que a gente tá aprendendo, acho que a gente consegue ajudar. Nada é determinante no que a gente tá fazendo, mas faz parte de um corpo, de um caminho…” (Sebastião Salgado).