
Na Quarta, 25, durante os debates que acompanharam a votação da reforma do Código Florestal, até presidentes de partidos políticos diziam que o Brasil possui “mais de 60% de sua extensão territorial em áreas protegidas”. Quanta ignorância. Como é possível que tenhamos deputados tão desinformados ou demagógicos? Depois refleti e concluí que eles talvez não estejam equivocados, estão apenas usando números vazios.
Eles usam o artifício de somar coisas que teoricamente parecem verdade, mas são de mentirinha. O negócio é começar somando as gigantescas e inúteis Reservas da Biosfera de dezenas de milhões de hectares com as terras indígenas e as dos quilombos, que crescem sem cessar, mais as áreas de proteção ambiental e outras semelhantes, onde quase tudo é permitido, o que é o caso das reservas extrativistas. Finalmente, adicionem-se aí as mínimas áreas verdadeiramente protegidas, embora apenas por lei, e talvez cheguemos a algo como essa cifra enganosa, para inglês ver. Ela agora é usada alegremente pelos promotores das emendas mais nefastas do reformado Código Florestal, que o Congresso aprovou nessa quarta-feira, 25 de abril.
Esse texto é um desabafo. Todas essas áreas supostamente de proteção foram criadas por uma mistura de ambientalistas ingênuos unidos a outros de fachada. Acabaram ajudando a construir o falso argumento de que a quantidade de áreas protegidas no Brasil é excessiva.
A verdade sem sofismas é que o Brasil não tem sequer 10% de sua extensão territorial em áreas protegidas ou unidades de conservação. Destas, dois terços não estão implantados, são intenções vazias escritas em papéis oficiais, em decretos que raramente são cumpridos. A maior parte é de áreas abandonadas à própria sorte, terras de ninguém que o Estado ou os estados ignoram.
Em plena vigência do Código Florestal vimos praticamente se acabar com o bioma Mata Atlântica, que possui hoje somente cerca de 7% de sua área original e, mesmo esta, bastante degradada. A mesma coisa aconteceu na Caatinga, com 11% restantes, e com o Cerrado, onde restam 40% em péssimo estado, e “ in extremis” a Mata de Araucária, que possui hoje menos de 200.000 hectares espalhados em ilhas esparsas e diminutas.
Nessa quarta, assistimos a chamada bancada ruralista usar e abusar de números que não têm correspondência com a realidade. Eles foram dados de bandeja pelos ambientalistas que criaram essa fantasia, fruto de exageros. Na quarta, esses exageros saíram caro e municiaram os adversários.
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