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Vale do Tambopata, o encantamento do ecoturismo bem-feito 1mo10

Comunidade nativa e empresa se associam para proporcionar uma experiência sem igual aos visitantes e gerar renda para os locais.

11 de março de 2013 · 12 anos atrás
  • Maria Tereza Jorge Pádua 6y6y4o

    Engenheira agrônoma, membro do Conselho da Associação O Eco, membro do Conselho da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Nat...

Fotos: Marc Dourojeanni.

De cara, chama a atenção o lema: “Natureza é nossa paixão e comunidade nosso compromisso”. É pura verdade, como pudemos constatar in loco. Maravilha é a nossa profissão, que nos leva a ser convidados para conhecer, visitar e criticar locais como a Posada Amazonas, situada no vale do rio Tambopata, na Amazônia peruana. O empreendimento é gerido pelos índios da Comunidade Nativa de Infierno e pela Rainforest Expeditions, uma empresa peruana social e ambientalmente exemplar.

A comunidade de Infierno (nome inadequado para a sua promissora realidade atual) abraça quase 10 mil hectares, onde vivem 173 famílias e 600 pessoas, em área contígua à Reserva Nacional do Tambopata, de 275 mil hectares. Esta área, por sua vez, é contígua ao grande Parque Nacional Bahuaja-Sonene, no departamento amazônico sulino de Madre de Dios, aos pés das montanhas de Cuzco e de Puno, relativamente perto do nosso estado do Acre.

Além da Pousada Amazonas, que fica em área da comunidade nativa, a empresa mantém mais duas pousadas: Refúgio Amazonas e outra que se chama Tambopata Research Center, dentro da Reserva Nacional, onde se pesquisa as araras Ara chloroptera e Ara macao. Chegar ao Tambopata Research Center consome seis horas de viagem de barco na subida do rio e apenas a metade na baixada. Ninguém dá queixa, pois além das paisagens até onça pintada já foi vista nas praias. As pesquisas que lá se realizam com as araras nos lembram aquelas realizadas na RPPN do SESC Pantanal em Mato Grosso e as que também se fazem no Mato Grosso do Sul.

União bem-sucedida

“Eles [os guias comunitários] são uma mistura equilibrada de mateiros e de guias convencionais, que falam um bom inglês e outros idiomas”.

Feliz casamento este da comunidade nativa com os donos e empregados da Rainforest Expeditions, pois a oportunidade que nos oferecem de conhecer a mata amazônica de uma forma segura, confortável e intensa não encontra paralelo em outros países amazônicos, inclusive e principalmente no Brasil. Os guias da comunidade, além de comprometidos, trabalham sem medida para nos garantir segurança, conforto e informação correta. Eles são uma mistura equilibrada de mateiros e de guias convencionais, que falam um bom inglês e outros idiomas.

Para se chegar a este rincão único tem-se de ir de Lima até Cuzco e depois a Puerto Maldonado de avião e então de barco pelo rio Tambopata. Claro, existe a alternativa de ir por terra até Puerto Maldonado. Entretanto, de Lima, será preciso vencer mais de 1.600 km. Para quem tem tempo, o percurso é maravilhoso, saindo das praias e do deserto costeiro ate a úmida Amazônia, ando a quase 5.000 metros de altitude pelos Andes, com seus nevados e lagos.

Na próxima coluna, aguardem-me para um segundo texto sobre o ecoturismo na Amazônia. Quero comparar o conceito único destas pousadas com o que vem ocorrendo em nosso país: o porquê de os parques nacionais da Amazônia brasileira não possuírem este tipo de infraestrutura, tão barata e tão bem bolada.

Fotos: Marc Dourojeanni.

Fauna em profusão

“A comida é boa, mas servida em horários certos. Quem atrasa, perde a refeição. Não existe telefone, nem energia elétrica, mas o banho é quente. Alguém precisa de banho quente na Amazônia?”.

Mas voltando para a Amazônia peruana e para as pousadas do rio Tambopata, há que dizer que as da Rainforest não são as únicas – há mais de 20 no vale -, porém elas foram e são as primeiras do local, nos dois sentidos: o da cronologia e o da qualidade. Seus donos são jovens engenheiros florestais e bolaram trilhas, mirantes, torres e eios de barco onde se pode ver de tudo: desde bandos de macacos de todos os gêneros que ocorrem em grande parte da Amazônia (Ateles, Aotus, Cebus, Callicebus, Allouata, Saimiri, Saguinus), até cotias que eiam junto aos lodges, ou cobras, araras e papagaios, ou veados, porcos do mato, ou jacaré-açu, garças, colhereiros, ou ariranhas, ou, ou, ou…

A grande atração são as colpas, onde as araras e papagaios retiram dos barrancos lodosos seus minerais para sobreviver. Todo mundo quer ver o espetáculo e, dentro de cabanas de sapé com janelinhas minúsculas, nós vimos e todos veem a maravilha das cores e dos sons das araras vermelhas e de tantas outras.

A comida é boa, mas servida em horários certos. Quem atrasa, perde a refeição. Não existe telefone, nem energia elétrica, mas o banho é quente. Alguém precisa de banho quente na Amazônia? Na verdade, não é ruim nas madrugadas, antes de sair a ver algum de tantos encantamentos.

A empresa e a comunidade recebem ao redor de 15 mil visitantes por ano para visitas de dois a cinco dias. Uns 60% dos lucros líquidos ficam com a comunidade e 40% com os empresários. No ano ado, a título de exemplo, a comunidade recebeu mais de 1 milhão de soles (cerca de R$750 mil). Além disso, a empresa tem cerca de 100 funcionários e a grande maioria é da comunidade ou da região. Todos eles atentos e satisfeitos de mostrar o seu paraíso.

Partimos certos de que qualquer um pode conhecer de forma segura, confortável e educativa a mata amazônica original. Um bom exemplo foi o de uma jovem mãe dinamarquesa, com três crianças, a mais jovem de apenas dois anos, que curtiu tudo o que as pousadas e a Amazônia oferecem. Também cruzamos com uma senhora idosa que andava nas trilhas, apesar de precisar de muletas. Inacreditável e invejável.

Para quem quiser saber mais, visite o site da Rainforest Expeditions ou escreva para [email protected].

Fotos: Marc Dourojeanni.
Foto: Marc Dourojeanni.
Foto: Marc Dourojeanni.

 

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