Análises

Com os Estados Unidos fora, Brasil pode ganhar protagonismo no Acordo do Clima de Paris 2z3q4

O tratado, assinado por Barack Obama em 2015, colocava como meta a redução de 28% da produção de gases de efeito estufa e envio de U$ 3 bilhões para países mais pobres. Brasil enxerga oportunidade 

Mariano Colini Cenamo ·
5 de junho de 2017 · 8 anos atrás
Acordo de Paris
Notícias sobre os acordos climáticos de Paris.
Donald Trump tirou o EUA do Acordo de Paris. Foto: Gage Skidmore/Flickr.
Donald Trump tirou o EUA do Acordo de Paris. Foto: Gage Skidmore/Flickr.

Recentemente assisti no cinema ao filme “Rondon”, de Marcelo Santiago, que conta a trajetória do Marechal Cândido Rondon, épico desbravador, líder militar e um grande idealista brasileiro que lutou pela convivência pacífica entre os povos indígenas e o homem branco durante a ocupação da Amazônia, no início do século ado.

Rondon foi um dos poucos militares na história a serem indicados para o Prêmio Nobel da Paz, na edição de 1957.

Entre os feitos de Marechal Rondon, vale destacar a épica expedição organizada por ele, em 1914, que levou o ex-presidente norte-americano Theodore Roosevelt para conhecer a floresta amazônica. Para Roosevelt, a expedição foi um fracasso: sofrendo por falta de alimentos, ataques de mosquito e após quase morrer de malária, ele decidiu abandonar a expedição.

Para o Brasil, pode se dizer que a missão foi um sucesso. Roosevelt acumulou enorme conhecimento, respeito e iração pela Amazônia e abriu inúmeras frentes de cooperação para a conservação de florestas e defesa dos povos indígenas.

ado mais de um século desde a expedição de Roosevelt, chega ao poder Donald Trump, magnata do ramo imobiliário, empresário de sucesso e com um tremendo gosto pela autopromoção. Mais: desde sua posse, tem feito de tudo para provar que não está nem aí para o meio ambiente ou para as mudanças climáticas.

Na última semana, Trump se superou. Apesar da reprovação de grande parte do Congresso, governos estaduais e até mesmo empresas, o mandatário virou as costas para o mundo e anunciou oficialmente a retirada dos Estados Unidos do Acordo do Clima de Paris, aprovado por representantes de 195 países na COP 21, em dezembro de 2015 e substituto do Protocolo de Quioto (Japão).

Sem a participação dos Estados Unidos, todos os outros países vão ter que trabalhar dobrado para atingir o objetivo de manter o aquecimento global abaixo dos 2 graus – limite que coloca o clima em rota de colapso.

“Sem a participação dos Estados Unidos, todos os outros países vão ter que trabalhar dobrado para atingir o objetivo de manter o aquecimento global abaixo dos 2 graus – limite que coloca o clima em rota de colapso.”.

A responsabilidade de salvar o planeta cai redobrada em todos os outros signatários do Acordo. Provavelmente, alguns países seguirão os americanos. A grande maioria anunciou que fica. Veremos o surgimento de novos líderes na construção de um atualizado modelo de desenvolvimento com baixas emissões de carbono.

O Brasil fez a sua escolha. A despeito do caos político e econômico que estamos enfrentando, nos últimos anos, o Brasil deu um exemplo ao mundo ao combater as mudanças climáticas.

Entre 2006 e 2015 reduzimos o desmatamento da Amazônia em mais de 80% e evitamos a emissão de mais de 5 bilhões de toneladas de CO2 para a atmosfera. Esse foi o maior resultado alcançado por um país signatário da Organização das Nações Unidas no combate ao aquecimento global.

No entanto, o desmatamento voltou a crescer nos dois últimos anos (24%, em 2015 e 29%, em 2016) e veio combinado com uma grave crise econômica — o PIB da região amazônica despencou muito além da média nacional (-3,8%), com extremos como Amazonas (-9,1%), Amapá (-6,2%) e Tocantins (-5,2%).

Refletindo a fragilização da economia, o orçamento do Ministério do Meio Ambiente sofreu um corte de 43% em relação ao ano ado.

Então, de onde sairão os recursos para sustentar a conservação de nossas florestas?

A esperança para retomar a agenda de conservação tem que vir de apoio internacional, por exemplo, via mecanismo de Reduções de Emissões do Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+), que propõe compensar os esforços de países como o Brasil por prestar um enorme serviço ambiental para o mundo – e isso é um ótimo negócio para o País, uma vez que pode gerar receitas de até U$ 70 bilhões até 2030.

Volto no meu imaginário à histórica expedição de Ted Roosevelt à Amazônia: o que aconteceria se convidássemos Donald Trump para uma expedição ao coração de nossa floresta?

Será que ele toparia? Serviria a viagem para agregar conhecimentos sobre o valor das florestas tropicais e a importância do equilíbrio climático? Surgiria daí a motivação para o indispensável comprometimento da maior economia do mundo no combate ao aquecimento global? Doce ilusão.

O mais provável é que Trump declinasse do convite, afinal, o meio ambiente e o futuro da humanidade parecem não fazer parte da agenda de prioridades do presidente amante do petróleo. Tudo indica, infelizmente, o contrário.

A Amazônia é nossa e estamos fazendo a nossa parte. Assumimos essa responsabilidade. E os Estados Unidos de Trump, assumirão a responsabilidade que lhes cabe como líderes globais?

 

Leia Também

Trump declara saída de Paris e revolta mundo

Os “fatos alternativos” do discurso de Trump

Brasil propõe criar novo mercado de carbono

 

 

 

  • Mariano Colini Cenamo 2l525i

    Co-fundador e pesquisador sênior do Idesam – Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia

Leia também 84q8

Reportagens
8 de dezembro de 2015

Brasil propõe criar novo mercado de carbono 722gq

Proposta conjunta com a União Europeia sugere que países em desenvolvimento, governos locais e até mesmo empresas poderiam fazer transações de direitos de poluição e descontá-los de metas de redução de emissões.

Reportagens
2 de junho de 2017

Os “fatos alternativos” do discurso de Trump 2k6y1n

Desmontamos algumas das principais mentiras ditas pelo presidente ao anunciar a saída dos Estados Unidos do acordo do clima de Paris. O problema é que elas foram muitas

Reportagens
1 de junho de 2017

Trump declara saída de Paris e revolta mundo 6t3g3m

Americano diz que tentará “renegociar” uma volta ao tratado “em termos justos” e é rebatido pelo presidente da França; Barack Obama diz que seu sucessor “rejeita o futuro”

Mais de ((o))eco 6q6w3q

clima 5w2j3g

Notícias

Crise climática irá encolher o lar de anfíbios na América Latina 3m3pk

Salada Verde

Presidência da Conferência do Clima anuncia datas da “pré-COP” 4i6e67

Notícias

Mudanças climáticas irão impactar negativamente mais de 90% das espécies brasileiras 351c2e

Notícias

Entenda o que é o “Campeão Climático” anunciado por Lula para a COP30 3p726g

política internacional 6y5zc

Reportagens

Recursos chineses podem ampliar impactos em estados pantaneiros 105m5p

Notícias

Restauração da Mata Atlântica é reconhecida como referência mundial pela ONU 3739p

Análises

Vem aí a mais importante Conferência Global de Biodiversidade da Década 5h3s5q

Análises

Avanços na Agenda de Biodiversidade nas últimas décadas e o papel importante do Brasil 4qy4g

Acordo de Paris 333w6b

Análises

Um ano decisivo para o meio ambiente no Brasil e no mundo y564

Colunas

Os desafios da diplomacia climática em 2025 3r3y3h

Notícias

Agência vê pico de emissões até 2025, mas 1,5ºC ainda fora de alcance 4w3y4y

Notícias

Não caia no erro: nova meta climática não representa aumento de ambição 435036

ICS 3m682z

Notícias

Transição energética entra de forma discreta na terceira carta da Presidência da COP30 425t72

Salada Verde

Veja como votou cada senador no projeto que implode o licenciamento ambiental 224w5g

Reportagens

Brasil aposta na conciliação entre convenções da ONU para enfrentar crises globais 4q306r

Notícias

Cerrado perdeu 1.786 hectares de vegetação nativa por dia em 2024, mostra Mapbiomas 47294g

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Comentários 3 2j4w2q

  1. Flávio Zen diz:

    Isso sem contar a censura politicamente correta. Um pena mesmo a militancia cada vez mais evidente, ppmente em tempos em que a imprensa é vista como não confiável e tendenciosa. Cabe destacar que o B rasil não possui condição de nenhum protagonismo, haja visto o sistematico desmonte das políticas ambientais, do código florestal e o descoberto pela Lava jato.

    Creio que esta histeria com o Trump e a questão climática não levam a lugar nenhum, mas comprometem a percepção do distinto publico sobre o que é ou não relevante ambientalmente. Dica de leitura: WHY SCIENTISTS DISAGREE ABOUT GLOBAL WARMING – Craig Idso, Robert M. Carter (1942-2016), S. Fred Singer publicado em 2015. Disponivel em pdf < https://www.heartland.org/publications-resources/… >


  2. Marlon diz:

    Esse site sempre foi muito bom, mas já ta cansando ver notícias com os ideais e papos com tendências esquerdistas (Trump malvadão, nazista, facista, taxista…). TAmbém não concordo com algumas coisas que ele faz, mas se nota um discurso cheio de 'ressentimentos' e ódio contra tudo o que ele faz…Sejam mais imparciais por favor e parem de adotar o discurso da mídia global…convidem seus leitores à reflexão, não à doutrinação.


  3. Flávio Zen diz:

    Complicada esta percepção. Uma coisa é o clima do planeta, outra coisa é a questão climática aparelhada pela esquerda, pela ONU e demais interesses globalistas e uma terceira seria o "protagonismo do Brasil".

    O que têm ficado cada vez mais claro para o grande público é que o clima possui tantas variáveis que a interferencia antrópica pode não ter a dimensão que o catastrofismo do aquecimento global advoga e simplesmente pode não ser real. Soma-se a isso a infinidade de cientistas e especialistas que têm saído do armario ou tomado coragem para se expor (vide exemplo em https://goo.gl/2RmOel ), já que o patrulhamento ideologico têm se retraído nos EUA graças ao Trump, com reflexos nos demais paises, ppmente após o suspeitissimo contexto denunciado pelo wikileaks, da malandragem do OBAMA e ONU, onde deram uma jeito de aprovar o acordo de Paris sem a participação do congresso, como é próprio das tiranias de esquerda quando não têm as insituições na coleira.

    Com razão, se questiona se o volume de recursos para uma suposta diminuição de 0,05º C em 100 anos não significa muito mais a transferencia de recursos para um projeto que ignora as mazelas sociais e ambientais atuais sem controversias e evidentes, para ações geopoliticas para a destruição das soberanias nacionais, em consonancia com interesses de grandes corporações, blocos economicos como a UE, patrocinados pelo guardachuva da ONU, que se propoe a um govenro mundial.

    Neste sentido, e sem recursos, qual seria o protagonismo do Brasil que se notabilizou por privilegiar empreiteiras para financiar projetos politicos hegemonicos, que optou por retirar recursos do BNDS para criar um mostro como a JBS e ainda destruir o MMA, detonar o código florestal, conduzir de forma ameaçadora o código minerário entr eoutros, ante o silencio ideológico partidário da imprensa, do comercio, da indfustriua, do agronegócio, de ONGs e governos nas demais esferas….

    Por isso é que quando a galkera fecha os olhos para os numeros da China e India por exemplo, a demoinização do Trump parece apenas militancia politicamente correta e nada mais… Precisamos mais do que isso…