Análises

Guardas-parques: guardiões da floresta e da biodiversidade brasileira 3h58v

A missão do guarda-parque não fica restrita à proteção ambiental, ela também inclui assegurar que as gerações futuras tenham a possibilidade de ter o mesmo contato e conexão com a natureza

Paulo Groke ·
29 de julho de 2022 · 3 anos atrás

Não há como falar sobre conservação de áreas naturais sem falar sobre guarda-parques. Mas, antes de entrar na discussão sobre este profissional, gostaria de relembrar o cenário da conservação do Brasil e no planeta: esta década está marcada por altos níveis de degradação dos nossos ecossistemas. O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que monitora a maior floresta tropical do mundo por imagens de satélites, indicou que o desmatamento no bioma cresceu 29% no ano de 2021 quando comparado ao ano anterior, alcançando a maior marca da última década. A situação não é exclusiva da Amazônia, biomas como o Pantanal também sofreram com índices elevados de desmatamento e queimadas. No mundo, grandes organizações conservacionistas – como a The Nature Conservancy e a WWF International – discutem a necessidade de protegermos 30% dos ambientes naturais. Crise climática, perda da biodiversidade, degradação dos recursos hídricos são desafios a serem enfrentados com determinação.

Para mudar este cenário é necessário protegermos as áreas silvestres e um intenso trabalho de restauração das áreas já degradadas. Sejam unidades de conservação oficiais ou áreas privadas, profissionais capazes de gerir e proteger precisam entrar em ação. Aí entra o guarda-parque: figura central para uma boa gestão e bons resultados no trabalho pela conservação. Este profissional é formado para prover a proteção destas áreas com um viés conservacionista e, para além da proteção, há a preparação para lidar com os desafios do cotidiano: do monitoramento e fiscalização ao apoio a pesquisadores e relacionamento com a comunidade. E todo este trabalho com um olhar voltado para as especificidades dos ambientes naturais, para a fauna e flora local e para as pessoas que interagem com o território.

No Brasil, a profissão ainda não é reconhecida como deveria ser: Unidades de Conservação que contam com uma equipe de guarda-parques não são o padrão. Não há a valorização do profissional, nem sempre as equipes recebem um bom treinamento ou, ao menos, EPIs e equipamentos de qualidade para a realização do serviço. Mas estamos caminhando para ver um futuro diferente para a área.

O Parque das Neblinas, reserva ambiental da Suzano que ajudei a criar e, desde então, sou responsável pela gestão por meio do Ecofuturo, conta com uma equipe própria de guarda-parques desde 2012 – formados também pelo Instituto. Antes, a reserva contava apenas com o apoio de vigilantes patrimoniais, mas a demanda de atividades específicas em uma área de conservação revelou a necessidade de formar uma equipe especializada. A primeira turma foi composta pelos antigos vigilantes, que receberam treinamentos como orientação em áreas remotas, primeiros-socorros, combate a incêndios florestais e relacionamento com a comunidade 

Entre as principais funções desenvolvidas estão as rondas diárias: a equipe circula na reserva, identifica e inibe os principais vetores de pressão, como os irregulares, extração ilegal de palmeira-juçara, caça, presença de resíduos nas trilhas, presença de espécies animais e vegetais invasoras etc. Os profissionais também são responsáveis por apoio e orientação aos diversos públicos, acompanhamento das pesquisas científicas – como forma de promover a troca de saberes “tradicional” e técnico –, implantação e manutenção de trilhas, e articulação com órgãos públicos de segurança. 

A missão do guarda-parque não fica restrita à proteção ambiental, ela também inclui assegurar que as gerações futuras tenham a possibilidade de ter o mesmo contato e conexão com a natureza. Além de serem um importante elo entre o Parque e as comunidades do entorno, atuando com ações preventivas e educativas.

O guarda-parque é o profissional que também poderá garantir que as áreas que o país deverá restaurar, cumpram a sua função de captura de carbono, conservação da biodiversidade, proteção dos recursos hídricos e educação ambiental.

Continuaremos levantando a discussão sobre o assunto e trabalhando para que o futuro desta profissão tenha a valorização, respeito e investimento que merece.

As opiniões e informações publicadas nas sessões de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

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    Diretor Superintendente do Instituto Ecofuturo, Paulo Groke é engenheiro florestal (ESALQ/USP), e especialista em ecoturismo ...

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Comentários 1 2p2l4m

  1. Gaspar diz:

    Para muitos guarda-parques, monitoramento sistemático soam mal.