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Limpando a barra 6b5s2q

Empresas petrolíferas são sinônimo de risco ambiental, mas estão tentando melhorar sua imagem junto ao público. O novo diesel da Petrobras é exemplo disso.

3 de junho de 2005 · 20 anos atrás
  • Flávia Velloso e João Teixeira da Costa 6b2x6v

  • Flávia Velloso f5e13

  • João Teixeira da Costa 2g4m49

Não é fácil dar crédito para profissão de fé ambiental de empresa de petróleo. Para começar, a atividade de extração, refino e comercialização de petróleo implica em grande impacto ambiental, mesmo quando conduzida da maneira mais limpa e segura possível. E nem sempre as grandes empresas do setor têm se comportado de maneira exemplar, apesar dos grandes esforços de mudança de imagem de algumas das grandes – como a BP, a Total e a Shell, que estão procurando se reinventar como empresas de energia renovável e de desenvolvimento sustentável.

Alguns dos piores desastres ambientais da história foram provocados por empresas petrolíferas. O vazamento do Exxon Valdez, por exemplo. Em 1989, o superpetroleiro com esse nome colidiu com um recife em Valdez, no Alasca, após receber sua carga de petróleo. O acidente resultou no vazamento de 42 mil metros cúbicos de petróleo, suficientes para contaminar 19 mil quilômetros de costa.

A inibilidade do local dificultou esforços para conter o petróleo vazado, e as melhores estimativas indicam que morreram de imediato 250 mil aves marinhas, 2.800 lontras-do-mar, 300 focas, 250 águias carecas, 22 orcas e bilhões de ovos de salmão e arenque. Mas o impacto do desastre continua reverberando pela cadeia alimentar, e estudos recenteslutando na justiça para reduzir o valor das indenizações que deve pagar para as vítimas do acidente e para o governo.

Seria injusto usar o caso Exxon Valdez para carimbar todas as empresas de petróleo do mundo como irresponsáveis e aéticas. Mas o caso serve para lembrar que no seu dia-a-dia essas empresas extraem petróleo em áreas remotas do planeta, o transportam ao redor do mundo, refinam e vendem os produtos. É óbvio que isso envolve riscos, que não podem ser inteiramente controlados. Situações semelhantes ocorrem aqui perto: no Equador, por exemplo, onde grupos locais acusam a multinacional americana ChevronTexaco de ter poluído uma extensa área de floresta amazônica e exigem compensações pelo estrago provocado.

E a nossa Petrobras? Uma rápida procura na Internet sugere que ela não tem um histórico ambiental dos mais puros. O Eco revelou em 2004 que a empresa planejava perfurar dentro de um parque nacional equatoriano em busca do ouro negro. Outro indicador: uma busca no Google mostra mais de 180 notícias com as palavras “Petrobras” e “acidente”.

A maior parte das notícias se refere ao ano de 2000, marcado pelos vazamentos de óleo no Rio de Janeiro e no Paraná. De acordo com a Petrobras, esses eventos deflagraram uma revolução dentro da empresa. Investimentos de R$ 8 bilhões em gestão ambiental e segurança operacional no período de 2000 a 2004 resultaram numa redução dramática no volume de vazamentos e melhoria substancial em outros indicadores ambientais.

Mas o impacto ambiental de uma empresa de petróleo não termina na refinaria. Os combustíveis que ela produz servem para manter automóveis, caminhões e ônibus em marcha nas ruas e estradas, movimentando a economia – e poluindo o ar. As empresas de petróleo podem não ter controle sobre os níveis de consumo de combustíveis, mas têm controle sobre sua qualidade.

A própria Petrobras chamou atenção para o assunto ao anunciar, no início de maio, a introdução de uma nova formulação de óleo diesel com teores reduzidos de enxofre. Presente em maior ou menor quantidade no petróleo, o enxofre combinado com o oxigênio durante a combustão produz o dióxido de enxofre, gás com forte odor que causa desconforto na respiração, doenças respiratórias e o agravamento de doenças respiratórias e cardiovasculares já existentes. Seu principal impacto sobre o meio ambiente é através do fenômeno da chuva ácida, que causa danos à vegetação natural e às colheitas.

O enxofre presente no petróleo é apenas resíduo do processo de destilação, e não cumpre nenhuma função nos motores dos automóveis e caminhões. Ao contrário: as técnicas mais modernas de controle da poluição dos veículos a gasolina e diesel exigem combustíveis com baixíssimos teores de enxofre para funcionar. Assim, a sua redução gradual tem sido objetivo do PROCONVE, o programa brasileiro de redução de emissões, e os seus estágios futuros exigirão uma redução ainda maior. A Petrobras faz sua parte, uma parte importante na medida em que possibilita a introdução de tecnologias mais avançadas nos motores dos veículos a diesel.

A questão importante é saber por que grande parte das empresas desse setor tem, de uns anos para cá, adotado uma postura mais ambientalmente responsável.

A crescente conscientização da população sobre os danos que as operações das petroleiras causam tem levado à criação de mecanismos para cobrar o custo desse estrago, que era quase sempre absorvido pela sociedade. Isso acontece tanto pelo lado regulatório quanto pelos tribunais e pela pressão dos investidores exigindo transparência cada vez maior para os ivos ambientais. O que essas empresas recém-convertidas para a crença da sustentabilidade estão buscando é a sua própria sobrevivência.

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