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Visita de onça-pintada, em parque nacional, é coisa de se receber com foguete. Mas a circular número 125, disparada esta semana no Iguaçu, dá nova interpretação ao estrondo de festa junina.
Seu texto ensina os moradores e funcionários da unidade de conservação a lidar com o bicho, se ele vier com excessos de intimidade para junto das pessoas. Lembra que as crianças não devem zanzar lá dentro sozinhas. Recomenda acompanhá-las “aos pontos de embarque do transporte escolar”. Andar sempre em grupo, mesmo de dia. Manter as luzes acesas fora de casa à noite. E dormir sob o mesmo teto com os animais domésticos, para evitar que eles sirvam de isca à onçada. Tudo isso sem esquecer “que o parque é o ambiente natural das onças e nós devemos buscar uma convivência pacífica com elas”, como já avisava, em ofício do ano ado, o chefe de conservação e manejo Apolônio Rodrigues.
As novas instruções, assinadas pelo diretor Jorge Pegoraro, vão mais longe. Elas acompanham a distribuição, “a cada família”, de quatro rojões, desses de três bombas. Ensinam a usá-los num regulamento que cobre desde os cuidados com explosões acidentais e incêndios até as condições para detoná-los. Isto é, “só quando tiver certeza” de que as onças estão rondando. De preferência, se “estiver efetivamente vendo os animais, para que eles saibam exatamente de onde vieram as explosões e a em a evitá-las”.
Manda não apontar “os foguetes diretamente sobre os animais”, para “afugentá-los sem provocar ferimentos”. E, se possível, gritar ou bater as, “para reforçar o efeito negativo dos fogos”. Cada peça disparada terá que ser devolvida com as devidas explicações. Em outras palavras, não se trata de uma declaração de guerra às onças, que são poucas no parque e extintas na vizinhança. É o começo de um programa para “assegurar uma convivência pacífica dos moradores e usuários” com esses e outros carnívoros, porque o Iguaçu existe para “conservar a fauna e a flora locais”.
A circular fecha a inesquecível temporada do verão de 2010 em que todo mundo parecia ter direito a ser a “sua” onça-pintada nos arredores das cataratas, inclusive a gerente de uma joalheria da H. Stern que funciona no Porto Canoas, logo acima dos saltos. Um guia de turismo (atenção: está é uma correção feita pelo leitor Davi Rocha, onde estava escrito, erradamente, guia turístico) filmou a onça ando por ele à luz do dia, por mais de três minutos, com seu telefone celular. Um empregado do Hotel das Cataratas, carregado de colchonetes, esbarrou com ela atrás da piscina. Um guarda encontrou-a na escadaria da sede istrativa. Um funcionário do parque flagrou-a na varanda de casa, aparentemente de olho em seu cachorro.
Onça demais? Quem dera. Até prova em contrário, elas estão em retirada, com população em rápido declínio. Se tanta gente de repente deu para ver tão pouca onça foi miragem criada por uma dupla de Panthera onca. “Dois jovens machos”, separados há pouco da mãe e ainda “aprendendo a viver por conta própria”, estariam explorando o território. E, como as cotias, os quatis e os veados mateiros, parecem apreciar o movimento na área de uso intensivo do parque. Criados por ali, cresceram mais ou menos “indiferentes à presença humana”, e até atraídos pelas edificações por “sua enorme curiosidade natural”.
O foguetório é sua ordem de dispersar. Mas também serve para comemorar o progresso do parque. Não vai tão longe assim o tempo em que a istração recebia a bala as onças que davam o ar de sua graça nas Cataratas. O Iguaçu estava reservado ao turismo e à recreação humana.
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