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Ecoturismo na Ilha da Magia 2e1144

Em vez de bem utilizá-lo no turismo, é triste assistir a destruição do maior tesouro de Florianópolis ou Santa Catarina: a sua natureza.  

22 de agosto de 2011 · 14 anos atrás
  • Maria Tereza Jorge Pádua 6y6y4o

    Engenheira agrônoma, membro do Conselho da Associação O Eco, membro do Conselho da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Nat...

 

Baleia Franca na costa de Santa Catarina. Crédito: Marcos Nunes (marcosnunes.net)
Baleia Franca na costa de Santa Catarina. Crédito: Marcos Nunes (marcosnunes.net)
É triste a gente assistir a destruição paulatina do que Florianópolis ou Santa Catarina têm de melhor e mais bonito: sua natureza. Esses dias mesmo a mídia deu fartamente a notícia de que Florianópolis é uma das cidades que mais planta árvores no mundo. É realmente de arrepiar, pois parece uma piada de mau gosto. Porque plantar uma ou outra árvore enquanto se desmata e se queima milhares por dia, enquanto se sobe os morros com mais casas e casebres, destruindo tudo que há pela frente? Enquanto se aterram os mangues, as nascentes e se destroem as restingas, a mata atlântica, as araucárias para fazer condomínios de luxo e chamados de ecológicos e assim por diante?  Parece que o jeito é a gente rir. Mas o importante mesmo é dar opções aos prefeitos e demais autoridades constituídas do que se pode fazer para reverter o quadro da destruição e se ganhar ou se desenvolver com as alternativas.

Uma delas sem sombra de dúvidas é o ecoturismo bem feito, bem planejado, bem executado. Por aqui não se faz isto. O desenvolvimento aqui sempre é entendido como mais construções, mais aterros, mais estradas, mais shoppings, mais portos, mais navios com milhares de turistas e quase tudo anárquico feio e sujo. Um dos bons exemplos é a praia do Pântano do Sul onde os golfinhos se enredam nas redes de pescadores, não obstante todo o interesse que os bichos despertam mais que tudo nas crianças. A bela praia é o caminho de caminhões de entrega de gás, com seu ruído característico, outros caminhões de entrega de produtos aos bares e restaurantes locais, e os carros dos residentes e dos turistas. Pântano do Sul é um exemplo de tudo que não se deve fazer em uma praia, ou, ao contrário, de como tornar feio e sujar um local que, sem os desmandos, seria paradisíaco.

Como todo mundo sabe a Ilha da Magia enche no verão por quem busca belas praias. Assim a cidade tem uma infraestrutura turística até que razoavelmente adequada, em termos de hotéis, pousadas e restaurantes caros. A Serra do Estado de Santa Catarina enche no inverno por quem quer ver neve.

No inverno as praias ficam vazias e a infraestrutura subutilizada. No verão penam as cidades da serra.

Baleias Francas

Por mais que se escreva não há como fazer as autoridades constituídas entenderem que, por exemplo, é no inverno que chegam aqui em nossas praias as maravilhosas baleias francas  para procriarem e amamentarem seus filhotes e que ver baleias francas com suas crias é algo muito especial, excitante e raro e que por estes mesmos motivos a avistagem das baleias poderia desenvolver ou contribuir com milhões de reais se tudo fosse bem organizado e factível. Não se precisa muitos recursos de investimentos. É bem mais fácil do que se pode pensar. Os recursos (as baleias) aí estão de julho até outubro. É só alguns prefeitos viabilizarem algumas trilhas, mirantes, guias e a informação diária onde estão os imensos mamíferos. Ontem mesmo eu as vi dando um show maravilhoso na praia de Gamboa, no município de Paulo Lopes, à uma hora de Florianópolis. É a terceira vez que vou vê-las no mesmo local este ano e levo filhos, netos, parentes e amigos. Meus amigos ontem ficaram extasiados com o espetáculo. Para vê-las de cima em um costão adentramos em uma propriedade particular onde há gado. O proprietário, boa gente, não se incomoda que alguns turistas cheguem por lá. Ele e a prefeitura de Paulo Lopes poderiam colocar uns cartazes, fazer uma trilha adequada, um mirante e alguma propaganda e ter centenas de turistas por dia enquanto as baleias francas lá estão amamentando seus filhotes, ou seja, de julho até outubro. Mas isso é verdade para Siriú, Garopaba e muitas outras praias. Em Garopaba e Imbituba, dentro da APA da Baleia Franca existe algumas empresas que fazem a avistagem por embarcações. Mas nada impede que aqueles que queiram gastar menos e vê-las por terra, possam fazê-lo com toda a tranquilidade possível. As prefeituras e os proprietários das terras particulares poderiam claro, cobrar ingresso para que os turistas adentrassem em mirantes e trilhas adequados.

O monitoramento de onde elas estão dentro dos limites da APA da Baleia Franca é feito pelo Projeto Baleia Franca, e está disponível na internet, mas fora dos limites da APA, por exemplo, na Ilha de Santa Catarina ou Florianópolis, por incrível que possa parecer o monitoramento não é feito. Há países onde a avistagem de baleias traz recursos de milhões de dólares e nós aqui em Santa Catarina desprezamos este recurso natural que aí está à nossa disposição para se desenvolver algumas cidades e bairros.

O exemplo da baleia é gritante, no que concerne ao ecoturismo, mas poder-se-ia acoplar ao mesmo a disponibilidade de se ver os lanços e as pescas da tainha e da anchova. Sobre as baleias francas já escrevi aqui mesmo no oeco a matéria Baleias Desprestigiadas em Santa Catarina e nada aconteceu, mas vou continuar a bater na tecla. Quem sabe os prefeitos ou o governador me chamem para dar uma sugestão sobre o assunto? Ou quem sabe vão estar informados das matérias do oeco sobre as suas possibilidades de ecoturismo em seu privilegiado estado?

Papagaios e o Tabuleiro

Na Serra em Urupema, a partir de março chegam os milhares de papagaios charões e este fenômeno significa a maior concentração de papagaios do mundo, mas ninguém vai vê-los ou sabe sobre o fenômeno natural. Só sabem comer e disputar os pinhões com os belos papagaios. Não vou me deter sobre os papagaios, pois recentemente já publiquei uma coluna aqui mesmo sobre o assunto A Visita Anual dos Papagaios.

Outra possibilidade de ecoturismo no nariz das autoridades é a do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, com seus 70.000 hectares de mata atlântica, completamente abandonado à própria sorte. Não há como visita-lo em sua parte alta, não obstante todo seu enorme potencial. Não há trilhas guiadas para se ver suas cachoeiras, seus animais raros e ameaçados de extinção ou endêmicos, não há observadores de aves, nem guias preparados, nem centro de visitantes, nem nada. Porque deixar-se um Parque desta magnitude absolutamente sem uso turístico? Para que continuem invadindo, diminuindo de tamanho, queimando, caçando, coletando palmito e fazendo toda série de desmandos e irregularidades possíveis?

Acordem autoridades de Santa Catarina. A natureza lhes presenteou com recursos naturais únicos e magníficos. Porque insistem em jogá-los no lixo? É só displicência ou é falta de conhecimento ou é, também, o querer o desenvolvimento a qualquer custo que só pode favorecer os corruptos?

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