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Do Peabiru à Trilha Inca, caminhos que conectam as unidades de conservação da América do Sul 59k67

Fragmentação das unidades de conservação e o uso de trilhas de longo curso como ferramentas de conservação foram amplamente debatidos no último Congresso de Áreas Protegidas da América Latina e Caribe

28 de novembro de 2019 · 5 anos atrás
  • Pedro da Cunha e Menezes 5y1z13

    Fundador da Trilha Transcarioca e Diretor da Rede Brasileira de Trilhas.

Qapac Nan, no Peru. Parte da Gran Ruta Inca, cujos 6000 km são Patrimônio Mundial da Humanidade. Foto: Pedro da Cunha e Menezes.

No último Congresso de Áreas Protegidas da América Latina e Caribe (CAPLAC), que teve lugar em Lima em outubro, um dos temas mais debatidos foi a crescente fragmentação das unidades de conservação. Nesse contexto, pela primeira vez em nosso continente, foi amplamente discutido o uso de trilhas de longo curso como ferramentas de conservação, com aplicação direta para a conectividade de paisagens. Para se ter uma ideia de como o tema esteve presente no Congresso, somente a Rede Brasileira de Trilhas e as trilhas que a formam foram apresentadas em cinco painéis diferentes.

O CAPLAC também se destacou por ser anfitrião do primeiro encontro latino americano de trilhas de longo curso, organizado pelo Grupo de Especialistas em Trilhas de Longo Curso da UICN em parceria com o Grupo de Especialistas em Turismo em Áreas Protegidas, representado pelo analista ambiental do ICMBio  Thiago Beraldo, e pelo Escritório da UICN no Brasil, por meio de Tito Rugnitz.  A reunião contou com especialistas chilenos, argentinos, peruanos, equatorianos, paraguaios e, naturalmente, brasileiros e traçou as bases conceituais para que, a exemplo dos Estados Unidos, da Europa e da recém gestada Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso, seja criado um sistema de trilhas de longo curso em nossa região, calcado em três pilares: (1) conectividade e conservação; (2) recreação e sensibilização ambiental e (3) geração de emprego e renda. O encontro gerou a “Declaração de Lima sobre Trilhas de Longo Curso”, de   cujo teor merece ser destacada a proposta que as Trilhas de Longo Curso sejam reconhecidas como categoria de Unidade de Conservação. A Declaração deve subsidiar futuras decisões da UICN sobre o tema:

“Nós, profissionais envolvidos com a temática de uso público e trilhas, reunidos sob a convocatória e liderança do Grupo de Especialistas em Trilhas de Longo Curso da Comissão de Áreas Protegidas da UICN, no marco do III CAPLAC, em Lima, Peru, de 14 a 17 de outubro de 2019, aqui reunidos:

Considerando a exitosa experiência de redes nacionais de trilhas de longo curso nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e no âmbito da União Europeia, entre outros países,

Considerando o desenvolvimento incipiente de projetos de trilhas de longo curso na América Latina de no Caribe,

Considerando a diminuição de espaços de recreação e de educação em contato com a natureza,

Considerando a importância do resgate cultural e patrimonial de antigos caminhos pré-colombianos e coloniais em nossa região,

Considerando que as trilhas, antigas ou novas, constituem infraestruturas que proveem serviços como recreação, saúde, educação, sensibilização ambiental e cultural e geram emprego e renda,

Considerando que a fragmentação de habitats é um dos problemas mais preocupantes para a conservação da natureza e sua biodiversidade:

Exortamos os Governos e respectivas entidades responsáveis por unidades de conservação na América Latina e Caribe a:

    1. Reconhecer o valor das trilhas de longo curso como ferramentas de conservação e conectividade de paisagens, gerando recreação, educação, emprego e renda, valorizando o modo de vida rural e criando corredores também íveis de utilização pela fauna silvestre,
    2. Estabelecer políticas nacionais e subnacionais, legalmente instituídas, de redes de trilhas de longo curso com o objetivo de conectar áreas protegidas e outros fragmentos de áreas naturais,
    3. Reconhecer as trilhas de longo curso como categoria de manejo de unidade de conservação incluídas no ordenamento territorial de suas respectivas regiões,
    4. Ao implementar tais redes de trilhas de longo curso, levar em conta suas dimensões: sócio-cultural, educacional, recreativa e econômica (geração de emprego e renda),
    5. Destinar recursos públicos e pessoal para o desenho, construção e manutenção dessas redes de trilhas de longo curso,
    6. Planejar a sinalização das redes de trilhas de longo curso de maneira homogênea, para facilitar sua utilização pelo público e criar uma simbologia de sistema,
    7. Fomentar o envolvimento da sociedade civil, do voluntariado, das comunidades locais e da iniciativa privada no planejamento, desenvolvimento e gestão das redes de trilhas de longo curso, fortalecendo as instituições que já trabalham com a temática,
      Planejar as redes de trilhas de longo curso nacionais de maneira que se interconectem com as redes de trilhas de longo curso dos países vizinhos.

Brasil e nos países vizinhos o tema das redes de trilhas de longo curso como ferramentas de conectividade e de conservação está mais forte que nunca e deve voltar a ser debatido com substância, no Congresso Mundial de Trilhas, organizado pela World Trails Network, no Nepal em setembro de 2020.

Caminho Inca: Foto: Pedro da Cunha e Menezes.

 

As opiniões e informações publicadas na área de colunas de ((o))eco são de responsabilidade de seus autores, e não do site. O espaço dos colunistas de ((o))eco busca garantir um debate diverso sobre conservação ambiental.

 

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Comentários 3 2j4w2q

  1. Pedro Cunha Menezes diz:

    Prezada Carla, o portal da transparência está aí para isso. Eu e mais de 30 servidores do ICMBIO fomos ao Congresso Latino americano de áreas protegidas pagando do próprio bolso e usando nossos dias de férias

    Isso chama-se dedicação ao serviço público. Se quiser se juntar a nós o concurso é público e aberto a todos os brasileiros.


    1. Carla diz:

      Ainda bem que foi nas férias e pagando do bolso. Estranho seria ir usando dinheiro público considerando que sua atribuição tão dedicada como diplomata não é essa. Se quiser ter o hobby de ambientalista, faça nas horas vagas.


  2. Carla diz: