Colunas

Inteligência Artificial e meio ambiente 632w4m

É fundamental que nossos es públicos compreendam que os ponteiros não devem contabilizar degradação como em plano infinito, mas apontar sua realidade ecossistêmica

8 de maio de 2023 · 2 anos atrás
  • Carlos Bocuhy 74u54

    Carlos Bocuhy é presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam)

 “Embora problemas e catástrofes possam ser inevitáveis, soluções não o são” –  Isaac Asimov, escritor

A ampliação da escassez nos serviços ambientais implica maior valia dos ativos ambientais remanescentes. A perda de 10.362 km² da Floresta Amazônica registrada oficialmente no último ano irá alterar a importância de cada árvore que está sendo cortada em 2023.  A cada ano os atributos ambientais remanescentes apresentam maior valia. Como dimensionar este elemento subjacente à realidade que, em essência, representa a própria sustentabilidade?     

David Jensen, coordenador do subprograma de Transformação Digital do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), refere-se às expectativas com relação à Inteligência Artificial (IA) em sua utilização na área ambiental: “Sistemas ou máquinas que executam tarefas que normalmente exigem inteligência humana e podem se melhorar iterativamente ao longo do tempo, com base nas informações que coletam”.

Devemos estar atentos para a correta interpretação das perdas ecossistêmicas. É preciso evitar contas rápidas que se repetem ano após ano, apenas com o uso mais simples da IA. Monitorar e divulgar o desmatamento em km² é importante e necessário. Especialmente na realidade dos trópicos, onde áreas protegidas são essenciais para proteção da profusão de vida e de serviços ecossistêmicos, é preciso avaliar a capacidade estatal para conter a degradação florestal, aprimorando a eficácia dos órgãos responsáveis pelo controle frente à pressão da criminalidade ambiental. 

O serviço tecnológico prestado pelo Inpe em geoprocessamento é vital para a proteção do meio ambiente no Brasil. Faz leitura o a o da intensidade das forças destrutivas, sejam naturais ou antrópicas, que pressionam o patrimônio ambiental representado na Floresta Amazônica, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal, Caatinga e Pampas.  

Ocorre que a interpretação desses dados, ao reportar-se comparativamente aos meses e anos anteriores, não permite à sociedade visualizar a realidade ecológica subjacente, vital, ecossistêmica e em processo de inflexão. Isso exige aprofundamento para além da contabilização em números.

Buscar soluções para a gradual falência ecossistêmica em curso dependerá da compreensão correta sobre os efeitos. Um velho ditado empresarial afirma: “Não podemos gerir o que não medimos”.  Mover políticas públicas exige boa mensuração que irá motivar e justificar investimentos expressivos. Dessa forma, é preciso dimensionar corretamente a nociva intervenção humana sobre a realidade natural, reconhecendo sua essência, suas funções e efeitos sinérgicos na realidade biofísica, bioquímica e sobre as espécies vivas. 

Uma definição didática sobre o estoque de recursos naturais e seus serviços é promovida pela Conservation International, ao definir Capital Natural: “É o estoque de recursos naturais renováveis e não renováveis (por exemplo, plantas, animais, ar, água, solos, minerais) que quando combinados proporcionam benefícios às pessoas”. 

Especialistas que são referência histórica e internacional têm sinalizado considerar os princípios do Capital Natural como a forma mais adequada para compreender, conceitualmente, a escassez da natureza, conforme reitera em pensamento muito bem vertebrado o autor de “Brasil – O Capital Natural”, Mauro Victor.

Por ocasião da reunião em que participamos com o “Rainforest Project”, na Clarence House, em Londres, havia um único livro na estante da sala de reuniões: “Natural Capital”, em demonstração explícita da cultura advinda da escola darwiniana, sinalizando as tendências da nova geração da coroa britânica, que conta com conselheiros científicos do peso como Nicholas Stern, que defende alterações profundas e ecossistêmicas na compreensão entre economia e ambiente.  

A Universidade de Stanford (Ca-USA) traz a seguinte observação em seu Natural Capital Project: “Os ecossistemas do mundo podem ser vistos como ativos de capital; se bem manejadas, suas terras, águas e biodiversidade produzem um fluxo de serviços vitais de e à vida. Em relação a outras formas de capital, o capital natural vivo é pouco compreendido e sofre rápida degradação. Muitas vezes, os benefícios que a natureza gera são amplamente apreciados apenas após sua perda”. 

Existe uma clara discrepância entre Capital Natural e o pragmatismo econômico do business as usual que se aplica à lei da escassez, a istrar o que tem à mão: “Produzir o máximo de bens e serviços a partir de recursos escassos disponíveis”.

Ocorre que serviços ecossistêmicos não seguem as mesmas regras de produção. Mantêm-se dentro dos ciclos naturais, em escalas locais, continentais ou globais. Como potencializar os efeitos dos rios voadores da Amazônia em seus benefícios continentais? 

A sociedade pode trabalhar eliminando vulnerabilidades com adequada gestão de seu território, mas serviços ecossistêmicos permanecem na condição de insumo natural. Ou seja, uma massa florestal irá sequestrar carbono na medida que seu volume determina — e irá promover chuvas na medida de sua capacidade de evapotranspiração. 

A perspectiva de uso em escala ampliada da geoengenharia tem patinado na insegurança de efeitos colaterais imprevisíveis e de altíssimo risco ao lidar com aspectos naturais em amplitude global. Exatamente por este motivo o tema fica ainda distante dos relatórios do Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC): “Observar o que está acontecendo no clima requer observações feitas a partir de órbitas altas, das profundezas do oceano e de todos os tipos de lugares intermediários, bem como modelos que esticam os poderes dos supercomputadores mais importantes”.

O que esperar da ação governamental para ampliar a percepção natural ecossistêmica?  Não há dúvida de que o primeiro o é a transparência de dados com correta metodologia, permitindo que a degradação ambiental seja traduzida para a sociedade brasileira, de forma a refletir riscos e impactos na realidade, expressos nas alterações da qualidade de vida da população. 

Recentemente o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) apresentou estudo que estima perda econômica para o Brasil de quase um trilhão de reais com a savanização da Amazônia, reiterando um apelo de ação coordenada dos países amazônicos para proteção ecossistêmica.   

Dessa forma, é fundamental que nossos es públicos compreendam que os ponteiros não devem contabilizar degradação como em plano infinito, mas apontar sua realidade ecossistêmica. 

Para os governos, cabe inicialmente a tarefa de total transparência, conferindo o devido peso à ação e à inação do Estado, inclusive em suas consequências, demonstrando de forma pedagógica ao povo, diretamente interessado, o que se está fazendo para garantir sua condição de sobrevivência, no sentido da real sustentabilidade.

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

Leia também 84q8

Colunas
25 de abril de 2023

Na antessala do colapso climático o735h

Os sinais de colapso climático trazem à baila o grande problema para a sobrevivência da humanidade: a segurança hídrica, alimentar, e a prevenção das migrações em massa

Notícias
5 de abril de 2023

Inteligência artificial e bioquímica a serviço da Amazônia 376037

Iniciativa do Google com The Nature Conservancy no Brasil quer rastrear a origem da madeira ilegal comercializada a partir da Amazônia

Colunas
6 de abril de 2023

O Brasil na mira da regularidade ambiental chinesa 2m5m3v

De olho no mercado chinês e suas recém adquiridas preocupações ambientais, Brasil deve adequar suas cadeias de produção de carne e soja

Mais de ((o))eco 6q6w3q

conservação 4y3hz

Notícias

PV questiona no STF lei estadual que flexibiliza proteção ambiental em Rondônia 172e6b

Salada Verde

Agenda do presidente definirá data de anúncio do plano de proteção à biodiversidade 1x2p2z

Reportagens

Maior área contínua de Mata Atlântica pode ser mantida com apoio do turismo 1525x

Salada Verde

Evento no RJ discute protagonismo da juventude no enfrentamento da crise climática 5o3n5g

política ambiental 6v2p2j

Salada Verde

Veja como votou cada senador no projeto que implode o licenciamento ambiental 224w5g

Notícias

Com mudanças de última hora, projeto-bomba do Licenciamento é aprovado no Senado 4h5y5t

Notícias

Degradação da Amazônia cresce 163% em dois anos, enquanto desmatamento cai 54% no mesmo período 1b2369

Notícias

PV questiona no STF lei estadual que flexibiliza proteção ambiental em Rondônia 172e6b

Caixa Postal 352x2y

Análises

Os oportunistas da notícia 152q3o

Análises

O MT Ilegal 14525b

Análises

Cadâ a pressa da licença ambiental? 6m2x2h

Análises

Biomas esquecidos 4z2q5k

fauna 1xr1c

Notícias

A incontável diversidade de aves em Bertioga, no litoral de SP 40291e

Notícias

Petrobras avança mais uma etapa no processo para exploração da Foz do Amazonas 363h63

Salada Verde

Ação prende casal que capturou macaco-prego no Parque Nacional da Tijuca 6j353g

Salada Verde

Plataforma aborda tráfico de animais em três países 4m829

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.