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Morte da sucuri Anajulia (Vovózona) liga alerta na comunicação científica  685f52

O sensacionalismo nos impõe um dilema: se por um lado corrói a credibilidade e piora o debate público, por outro pode causar mobilização suficiente para fazer as autoridades agirem

28 de março de 2024 · 1 anos atrás
  • Francisco Figueiredo 4a275g

    Divulgador científico e diretor de estratégia da Agência Índica

Na segunda feira (25), a internet foi inundada por videos divulgando o suposto assassinato da sucuri vovózona – também chamada de Anajúlia, a mais famosa sucuri do mundo e uma das maiores mais registradas. A informação, divulgada por um fotógrafo de vida selvagem que acompanhava a serpente há 10 anos, era de que o animal havia sido morto a tiros.

Depois da divulgação desse fato no domingo (24), diversos criadores de conteúdo utilizaram suas redes para disseminar a informação, agindo mais rápido que todos os veículos de mídia, que também divulgaram a informação. Acontece que nas redes sociais o mais importante é a velocidade de postagem: o primeiro a publicar o vídeo costuma ser o que mais recebe visualizações.

Esse fato sempre me incomodou, e colecionamos razões para mudar essa lógica. A página Choquei, uma das maiores disseminadoras de fake news da internet, se gaba de ser “a sua fonte de notícias mais rápida”. A checagem das informações adas fica em segundo plano, já que o tempo necessário para confirmações reduziria o número de visualizações do conteúdo e, além disso, o sensacionalismo é um dos artifícios mais eficientes para a viralização de conteúdos. Difundir a notícia como “existe a suspeita de que a serpente tenha sido morta a tiros” ou “ATIRARAM NA VOVOZONA, OLHA QUE ABSURDO” tem pesos muito diferentes, e isso determina o alcance do vídeo. 

Uma perícia foi realizada e, apesar do laudo oficial ainda não ter sido divulgado, já nos foi afirmado que não havia nenhuma marca de bala no animal. Além disso, em live realizada na quarta feira no perfil do Biólogo Henrique, vencedor do prêmio Ibest deste ano na categoria “meio ambiente e sustentabilidade”, uma perita que trabalhou no caso afirmou que não foram encontradas nenhuma marca de agressão de qualquer tipo com o animal, e que tudo indica que a Vovozona morreu de causas naturais. 

Considero isso uma grande lição para todos que, assim como eu, criam conteúdo sobre ciência para a internet. Apesar de não ter gravado vídeo sobre o assunto, divulguei os vídeos dos meus colegas nos stories e acreditei fielmente na informação. A partir de uma informação preliminar sem nenhuma garantia de veracidade, os influenciadores rapidamente difundiram uma informação falsa, e os canais de notícias acompanharam. Divulgar ciência exige muita responsabilidade, e a raiva de se deparar com uma notícia dessas evidentemente gera vontade de disseminar essa informação. Nessas horas, é necessário também fazer o que sempre fazemos: questionar a veracidade da informação, e apenas divulgá-la como certa em caso de confirmação.

Fato é que a notícia de que a sucuri morreu de causas naturais não chegará a tantas pessoas quanto a notícia de que ela teria sido baleada chegou. Porém, há um outro lado nessa conversa: Conteúdos sensacionalistas atingem maior público na internet, caso esse caso fosse divulgado com um grande ponto de interrogação no que de fato havia acontecido, o estardalhaço seria consideravelmente menor. Acontece que esse estardalhaço gerou um boletim de ocorrência sobre o caso, o que possibilitou que a Polícia Militar Ambiental de Mato Grosso do Sul (PMA)  averiguasse as reais causas da morte do animal. Além disso, o sinal de que a internet é capaz de realizar uma mobilização desta magnitude pelo assassinato de um animal me parece uma excelente notícia, e algo que deve ser explorado em próximas ocasiões, mas, claro, com mais responsabilidade. 

No final, uma desinformação foi divulgada a milhões de pessoas, mas apenas por essa razão pode ser descoberta as reais causas da morte da serpente. 

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

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