Colunas

O árduo caminho para proteger o pato mergulhão 2x6c56

Projeto do Instituto Terra Brasilis, na região da Serra da Canastra, busca proteger esta que é uma das dez espécies de aves mais ameaçadas do mundo.

3 de novembro de 2015 · 10 anos atrás
  • Adriano Gambarini 3j386v

    É geólogo de formação, com especialização em Espeleologia. É fotografo profissional desde 92 e autor de 14 livros fotográfico...

Foto: Adriano Gambarini
Pato-mergulhão, uma das dez espécies de aves aquáticas mais ameaçadas do mundo. Fotos: Adriano Gambarini

O cenário parece perfeito. Um imenso paredão de rocha acortina um rio de águas cristalinas. A mata ciliar acompanha suas margens protegidas, enquanto blocos de pedra formam agitadas corredeiras e grandes poços de água fria são povoados por milhares de ligeiros lambaris. Um casal de aves nada tranquilamente e se camufla à sombra da vegetação, esperando o tempo certo para mergulharem e se deliciarem na fartura de peixes. Há cerca de dois meses aconteceu o nascimento de filhotes desta que é uma das aves mais iradas por ornitólogos e observadores de aves. Tudo corre bem nesta história, exceto pelo fato de que esta ave aquática é considerada uma das dez mais ameaçadas do mundo. Exigente por águas límpidas e cristalinas, luta para sobreviver num ambiente assolado por desmatamentos, assoreamento dos rios, expansão agropecuária e humana, detritos químicos e esgotos.

Foi neste contexto que o Instituto Terra Brasilis seguiu para região da Serra da Canastra, em Minas Gerais para pesquisar o raro pato-mergulhão (Mergus octosetaceus). Montou uma equipe permanente de biólogos em São Roque de Minas, dando início a uma série de atividades educativas e pesquisas com observação diária da espécie em campo. Buscou novos registros de distribuição do pato-mergulhão em diversos rios e tributários, tomou medidas estratégicas para conservar a espécie e estabeleceu propostas de recuperação de nascentes e mata ciliar com os proprietários rurais. Uma intenção audaciosa que começou em 2001 e desde então colheu muitos frutos, algumas pedras no meio do caminho (ou do rio), mas também muito conhecimento. Certamente um dos trabalhos mais incríveis realizados pela equipe começou há 8 anos, com a primeira captura do pato-mergulhão no mundo, para coleta de dados biométricos, colocação  de anilhas e radiotransmissores. Desta forma poderiam ter mais informações sobre a ecologia da espécie, dispersão dos filhotes, uso de território, formação de casais e uma série de dados importantes para sua conservação.

Galeria
[roksprocket id=”16″]

“Há cerca de dois meses aconteceu o nascimento de filhotes desta que é uma das aves mais iradas por ornitólogos e observadores de aves.”.

Há cerca de uma semana tive a oportunidade de fotografar pela terceira vez uma captura, atividade inserida no projeto “Pato Aqui, Água Acolá”, com patrocínio da Petrobras. Foram 7 dias de atividades no Rio São Francisco, próximo à famosa cachoeira Casca D’anta, no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra.

O trabalho consiste em localizar a família ou casal de patos de interesse, o que já não é tarefa nada fácil. Enquanto alguns membros da equipe seguem a pé ou de caiaque em busca visual, o resto se posiciona em lugares a jusante desta área, prontos para rapidamente instalarem as chamadas redes de neblina, próprias para captura de aves. Se os patos voarem em direção à rede e forem capturados, o que muitas vezes não acontece, começa a contagem regressiva para retirá-los  e dar início à biometria e análise das condições físicas do animal. Coleta de sangue é feita por um veterinário, enquanto diversas medições são realizadas pelos biólogos. A última etapa consiste em colocar anilhas coloridas e um radiotransmissor na cauda da ave.

O Instituto Terra Brasilis já realizou oito campanhas de captura totalizando cerca de 60 aves marcadas.  E justamente por conta desta marcação, descobriram, dentre outras informações, como as aves utilizam o território, para onde os jovens se dispersam, identificaram a formação de grupos mistos de jovens e conseguiram confirmar a reutilização de ninhos pelo mesmo casal ao longo de vários anos. Assim, conseguiram inclusive estimar a idade de alguns indivíduos. A partir desta pesquisa é possível estabelecer propostas para conservação e manejo da espécie, buscando garantir a qualidade do ecossistema e, sobretudo, da água.

Assista ao vídeo da soltura

 

 

Leia também
Filhotes de pato-mergulhão nascem em cativeiro
Guia: Aves do Cerrado
Novo esforço pode devolver ararinha-azul à natureza

 

 

 

Leia também 84q8

Reportagens
12 de junho de 2012

Novo esforço pode devolver ararinha-azul à natureza 5a6m5b

ICMBio traça plano com instituições privadas estrangeiras para devolver ave que é ícone da conservação à Caatinga, seu habitat de direito.

Notícias
7 de abril de 2015

Guia: Aves do Cerrado 462i1f

A dupla Renato Rizzaro e Gabriela Giovanka lança o pôster com belas imagens das aves que habitam a savana brasileira.

Notícias
29 de setembro de 2011

Filhotes de pato-mergulhão nascem em cativeiro 6z3b1e

Instituto de Poços de Caldas (MG) espera que sucesso permita aumentar números da espécie, considerado em perigo crítico de extinção.  

Mais de ((o))eco 6q6w3q

conservação 4y3hz

Salada Verde

Agenda do presidente definirá data de anúncio do plano de proteção à biodiversidade 1x2p2z

Reportagens

Maior área contínua de Mata Atlântica pode ser mantida com apoio do turismo 1525x

Salada Verde

Evento no RJ discute protagonismo da juventude no enfrentamento da crise climática 5o3n5g

Reportagens

Polícia do Amazonas aperta o cerco contra a exploração de animais silvestres 4b6y5s

aves 5q1863

Salada Verde

Plataforma aborda tráfico de animais em três países 4m829

Reportagens

O atobá quarentão que uniu gerações de pesquisadores 184h6e

Salada Verde

As incríveis revoadas de guarás no litoral paranaense 156fz

Reportagens

Soltar mais ararinhas-azuis é crucial para estabilizar população da espécie iz55

serra da canastra 6dh6d

Biblioteca

Lobos da Canastra 6r3120

Notícias

Diversidade de aves da Serra da Canastra é desvendada em livro 3v92l

Salada Verde

Uma sessão para o retalhe 5k1m4v

Reportagens

Canastra a um o do recorte 2w5j1h

clima e energia 4k2q1l

Notícias

Não cabe ao MMA definir o caminho da política energética brasileira, diz Marina Silva 1v3u43

Colunas

Nordeste Brasileiro: A Região esquecida no centro do debate climático 2p1x33

Colunas

Os desafios da diplomacia climática em 2025 3r3y3h

Reportagens

Congresso aprova marco da eólica offshore com incentivo ao carvão   6m6n3w

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Comentários 7 3z1l51

  1. Santino diz:

    que antes. Tão grande para encontrar outra pessoa com alguns pensamentos originais
    nesse assunto. Realmente .. tanque que você para começar isso.
    http://www.felizanonovo2017.org/2016/09/mensagem-


  2. Gabriel diz:

    Você é tão interessante! Eu não acho que eu realmente ler algo como
    que antes. Tão grande para encontrar outra pessoa com alguns pensamentos originais
    nesse assunto. Realmente .. tanque que você para começar isso.
    Este site é uma coisa que é neederd na web, alguém com um pouco
    de originalidade! http://www.felizanonovo.org/2016/08/feliz-ano-nov


  3. Arthur diz:

    Como realocar indivíduos se a população é tão reduzida? Devemos pensar também nas consequências dessa translocação. Não sabemos muita coisa sobre a espécie e por ela ser tão sensível, seria mesmo uma boa opção realocar? Seria viável ecologicamente?


    1. Zé Pereira diz:

      A perda de ninhos e ovos é uma realidade, em especial por predação e perturbação (turismo por exemplo). Em uma pesquisa que já leva anos poderiam estabelecer critérios para a coleta, em especial dos ninhos mais vulneráveis, para que a nidificação (chocadeira) e eclosão ocorresse em cativeiro. Talvez seria uma boa alternativa, para o estabelecimento de populações em cativeiro com vistas a futuras reintroduções.


      1. Marcelo Barbosa diz:

        Olá! Zé Pereira e Arthur,

        A iniciativa de uma futura reintrodução já é uma realidade. Hoje já contamos com 12 indivíduos em cativeiro, sendo da Canastra (2), Patrocínio – MG (6) e Jalapão (4), alguns nascidos em cativeiro oriundo de coleta de ovos, e um outro resgatado do rio, em situação debilitada. Infelizmente, alguns do ICMBio ainda não vê com bons olhos o processo de criação para o Programa de cativeiro e posterior reintrodução dos filhotes que um dia nascerão. Tanto é, que ainda não publicou instrumento que institui o Programa e essa demora prejudica o programa, que é previsto no Plano de Ação da espécie.
        Att,
        Marcelo


  4. paulo diz:

    Bom dia todos. É sabido que esta espécie ocorria no sul do Brasil,a registros, inclusive peça catalogadas.
    É sabido que ocorria na região do planalto sul de Santa Catarina. O Parque nacional de São Joaquim, possui ambiente de qualidade para a vivencia desta ave. Porque não a translocação de exemplares para esta unidade de conservação de proteção integral.
    O icmbio precisa a colocar em prática, as solicitações de repovoamento destas espécies em ambientes protegidos.
    No VIII CBUC ( congresso de unidades e conservação) que ocorreu em Curitiba, foram apresentados vários trabalhos neste sentido, sendo concordados elo icmbio de que é possivel estas ações. Então srs. sras. maõs a obra. Diagnósticos, estamos com milhares de informações, vamos para os tratamentos, as ações.


  5. Ebenezer diz:

    O vídeo é de "soltura", não "captura"!