De Joaquim Maia Neto
Analista Ambiental do IBAMA e Chefe do Parque Nacional da Serra da Canastra.
Com referência à carta de autoria de André Picardi, Secretário do Meio Ambiente de São Roque de Minas e Coordenador da Frente Popular em Defesa da Serra da Canastra, datada de 19.9.2006 e publicada em O Eco, tenho algumas considerações.
Em primeiro lugar, os números do incêndio apresentados pelo autor estão errados. Foram queimados 34.117,78 ha, que correspondem a 47,7% da área regularizada ou a 17,06% do total do Parque.
Ao contrário do que afirma o Secretário, a Superintendência do IBAMA em Minas Gerais se antecipou ao Ministério Público Federal e solicitou à Polícia Federal a instauração de inquérito para apurar responsabilidades. Os Policiais Federais estão na região procedendo às investigações. Uma equipe de especialistas do IBAMA já está colhendo informações visando a elaboração de Laudo Pericial. O Sr. Picardi sabe que existem inúmeras evidências que demonstram o caráter criminoso do incêndio, tanto que compartilha dessa tese, como expressado em sua carta.
Suspeitos serão apontados pela Polícia Federal no âmbito do inquérito e serão investigados. Isso não é leviano. Leviana é a atitude do Sr. Picardi ao generalizar a ação de um funcionário do IBAMA que, diga-se de agem, já está sendo apurada em sindicância. Faltou coragem ao autor da carta em apontar o nome do servidor. Sobrou irresponsabilidade ao tentar estender a ação de um servidor aos “funcionários do IBAMA”. Não é verdade que existem funcionários no Parque que se recusam a cumprir suas funções. Se o Sr. Picardi tem conhecimento de irregularidades, deveria, como cidadão, denunciá-las.
O que leva o coordenador da “Frente Popular” a misturar assunto tão distinto, como o problema de um servidor, ao incêndio no Parque? Seria para tirar o foco do verdadeiro problema?
A Canastra sofre ameaças de dentro sim. Como por exemplo, de servidores da Prefeitura de São Roque de Minas que, estando em serviço, cometem infrações istrativas ambientais, onerando os cofres públicos e prejudicando o meio ambiente.
É verdade que precisamos melhorar as ações preventivas. Porém quando criminosos orquestram um incêndio ateando fogo dentro do Parque em vários pontos simultaneamente, as ações preventivas, por melhores que sejam, ficam fragilizadas.
A Prefeitura de Sacramento colaborou no combate ao fogo. A prefeitura de São Roque preferiu assistir, mesmo tendo sido solicitado seu apoio. O IBAMA fez o que pôde para combater o fogo, com a ajuda da Polícia Militar e do IEF. Mobilizamos cinco aeronaves. Quando os órgãos municipais de meio ambiente ajudam, o prejuízo é menor. Talvez alguns não tenham interesse em realmente defender a Serra da Canastra.
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