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Antes de partir para mais uma caçada, desta vez na Namíbia (África), o engenheiro agrônomo e zoólogo João Carlos Carvalho recebeu O Eco em sua sala...

Aldem Bourscheit ·
14 de julho de 2008 · 17 anos atrás

Antes de partir para mais uma caçada, desta vez na Namíbia (África), o engenheiro agrônomo e zoólogo João Carlos Carvalho recebeu O Eco em sua sala no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, em Brasília. Gaúcho de Ijuí, viveu anos no Rio de Janeiro e outras cidades na carona da família de militares, inclusive em Manaus (AM). “Dei meu primeiro tiro aos oito anos”, conta o caçador.

Como você se interessou pelas caçadas?

Meu bisavô era Almirante e caçava, meu avô era Juiz de Direito e Delegado e caçava, meu pai tinha sangue de índio, era Coronel de Artilharia e caçava. Eu sou caçador e meus dois filhos caçam. Aprenderam comigo. É tradição familiar. É a cultura do caçador. Dei meu primeiro tiro aos oito anos.

No Brasil, onde você já caçou?

Em todos os estados brasileiros, quando era permitido. Depois, quando ficou ao Rio Grande do Sul, ia todo ano para lá. Gosto muito de caçar aves, de tiro ao vôo.

Em quais outros países já realizou caçadas? Que espécies se caçam?

Canadá, Estados Unidos, México, Ilhas Maurício, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Botswana, Zimbábue e África do Sul. Estou seguindo agora para a Namíbia. As caçadas incluem veados, marrecas, faisões, codornas e até perus selvagens. Fui a Cuba, mas não cacei, infelizmente. Lá há um sistema de manejo de fauna muito interessante, como em outros países socialistas. Fidel Castro adorava caçar, mas agora está velho. O país está abrindo as portas a alemães, ses e outros. Também fui à Europa, mas as taxas são muito elevadas e não cacei.

Como é a gestão da fauna que pode ser caçada e de quanto são os valores das taxas?

O preço é cada vez mais caro, porque há cada vez menos áreas verdes. Infelizmente porque nossa espécie está fugindo do controle. Estamos aumentando a população e nosso poder de transformar habitats. Sobre preços, para a viagem à Namíbia, por exemplo, gastarei as agens aéreas e a taxa de caça de US$ 200 mais uma quantia para cada animal abatido. Cada antílope custa US$ 300, pagos aos fazendeiros. As caçadas normalmente ocorrem em fazendas de gado. Eu não mato predadores, felídeos, nem cobras.

As expedições de caça são organizadas por agências?

Hoje há diversas agências especializadas em caça no mundo. Mas na Namíbia vou à fazenda de um conhecido. A área tem 20 mil hectares e permite o abate de 15% da população de antílopes por ano. O serviço de vida selvagem do país controla os abates e recebe recursos de cada fazenda. Em vários países funciona desta maneira. Na Namíbia a fauna pertence aos fazendeiros e as caçadas rendem mais que criar gado ou carneiro. E quem é dono toma conta. Na África se caça qualquer animal, basta pagar. Vários países têm estações de caça, como Estados Unidos, Canadá, Argentina, México e França. Até Portugal, pouco maior que Sergipe, tem áreas para caça de cervos, lebres, patos, faisões e outras espécies.

Como acabou a caça amadora no Brasil?

Você sabe que há gente que, se pudesse, caçava tudo, acabava com tudo. Principalmente na sociedade brasileira. Em 1980 houve uma reunião em Brasília com superintendes regionais do IBDF – Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Florestal. Havia pressão de ecologistas contra a caça amadora, que conseguiram meia-dúzia de s. Na época tínhamos no Brasil cerca de 120 mil caçadores registrados. Todo mundo proibiu, menos o Rio Grande do Sul. Os caçadores amadores de lá pagavam taxas, respeitavam as leis e cotas definidas pelo governo. Uma legislação de 1967 proibiu a caça profissional e permitiu a amadora, se as condições regionais permitissem.

Como assim?

Em casos de abundância de espécies. Hoje, por exemplo, as capivaras estão invadindo tudo em São Paulo, javalis e ratões do banhado multiplicam-se em outras regiões. Mas ecochatos criaram uma política de proibir tudo, o que leva à caça ilegal e ao tráfico. A ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) foi extinta na natureza por causa do tráfico. Hoje só existe na Malásia, onde a reproduzem em cativeiro.

Mas por quê se proibiram as caçadas, afinal?

Por que deixamos um órgão destinado a cuidar do manejo de fauna ser dominado por pessoas anti-caça. E trabalhar com fauna dá muito trabalho, é preciso amar a fauna. O Ibama só funcionará quando for dirigido por alguém que simpatize com a caça. No Brasil nada que é muito ecológico não funciona porque estamos filosofando sobre manejo sem o componente fauna, que interage com a vegetação, com a floresta, com tudo. Se fosse finge que não existe uma das pernas do manejo, ele fica capenga.

O que outros estados pensavam?

Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul planejavam abrir temporadas de caça. Nesses estados já havia fazendas de caça, com faisões, cervos. A vizinha Argentina exporta todos os anos 20 milhões de lebres oriundas da caça para a Europa. O cervo-vermelho e outras espécies foram introduzidas no país no início dos anos 1800. Hoje ela arrecada mais de US$ 1 bilhão anuais. Abater um cervo custa de três a quatro mil dólares.

Ambientalistas dizem que a caça amadora seria inviável frente à pressão que fauna já sofre pela caça ilegal, tráfico, poluição.

Você está brincado? É justamente a falta de regulamentação que leva à caça clandestina, que é cada vez maior. Se você quiser conservação ambiental tem que fazer as áreas gerarem dinheiro. O homem é um animal econômico.

Todos os animais abatidos são comidos?

Depois que se abate um antílope, por exemplo, se retiram os melhores cortes de carne, alcatra, filé. Animais como esse têm a mesma distribuição de cortes que um boi. O grande prazer de um caçador é, à noite, fazer um churrasquinho e tomar um bom vinho com o animal abatido. Mas você não é dono do animal. Couros e outras carnes são do dono da fazenda, que exporta para Europa e Ásia. Na China é moda usar tapetes com peles de zebra, gnu. As carnes servem restaurantes chiques em vários países do primeiro mundo. Hoje fazem sushi de carne de cervo.

A caça é um esporte?

Ela tem finalidades esportivas e desportivas, mas a caça é uma paixão, é instintiva. Nossa espécie se transformou no que é por meio da caça. Ela ajudou a desenvolver a linguagem nos primeiros humanos. Ou uma pessoa gosta ou não gosta. Eu não gosto de uma série de coisas, mas não proíbo ninguém de fazer. Eu não gosto de pescar, mas respeito os pescadores. Várias excursões saem de Brasília para pescar no Araguaia e no Pantanal. A caçada tem que proporcionar a emoção da perseguição.

Ela pode ajudar na conservação ambiental?

Tenha certeza. Conservação é uso sustentável e sábio. Enquanto fazendeiros não puderem manejar a fauna em suas propriedades, lucrando com outro produto da terra que não seja grãos, soja, não se conservará o Cerrado, por exemplo. Mas o Ibama não pesquisa fauna e não estimula a atividade. Hoje quem caça, caça o que pode, não o necessário ou permitido.

  • Aldem Bourscheit 2tg

    Jornalista cobrindo há mais de duas décadas temas como Conservação da Natureza, Crimes contra a Vida Selvagem, Ciência, Agron...

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