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Depois da lama, Campus Fidei pode virar bairro popular 3p3153

No local escolhido para a missa final do Papa na JMJ, governo quer minorar fiasco e erguer moradias populares em área de manguezal.

Daniele Bragança ·
29 de julho de 2013 · 12 anos atrás
Imagens tiradas no dia 19/07, das obras no Campus Fidei, em Guaratiba, onde o papa faria a vigília campal no sábado (27) e a missa campal, no dia seguinte (28). Foto: Tomaz Silva/ABr.
Imagens tiradas no dia 19/07, das obras no Campus Fidei, em Guaratiba, onde o papa faria a vigília campal no sábado (27) e a missa campal, no dia seguinte (28). Foto: Tomaz Silva/ABr.

Dados do Ministério do Meio Ambiente já mostravam que o terreno do Campus Fidei (latim para “Campos da fé”) é considerada de alto risco de alagamento. Localizado em Guaratiba, era lá o local previsto para a missa final do Papa na Jornada Mundial da Juventude. A chuva da semana ada transformou o terreno em um lamaçal e obrigou a mudança da missa para Copacabana. Agora, sob o pretexto de não desperdiçar o investimento feito em terraplanagem do terreno, o prefeito Eduardo Paes anunciou que quer erguer no terreno um novo bairro popular, através do programa Minha Casa, Minha Vida. O decreto com a desapropriação será publicado nesta terça, 30, no Diário Oficial do Município.

De acordo com o Ministério Público o terreno fazia parte de um mangue e não poderia ter sido aterrado. Entretanto, as obras para a realização da missa foram aprovadas pelo INEA.

Os dados do mapa abaixo foram retirados do documento “Risco à Inundação da Zona Costeira e Marinha do Brasil”, de 2009. Os pontos em azul claro representam risco Baixo e Médio; os pontos em azul escuro, como a região da área de 1,8 km2 (ou 180 hectares) do Campus Fidei, representam risco muito alto.

Os moradores do bairro de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, já estão acostumados com o alagamento. Mesmo com a terraplanagem do terreno, após 3 dias de chuvas, a água tomou conta do local. A igreja foi obrigada a transferir a festa para a praia de Copacabana.

O anúncio do novo bairro veio via twitter e depois confirmado por meio de entrevista coletiva. Segundo Eduardo Paes, a ideia partiu do arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, que queria que o local ficasse como um legado da visita do Papa à cidade. O novo bairro popular seria chamado de Campo da Fé/Papa Francisco. Mas, para especialistas, ainda é cedo para saber se terreno seria apropriado para edificações.

Representantes de empresas estão sendo ouvidas e o responsável pela licença de instalação concedida pelo Instituto Estadual do Ambiente (INEA) será chamado para prestar depoimento na Delegacia de Proteção do Meio Ambiente (DPMA). A licença venceu no último dia 19. José Fagundes, delegado titular da DPMA também aguarda o resultado da perícia realizada no local na última sexta-feira (26).

Durante entrevista coletiva realizada na tarde desta segunda-feira, o prefeito Eduardo Paes defendeu a organização do JMJ: “A Igreja fez tudo dentro das regras, pedindo as licenças necessárias. Inclusive, nas exigências da Secretária de Meio Ambiente, estava o cuidado com o manguezal que tem ali perto”, afirmou. Ao todo, a prefeitura gastou 26 milhões no evento JMJ, mas não revelou o valor gasto nas obras do terreno.

Desmate de 330 árvores em paróquia também foi polêmica

O terreno de Campus Fidei não é a primeira polêmica envolvendo meio ambiente com o evento católico. Há 10 dias do início oficial da Jornada Mundial da Juventude, a prefeitura de Niterói multou a Paróquia de São Sebastião de Itaipu, na Região Oceânica de Niterói, pelo desmatamento de 334 árvores da Mata Atlântica. A igreja limpou o terreno para celebrar uma missa campal durante a JMJ.

O INEA também obrigou a paróquia a apresentar um plano de reflorestamento da área, em prazo de um mês, contando a partir do dia 8 de junho.

Lixo recolhido em Copacabana é menor que Réveillon

Nem tudo é notícia ruim para o meio ambiente, quando se refere à Jornada Mundial da Juventude. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, apresentou o balanço de 3 dias de missa na cidade e constatou que a quantidade de lixo nesses três dias foi bem menor que se costuma recolher no réveillon. Na Missa de Abertura, de terça-feira (23), na Festa de Acolhida do Papa, na quinta-feira (25), e na Via Sacra (26), foram recolhidos 47 toneladas de lixo. Na virada do ano, a Companhia Municipal de Limpeza Urbana costuma recolher 300 toneladas de lixo, uma diferença de mais de 538%.
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  • Daniele Bragança 5m5u64

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

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