Notícias

Animais silvestres enfrentam fogo, fome e sede no Pantanal 301a3v

ONGs tentam reverter veto do MT para ajuda à fauna nativa e avisam que a biodiversidade será prejudicada no longo prazo

Aldem Bourscheit ·
10 de setembro de 2024

Entidades civis tentam furar o bloqueio do Governo do Mato Grosso ao fornecimento de água e comida para animais silvestres vítimas da seca em áreas protegidas estaduais. A istração Mauro Mendes (União Brasil) afirma que ajuda não é necessária e arrisca a vida da fauna.

Mais de 2,3 milhões de ha, quase 16% do Pantanal ou uma área maior que a de Sergipe, já torraram desde janeiro, estima o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

O cenário foi pintado por uma das piores secas do último século, pela crise do clima e pelo fogo insistentemente usado para renovar pastagens para gado. Incêndios criminosos são investigados. 

Governos federal, de estados e municípios pantaneiros decretaram situação de emergência e mobilizaram brigadistas do país todo para enfrentar as persistentes chamas.

Brigadistas tentam conter o o do fogo no Pantanal. Foto: Christiano Antonucci / Secom/MT.

Produção rural, turismo e outras economias são abaladas, mas o fogo não respeita barreiras naturais ou humanas. Inúmeros animais morrem queimados, de fome e sede, dentro e fora de unidades de conservação. 

“A gente está tendo que assistir os animais padecendo de sede”, relata a veterinária e bombeira civil Carla Sássi, fundadora do Grupo de Resposta a Animais em Desastres (GRAD). O time de voluntários atende emergências com animais silvestres e domésticos em todo o país.

Tamanduá-bandeira e outros animais se abrigam do sol escaldante e buscam água em lamaçal sob ponte na Estrada Parque Transpantaneira. Vídeo: EJF/Divulgação

Uma das áreas afetadas é a Estrada Parque Transpantaneira, cujos 145 km ligam Poconé a Porto Jofre. No trecho, a água acumula naturalmente nas cheias pantaneiras, sobretudo junto às suas 125 pontes. Mas a secura transformou quase tudo em poças de lama, onde animais chafurdam buscando água. Nos 30 km de uma das porções mais secas da Transpantaneira, só quatro pontos ainda tinham água.

“A biodiversidade será prejudicada do curto ao longo prazos. Além da mortandade de animais, variadas espécies não conseguirão migrar para outras áreas e não conseguirão se reproduzir devido ao sofrimento gerado pelo fogo, fome e sede”, alerta Carla Sássi.

Daí o protesto do GRAD e de outras entidades civis pelo bloqueio do Governo do Mato Grosso à ajuda para animais silvestres em áreas protegidas estaduais. Ações em fazendas e áreas protegidas federais não foram interrompidas.

“É inissível que o órgão estadual proíba a atuação do terceiro setor e das comunidades na mitigação dos impactos da seca extrema sobre a fauna silvestre”, diz a bióloga Luciana Leite, Defensora da Biodiversidade e do Clima no braço brasileiro da Environmental Justice Foundation (EJF). No fim de agosto, o Ministério Público do Mato Grosso notificou a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema/MT) para fornecer água e comida à fauna silvestre, em pontos onde havia água em 2023.

Espécimes sedentas em lamaçal pantaneiro. Foto: GRAD/Divulgação.

À reportagem de ((o))eco, a Sema/MT afirma que não recebeu um pedido formal do GRAD para fornecer água a animais na Transpantaneira e que, com base em evidências técnicas, o recurso será oferecido em pontos que “não ofereçam riscos para os animais silvestres”.

“Ao colocar água em locais mais secos, no período de fogo iminente, acaba criando possíveis armadilhas que oferecem risco aos animais. A metodologia correta já está sendo aplicada, em conjunto com o Ibama e ICMBio”, disse a Assessoria de Imprensa do órgão estadual.

Para a bióloga Luciana Leite (EJF), o argumento da Sema/MT de que colocar bebedouros debaixo das pontes ocasionaria o atropelamento de animais cruzando a Transpantaneira não se sustentaria, mesmo na seca extrema deste ano. 

“Se o atropelamento da fauna é um problema na região, isso se deve à presença da estrada, não à oferta de água. Os corixos e rios estavam ali muito antes da estrada. Que sejam implantadas medidas para redução de velocidade”, pede. 

Macaco morto pelas chamas na região da Transpantaneira. Foto: GRAD/Divulgação.

Em anos anteriores, a instalação de bebedouros e oferta de comida ao longo da Transpantaneira foi crucial para salvar inúmeros animais, avaliam as entidades civis. Seca e incêndios de 2020 queimaram ¼ do Pantanal e mataram estimados 17 milhões de animais. De lá para cá, o bioma segue castigado.

“É inaceitável que o órgão alegue que o cenário é ‘normal’, especialmente em contrariedade às evidências apresentadas por diversos pesquisadores que afirmam que esta se trata de uma seca histórica”, aponta a bióloga Luciana Leite (EJF).

Quanto às medidas adotadas este ano contra a seca e incêndios, a Sema/MT lista a contratação de veterinários e compra de veículos, um posto para atender emergências com animais silvestres na região da Transpantaneira, implantação de aceiros, poços e açudes que servem de bebedouros e abrigos para animais.

O órgão elencou igualmente o cadastro de voluntários para atuar em áreas protegidas estaduais, a intensificação do monitoramento de fauna silvestre no Pantanal e a capacitação de profissionais para manejo e contenção da fauna silvestre em eventos extremos, como incêndios florestais.

  • Aldem Bourscheit 2tg

    Jornalista cobrindo há mais de duas décadas temas como Conservação da Natureza, Crimes contra a Vida Selvagem, Ciência, Agron...

Leia também 84q8

Reportagens
10 de maio de 2024

Assombrado pelo fogo, futuro do Pantanal exige mobilização global m2261

Proteção maior viria com o bioma incluído em acordo europeu sobre compras livres de desmate, até agora focado em florestas

Reportagens
5 de setembro de 2024

Dragagem do Rio Paraguai ignora um Pantanal cada vez mais quente e seco 3eg4g

Academia e ongs protestam contra intervenção, com recursos e autorização federais, para manter fluxos do agro e da mineração

Reportagens
9 de agosto de 2024

Fogo atinge 80% de santuário das araras azuis no Pantanal 48y3m

Queimada na Fazenda Caiman, em Miranda, no Mato Grosso do Sul, foi controlada com a chegada de frente fria, mas danos ambientais ainda estão sendo calculados

Mais de ((o))eco 6q6w3q

seca 6x2o1s

Notícias

COP da Desertificação avança em financiamento, mas não consegue mecanismo contra secas 575m5j

Reportagens

Dragagem do Rio Paraguai ignora um Pantanal cada vez mais quente e seco 3eg4g

Reportagens

Seca na Amazônia faz pesquisadores correrem contra o tempo para monitorar botos 416o5u

Notícias

Pantanal derrete com calor e seca 6y436y

mato grosso 2xs6l

Reportagens

Ao menos 6 milhões de cabeças de gado no Pará estão irregulares entre indiretos 1kd5e

Notícias

Empresa usa documentos falsos na disputa de terras em parque no MT 2h81o

English

Brazil: first national parks found contaminated with agrotoxins 485535

Reportagens

Até os primeiros parques nacionais estão contaminados por agrotóxicos 4y1f2i

queimadas t276g

Notícias

Governo confirma mobilização de 4.600 brigadistas para combate ao fogo no Brasil em 2025 6gg1i

Notícias

Governo se antecipa e decreta estado de emergência em áreas vulneráveis a queimadas 5j4o67

Notícias

Mesmo com queda no desmatamento, fogo no entorno da BR-319 continua aumentando 26zi

Notícias

Queimadas em Florestas Não Destinadas da Amazônia cresceram 64% no último ano 6v4s3i

política ambiental 6v2p2j

Notícias

Petrobras avança mais uma etapa no processo para exploração da Foz do Amazonas 363h63

Salada Verde

Agenda do presidente definirá data de anúncio do plano de proteção à biodiversidade 1x2p2z

Reportagens

Brasil aposta na conciliação entre convenções da ONU para enfrentar crises globais 4q306r

Reportagens

Maior área contínua de Mata Atlântica pode ser mantida com apoio do turismo 1525x

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Comentários 4 5qt2b

  1. Jeferson diz:

    Cadê a cambada de artistas preocupados com o meio ambiente ? Com a fauna e flora ? Como esse governo, é o que dá dinheiro público pra essa corja, tá tudo caladinho…Ah se esse país fosse sério


  2. PATRICIA COVOLO diz:

    Os brasileiros, a mídia ao invés de divulgarem a respeito dos incêndios, que tem um impacto negativo gigantesco para os animais e consequentemente para nos seres humanos, só falam de Deolane🤮


  3. Esse Governador é incompetente, irresponsável, inerte, incapaz, disfuncional, parem de fazer pedidos pra ele, ele não vai fazer nada, ele quer acabar totalmente com os animais e as matas. Tentem acionar a justiça contra ele, tentem protocolar o afastamento dele do cargo, ou um impeachment… alguma coisa tem que acontecer, o cara tá rasgando a constituição, a constituição diz que tem que zelar pelas matas, pelos animais, o que ele tá fazendo é contra o país e atenta contra o próprio Estado. É lamentável, uns tentando ajudar, e quem mais deveria demonstrar ajuda prejudicando.


    1. Betina Pioli ( USA) diz:

      Absurdo!! Pobres dos animais!!😢