Notícias

Desmatamento na Mata Atlântica reduziu, mas queda ainda é tímida, dizem especialistas 2m5c61

A área total desmatada caiu 14% em 2024, mas a perda das matas maduras teve redução de apenas 2%. Os dados são do SAD e do Atlas da Mata Atlântica

Júlia Mendes ·
12 de maio de 2025

O desmatamento na Mata Atlântica registrou queda entre 2023 e 2024, mas os dados mostram que a redução foi modesta. As informações divulgadas nesta segunda-feira (5) são do Atlas da Mata Atlântica, coordenado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD), monitoramento realizado pela SOS e MapBiomas. 

Bahia e Piauí lideram o desmatamento no bioma. 

Segundo o Atlas, a perda de vegetação teve uma redução de 2% – de 14.697 hectares em 2023 para 14.366 hectares em 2024. A área corresponde ao tamanho de três parques nacionais da Tijuca e meio desmatados no ano ado e representa a emissão de cerca de 6,87 milhões de toneladas de CO₂ equivalente, valor comparável às emissões anuais do Distrito Federal. O Atlas da  Mata Atlântica acompanha fragmentos com mais de três hectares (ha) em áreas de mata madura. 

Já o SAD, que detecta desmatamentos menores e enxerga áreas em regeneração, registrou queda de 14%. Foram, no total, entre matas maduras e mais jovens, mais de 71.000 hectares desmatados em 2024, frente aos 82.531 hectares do ano anterior. O total de alertas reduziu em 1703, mas a área média por evento subiu de 11,2 para 12,5 hectares. Isso indica desmatamentos maiores e mais concentrados, segundo a SOS Mata Atlântica. O SAD Mata Atlântica é desenvolvido pela SOS em parceria com o MapBiomas. 

A queda apresentada é tímida diante da meta de desmatamento zero, de acordo com o diretor executivo da SOS Mata Atlântica, Luís Fernando Guedes Pinto. As perdas permanecem altas, principalmente em áreas historicamente críticas, e avançam sobre matas maduras, que são insubstituíveis em biodiversidade e regulação climática. “Em outras palavras, o desmatamento ainda representa uma grande ameaça para o futuro da Mata Atlântica. E esse é também o futuro de todos nós, já que o bioma abriga cerca de 70% da população brasileira e sustenta mais de 80% do PIB nacional. No contexto das crises globais do clima e da biodiversidade, das tragédias ambientais e das recorrentes crises hídricas no Brasil, a degradação da Mata Atlântica amplia o risco de colapso dos serviços ecossistêmicos essenciais à nossa qualidade de vida, à segurança alimentar e à economia do país”, afirmou.

Estados em alerta 1t6z2m

O ranking estadual é liderado pelos estados de Piauí e Bahia, com respectivamente, 26.030 e 23.218 hectares desmatados registrados pelo SAD, respectivamente. Na Bahia, embora o total tenha caído 37% em relação ao ano anterior, a destruição de matas maduras do estado quase dobrou, com registro de aumento de 92%. No Piauí, o movimento foi inverso: a área total desmatada cresceu 44%, chegando a pouco mais 26.000 hectares, enquanto a supressão de matas maduras diminuiu. Estados que tradicionalmente concentram grandes perdas, como Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais mantêm a tendência de queda verificada nos anos anteriores. O Paraná, por exemplo, reduziu em 64% o desmatamento das matas maduras. 

Já no Rio Grande do Sul, os dados revelam um salto causado principalmente pelos deslizamentos devido às chuvas de abril e maio de 2024. Os eventos classificados como “desastres naturais” responderam pela maior parte dos 3.307 hectares perdidos no ano. Além do Rio Grande do Sul, os eventos climáticos extremos também impactaram áreas protegidas nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, evidenciando a vulnerabilidade das Unidades de Conservação diante das mudanças climáticas. 

Segundo Guedes Pinto, é urgente ampliar o foco da proteção ambiental. “O desmatamento provocado por efeitos climáticos já é mensurável e ameaça até mesmo Unidades de Conservação. Se não houver ação coordenada entre proteção, uso da terra e adaptação climática, continuaremos repetindo a equação do desastre. E, diante desse cenário, é essencial acelerar a trajetória de redução do desmatamento para que a Mata Atlântica se torne o primeiro bioma brasileiro a alcançar o desmatamento zero, idealmente antes de 2030”, completou.

Principal vetor é a expansão agropecuária 703f5h

A expansão da agropecuária em áreas privadas ainda é o principal vetor do desmatamento na Mata Atlântica, de acordo com o SAD. Embora tenha havido redução da área desmatada em alertas menores que 50 hectares, as grandes derrubadas – acima de 50 hectares – permaneceram estáveis, o que elevou a área média suprimida por evento.

Os levantamentos mostram que, em 2024, mais de 70% das áreas desmatadas estavam em terras privadas ou em áreas sem registro fundiário formal (vazio fundiário), o que reflete a pressão fundiária e a necessidade de maior regularização e fiscalização. Ou seja, mesmo com avanços no monitoramento e na fiscalização em fragmentos menores, a dinâmica de conversão de grandes áreas permanece ativa. 

Segundo Marcos Rosa, diretor da Arlan e coordenador técnico do MapBiomas, o tamanho das áreas desmatadas foi maior, o que sugere uma concentração de grandes empreendimentos. “Além das ações de comando e controle, é necessário garantir a aplicação da Lei da Mata Atlântica ao autorizar atividades econômicas no bioma e nos encraves florestais da Mata Atlântica, especialmente do Nordeste”, disse. 

  • Júlia Mendes 6b1q6x

    Estudante de jornalismo da UFRJ, apaixonada pela área ambiental e tudo o que a envolve

Leia também 84q8

Salada Verde
29 de abril de 2025

Terras alvo de desmates e incêndios criminosos podem ser expropriadas 4o6a1o

Decisão de Flávio Dino (STF) também pediu informações sobre combate ao fogo pela União e estados, na Amazônia e Pantanal

Salada Verde
14 de março de 2025

Vida selvagem e meta para zerar desmatamento são prejudicadas por ataques às unidades de conservação 5k5y3i

O estudo “ando a boiada” alerta que tais áreas protegidas garantem igualmente o bem-estar social e econômico do país

Reportagens
20 de fevereiro de 2025

É hora de salvar as porções mais ricas em vida selvagem e carbono na Mata Atlântica 1k6b1b

Quatro estados lideram a destruição, onde “florestas maduras” dão lugar sobretudo a pastagens para gado, silvicultura e soja

Mais de ((o))eco 6q6w3q

política ambiental 6v2p2j

Análises

Caatinga: o bioma quase esquecido que resiste com ciência, conservação e esperança l4h4o

Notícias

Após pressão, Helder Barbalho pede fim dos embargos em Altamira 6o61h

Notícias

Em carta, presidência da COP30 fala em “preparar-se para o imponderável” s59g

Salada Verde

Consulta pública do MMA busca definir novo Plano de Dados Abertos 573qt

mata atlântica 234u64

Reportagens

A tragédia do plástico num santuário de aves marinhas 725s21

Salada Verde

Pesquisadora brasileira ganha prêmio internacional por trabalho com onças-pintadas 704n16

Salada Verde

APA Baleia Franca sob ataque: sociedade protesta contra tentativa de redução 4k2y6n

Salada Verde

Enquete mantém alta rejeição a rebaixamento da Serra do Itajaí de parque para floresta nacional 6x6124

desmatamento 4y695i

Notícias

Após pressão, Helder Barbalho pede fim dos embargos em Altamira 6o61h

Notícias

Alertas de desmatamento na Amazônia aumentam 55% em abril 2d3a6v

Salada Verde

Terras alvo de desmates e incêndios criminosos podem ser expropriadas 4o6a1o

Notícias

Desmate em região da BR-319 pode fazer o país perder R$ 15 bi em economias sustentáveis 103s1n

pecuária 2tc5r

Notícias

Governo lança plataforma de monitoramento ambiental da pecuária 5a493t

Reportagens

Governo lança plano de rastreio individual na pecuária, com foco apenas sanitário 186v40

Reportagens

Trabalho análogo à escravidão na pecuária do Pará chega a 31% nos últimos dois anos, revela pesquisa 4l3l41

Podcast

Entrando no Clima #39 – Lobistas da carne marcam presença na COP29 1ta8

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.