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Expedição científica em ilha carioca traz dados inéditos sobre fauna e flora 505z3a

Pesquisadores aram três dias no topo da Ilha Redonda, no arquipélago das Cagarras, e fizeram levantamento inédito de mamíferos, além dos registros de duas novas plantas

Duda Menegassi ·
8 de julho de 2022 · 3 anos atrás

A menos de dez quilômetros da badalada praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, ergue-se do mar um paredão rochoso, que alcança 260 metros de altura em seu ponto mais alto. A sentinela de pedra é a Ilha Redonda, a maior das ilhas que compõem o arquipélago das Cagarras, protegido por um Monumento Natural de mesmo nome. Apesar da sua silhueta ser uma velha conhecida do horizonte carioca, ainda há muitas perguntas que a ciência busca responder sobre a ilha, tanto sobre sua fauna e flora atual, quanto sobre seus usos no ado por populações indígenas.

Para preencher algumas destas lacunas de conhecimento sobre a Ilha Redonda,  pesquisadores do Projeto Ilhas do Rio em parceria com o ICMBio – órgão gestor da área protegida – organizaram uma expedição científica de três dias composta por botânicos, arqueólogos e especialistas em mamíferos. 

As pesquisas de mamíferos terrestres foram iniciadas em 2019, mas até então estavam restritas à parte baixa da ilha. Foi a primeira vez que os pesquisadores fizeram o levantamento da mastofauna no cume, uma área de difícil o – que exige uma escalada de aproximadamente 80 metros pela rocha.

Pesquisador escala paredão que dá o ao cume da Ilha Redonda. Foto: Caio Salles/Projeto Ilhas do Rio

O estudo inédito trouxe duas informações principais: identificou a presença de morcegos (Tonatia bidens) e, para alívio dos pesquisadores, a ausência de ratos exóticos invasores. Esta última é uma preocupação constante já que a Ilha Redonda é um dos maiores ninhais de fragata do Atlântico Sul – com mais de 5 mil fragatas – e lar de outras espécies de aves marinhas, e os roedores se alimentam dos seus ovos.

A coordenadora da pesquisa, Julia Luz, conta que não esperava capturar tantos indivíduos do morcego T. bidens, foram mais de 40 exemplares. Ela acrescenta que essa é uma espécie pouco estudada justamente por ser pouco capturada, o que torna o Monumento Natural Cagarras um local ideal para entender a biologia e ecologia desse morcego. Além disso, a espécie é considerada uma bioindicadora de que a região é preservada. A única ilha do arquipélago em que a T. bidens não foi capturada foi na Ilha Comprida, justamente a mais impactada, que sofre com o fogo e a presença de espécies invasoras.

“O interessante dessas pesquisas é que têm aspectos práticos aplicados, que auxiliam no manejo e conservação da unidade de conservação e tem muito potencial de desenvolvimento teórico em diversas áreas dentro da biologia”, complementa a pesquisadora.

Morcego da espécie Tonatia bidens capturado durante a expedição no cume da Ilha Redonda. Foto: Julia Luz/Projeto Ilhas do Rio

O arquipélago das Cagarras, Monumento Natural (MONA) desde 2010, é composto por quatro ilhas principais – Redonda, Palmas, Comprida e Cagarra – e duas menores, chamadas de filhotes da Cagarra e Redonda. Além da parte terrestre das ilhas, o MONA protege uma faixa marinha de 10 metros ao redor de cada ilha. Ao todo, são 91 hectares de área protegida federal.

Descobertas botânicas 4i2a2

Desde 2015 os pesquisadores não iam até o cume da Ilha Redonda, onde acamparam durante os três dias da expedição. Na ida, além dos morcegos, foram registradas novas espécies de plantas: a bromélia Neoregelia cruenta e a liana Smilax stenophylla, ambas encontradas pela primeira vez na ilha.

Um dos destaques da flora nativa da Ilha Redonda é a Gymnanthes nervosa, uma espécie de arbusto que não era vista no município do Rio de Janeiro desde 1940 e foi descoberta na ilha em 2015. Na expedição, os pesquisadores confirmaram que a planta segue em excelente estado e se reproduzindo.

“Retornar após sete anos foi incrível, a vegetação cresceu, ou seja, se adensou mais, principalmente na trilha para o cume. Inclusive, avistamos espécies da flora não vistas anteriormente. Será que aram despercebidas ou chegaram lá recentemente? Tirando essas novas ocorrências, parece que os registros antigos realizados já oferecem uma excelente ideia da composição florística local”, diz Massimo Bovini, responsável pelo inventário de toda a flora do MONA Cagarras.

Levantamento botânico identificou duas novas espécies de plantas na Ilha Redonda. Foto: Caio Salles/Projeto Ilhas do Rio

Os pesquisadores também descobriram a presença da planta da batata doce (Ipomoea batatas), uma evidência que reforça que os indígenas, seis séculos atrás, frequentavam o cume da Ilha Redonda. A batata doce é uma planta domesticada cuja reprodução depende da ação humana, ou seja, a espécie não surge de forma espontânea no ambiente. Sua presença na ilha, significa que ela foi plantada lá.

De acordo com o arqueólogo Leonardo Waisman, do Museu Nacional, que integrou a equipe científica, os tubérculos serviam não apenas para alimentação, mas também para produzir bebidas. “E a Ilha Redonda era uma espécie de local sagrado para eles, onde realizavam rituais religiosos”, conta o arqueólogo, que também encontrou diversos fragmentos de vasilhas cerâmicas e artefatos de pedra na expedição.

O valor ritualístico é uma das hipóteses dos arqueólogos sobre porquê os indígenas usavam a ilha, uma vez que chegar até lá não era fácil. Em 2012, a área foi reconhecida como sítio arqueológico Tupiguarani e registrado no Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

O Projeto Ilhas do Rio atua na região do MONA há mais de uma década e é realizado pelo Instituto Mar Adentro, com patrocínio da Associação IEP e JGP, e curadoria técnica do WWF-Brasil. O projeto conta ainda com parcerias com o ICMBio, a Colônia de Pescadores de Copacabana-Z13, o Museu Nacional-UFRJ e o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

  • Duda Menegassi 5t4258

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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