Notícias

Mobilidade: “A gente precisa diminuir o número de carros nas cidades”, resume especialista 593e33

Primeira live de série organizada por ((o))eco e Vote pelo Clima debate mobilidade urbana; conversas sobre temas municipais e clima acontecem às segundas e quartas até a próxima semana

Gabriel Tussini ·
24 de setembro de 2024

A série de lives sobre a política municipal e as mudanças climáticas, produzida por ((o))eco em parceria com o Vote pelo Clima, teve início na noite desta segunda-feira (23). Nesta semana e na próxima, sempre às segundas e quartas, às 19h, reuniremos especialistas para discutir o que o poder público municipal pode fazer para considerar os efeitos das mudanças climáticas em temas-chave para a vida nas cidades.

Para discutir mobilidade urbana, tema da primeira transmissão, e avaliar a eficácia das políticas municipais que já vem sendo implementadas nessa área, a repórter Cristiane Prizibisczki recebeu Felipe Barcellos, engenheiro elétrico e especialista em mobilidade do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA); e Luize Sampaio, jornalista e coordenadora de comunicação da Casa Fluminense, organização que monitora políticas públicas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A conversa ainda contou com comentários de Clareana Cunha, mobilizadora sênior da organização NOSSAS.

Os temas das próximas lives serão Gestão de resíduos e saneamento, nesta quarta (25); Qualidade do ar e saúde, na próxima segunda (30); e Desastres ambientais e adaptação climática, na próxima quarta (2), sempre às 19h. As transmissões são feitas pelo canal de ((o))eco no YouTube, e ficarão disponíveis na íntegra. O Vote pelo Clima, parceira na organização das lives, é uma iniciativa promovida pelo Instituto Clima de Eleição e pelo NOSSAS para conectar eleitores a candidaturas comprometidas com a pauta climática em todo o Brasil.

Soluções para as altas emissões do setor de transportes 152g6s

Felipe Barcellos, do IEMA, destacou a participação do setor de transportes nas emissões globais de gases do efeito estufa – 16% do total emitido no ano de 2021, atrás apenas do setor de eletricidade e calor, com 33%, segundo estudo da plataforma ClimateWatch. “O que a gente tem visto hoje é que as emissões de geração de eletricidade têm caído bastante, principalmente pela penetração de tecnologias renováveis, como usinas eólicas e usinas fotovoltaicas, e a mesma tendência de queda não ocorre nos transportes”, analisou.

“O Brasil, quando a gente pensa em emissões, o principal emissor é sim, ainda, o desmatamento. Mas, pela sua grande população, sua importância econômica, quando a gente olha para as emissões só da mobilidade, o Brasil é o quinto país mais emissor”, mostrou Barcellos, apresentando gráfico em que o Brasil fica atrás apenas de EUA, China, Índia e Rússia no quesito. “Isso, claro, é uma consequência do grande uso de automóveis e caminhões”, explicou, com dados que demonstram que esse nível de poluição é causado pelo consumo de combustíveis fósseis, como o diesel, líder em emissões no setor.

Felipe Barcellos apresenta gráfico que mostra a porcentagem de participação das emissões de transportes no total emitido nas capitais (esquerda) e as as emissões absolutas de transportes por capital (direita). Crédito: Reprodução

Para ajudar a mudar esse quadro, o engenheiro apresentou “três grandes ações” para a área que podem ser tomadas pelos poderes municipais, em ordem de prioridade: “evitar, mudar e melhorar”. “Evitar”, no caso, é evitar grandes deslocamentos motorizados, o que pode ser feito aproximando a população das regiões com maior oferta de emprego; “mudar” é promover o uso de formas alternativas ao transporte motorizado individual, como o transporte coletivo e o transporte ativo (bicicletas, por exemplo); e “melhorar” significa utilizar tecnologias e sistemas mais eficientes, como veículos elétricos e corredores exclusivos de ônibus.

“É bom que se diga que muito se fala do transporte elétrico, do carro elétrico, mas essa tem que ser sempre a última solução. Se não a gente vai, por exemplo, eletrificar toda a cidade e manter o status quo como a gente tem hoje, com grandes congestionamentos, grandes períodos de tempo perdidos no tráfego, e, principalmente, o espraiamento das cidades e a exclusão de uma grande parte da população, que tende a morar cada vez mais longe das oportunidades de renda, lazer e educação, e que com isso está sendo alijada do direito à cidade”, concluiu Barcellos.

Alto custo dificulta o ao transporte público nas periferias 1u5751

Luize Sampaio, da Casa Fluminense, explicou que o tema da tarifa é a “principal motivação” da organização em seus debates sobre mobilidade, já que o alto custo tem sido um entrave ao uso do transporte público para moradores de áreas mais afastadas da Zona Sul e do Centro da cidade do Rio. “O transporte, desde 2015, ou a ser um direito constitucional, garantido por lei. E mesmo assim é um direito básico que nem toda a população tem o”, afirmou, apontando ainda para o sucateamento do serviço e problemas nos contratos de concessão (e até cidades em que empresas atuam sem contrato).

Luize Sampaio apresenta gráfico elaborado pela Casa Fluminense que mostra o peso financeiro de 44 agens de ônibus por mês na renda dos moradores da Região Metropolitana do Rio em 2023. Crédito: Reprodução

A jornalista lembrou que o transporte é intimamente relacionado ao direito à cidade, além de ser o “direito que dá o a outros direitos”, como cultura, lazer, saúde e tantos outros. “Fazendo essa reflexão principalmente durante a pandemia, olhando pro ônibus como esse lugar que virou um espaço de alto contágio – principalmente para os trabalhadores dos ônibus, mas também para as pessoas que não puderam parar durante a pandemia –, a gente começou a relacionar transporte, saúde e cidade”, testemunhou sobre o trabalho da Casa Fluminense.

“O DOT [De Olho no Transporte, relatório produzido pela organização que terá sua 4ª edição lançada na próxima quarta-feira] faz essa correlação. Primeiro ele fez um monitoramento de quais linhas de ônibus pararam de ar durante a pandemia; quais foram as regiões da cidade do Rio de Janeiro que foram mais afetadas – e aí a gente descobriu que essas regiões eram na Zona Oeste, a área mais afetada e mais periférica da cidade do Rio de Janeiro; e como isso estimulou a superlotação”, exemplificou.

“Depois desse monitoramento da falta de ônibus, a gente fez um monitoramento olhando mais fundo sobre como transporte e saúde tem a ver, pensando também em justiça climática. E usamos muito como base um estudo do Instituto Saúde e Sustentabilidade que mostrava que a cada 2h uma pessoa pode morrer por conta da poluição do ar na Região Metropolitana do Rio. Quando a gente chega com esse dado a gente começa a discutir saúde, transporte, cidade e clima, e aí faz um cruzamento ainda maior desses quatro eixos que são primordiais para a gente pensar Cidades 2030”, afirmou Sampaio.

“Nesse novo DOT que a gente vai lançar a partir de dados atualizados, a gente vai tentar correlacionar um pouco sobre o peso das emissões aqui na metrópole e como a gente pode construir alternativas para uma transição justa com proteção social”, projetou. “Esse DOT que a gente vai lançar tem esse objetivo de unir a transição energética com o processo de tarifa zero nas cidades”, concluiu a representante da Casa Fluminense.

Clareana Cunha, do NOSSAS, resumiu o ponto central das falas dos convidados. “Tem um ponto em comum entre todas as falas, que é: a gente precisa diminuir o número de carros nas cidades. O carro é um grande problema. A quantidade de trânsito é um grande problema. A quantidade de políticas rodoviaristas é um grande problema. As políticas públicas das grandes cidades estão voltadas para os veículos individuais. O que a gente vê é um incentivo às políticas que não vão mitigar os problemas”, criticou. “Quando a gente fala do Vote pelo Clima, a gente tem uma bandeira que é: transporte gratuito com menos emissões, e justo, de qualidade para as pessoas”, frisou.

  • Gabriel Tussini 1u2w37

    Estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), redator em ((o))eco e interessado em meio ambiente, política e no que não está nos holofotes ao redor do mundo.

Leia também 84q8

Reportagens
3 de maio de 2024

Obra para desafogar trânsito em Belém na COP30 vai rasgar parque municipal 2m51x

Com 44 hectares, o Parque Ecológico Gunnar Vingren será cortado ao meio para obras de mobilidade. Poderes estadual e municipal não entram em acordo sobre projeto

Reportagens
2 de setembro de 2024

Saiba quais são as propostas ambientais dos candidatos a prefeito de Belo Horizonte 4mf5c

Programas de governo contêm projetos sobre mobilidade urbana e planos de adaptação climática. Especialistas ouvidos por ((o))eco apontam principais problemas ambientais da capital de Minas

Reportagens
7 de maio de 2024

Organização inicia debates sobre a emergência climática nas eleições municipais 301j21

“Seminários Bússola para a Construção de Cidades Resilientes”, transmitidos pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade, começaram nesta segunda e vão até sexta, das 18 às 20h

Mais de ((o))eco 6q6w3q

eleições 2024 472p5q

Reportagens

Maricá: uma cidade petrolífera que almeja ser sustentável d225v

Análises

Como a pauta climática esquentou as eleições municipais 35152a

Reportagens

Segundo turno em João Pessoa traz disputa entre candidatos de direita 5f3a3e

Podcast

Entrando no Clima #27: Fake news climática e voto dissonante com a realidade 4w5l1a

política ambiental 6v2p2j

Análises

Em boa hora 6b1t6

Salada Verde

Países do BRICS querem US$ 1,3 tri para financiar ações climáticas 1m2a3j

Fotografia

Galeria: Veja como foram os atos contra o PL da Devastação 6g1o27

Salada Verde

Sociedade civil protesta contra PL que quer acabar com o licenciamento 6n1v2o

ICS 3m682z

Notícias

Perda global de florestas atinge recorde em 2024, mostra estudo da WRI n6j56

Notícias

Transição energética entra de forma discreta na terceira carta da Presidência da COP30 425t72

Salada Verde

Veja como votou cada senador no projeto que implode o licenciamento ambiental 224w5g

Reportagens

Brasil aposta na conciliação entre convenções da ONU para enfrentar crises globais 4q306r

mudanças climáticas 1j5e1m

Salada Verde

Países do BRICS querem US$ 1,3 tri para financiar ações climáticas 1m2a3j

Salada Verde

Podcast investiga o que restou de Porto Alegre um ano após a enchente de 2024 2651j

Colunas

Por que os cristãos defendem o licenciamento ambiental 4o3a5d

Reportagens

“Brasil não pode ser petroestado e líder climático ao mesmo tempo”, alerta Suely Araújo 3q19z

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.