A perda de florestas atingiu novos recordes em todo o mundo no ano ado, atingindo 6,7 milhões de hectares, quase o dobro do registrado em 2023 e uma área próxima a do território do Paraná, a uma taxa de 18 campos de futebol por minuto. Os números são da plataforma Global Forest Watch (GFW) do World Resources Institute (WRI) e foram divulgados na última semana.
Segundo a WRI, esta é a primeira vez desde o início das medições do GFW que os incêndios, e não a agropecuária, foram a principal causa da perda de florestas primárias tropicais em todo o mundo, representando quase 50% de toda a destruição. Nos anos anteriores os incêndios eram responsáveis, em média, por apenas 20% do total perdido.
E a perda não foi só em biodiversidade. Globalmente, os incêndios emitiram 4,1 gigatoneladas de gases de efeito estufa – liberando mais de 4 vezes as emissões de todas as viagens aéreas em 2023.
Além disso, a análise mostrou que, também pela primeira vez, os grandes incêndios ocorreram tanto nos trópicos quanto nas florestas boreais. Segundo a WRI, em 2024, o ano mais quente já registrado, condições extremas alimentadas pelas mudanças climáticas e pelo El Niño tornaram esses incêndios mais intensos e difíceis de controlar.
Embora as florestas tenham a capacidade de se recuperar do fogo, o WRI lembra que a pressão combinada da conversão de terras e de um clima em mudança pode dificultar essa recuperação e aumentar a probabilidade de incêndios futuros.
O Instituto também ressaltou que a perda de florestas primárias tropicais impulsionada por outras causas também aumentou em 14%, o maior aumento desde 2016.
“Este nível de perda florestal é diferente de tudo que vimos em mais de 20 anos de dados. É um alerta vermelho global – um chamado coletivo à ação para cada país, cada empresa e cada pessoa que se preocupa com um planeta habitável. Nossas economias, nossas comunidades, nossa saúde – nada disso pode sobreviver sem florestas, disse Elizabeth Goldman, Co-Diretora do Global Forest Watch do WRI.
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De acordo com a análise, dois terços da perda florestal no Brasil (66%) foram causadas por incêndios alimentados pela seca extrema registrada em 2024. Mas além do fogo, a perda de florestas primárias por outras causas também aumentou em 13%, principalmente devido à agricultura em larga escala para soja e gado, embora seja menor do que os picos observados no início dos anos 2000 e na era Bolsonaro.
“O Brasil progrediu no governo Lula, mas a ameaça às florestas ainda persiste. Sem investimentos sustentados na prevenção de incêndios florestais, fiscalização mais rigorosa nos estados e foco no uso sustentável da terra, conquistas arduamente conquistadas correm o risco de serem desfeitas”, diz Mariana Oliveira, Diretora do Programa de Florestas e Uso da Terra do WRI Brasil.

Na Bolívia, a perda de floresta primária disparou 200% em 2024, totalizando 1,5 milhão de hectares. Com isso, a Bolívia fica em segundo lugar na perda de floresta primária tropical, atrás apenas do Brasil, ultraando a República Democrática do Congo, apesar de ter menos da metade de sua área florestal.
Na Colômbia, a perda de floresta primária aumentou em quase 50%. No entanto, ao contrário de outras partes da América Latina, os incêndios não foram a principal causa. Em vez disso, a perda não relacionada a incêndios aumentou em 53%, devido à instabilidade decorrente do rompimento das negociações de paz, incluindo mineração ilegal e produção de coca.
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Em 2024, a República Democrática do Congo (RDC) e a República do Congo (ROC) registraram os maiores níveis de perda de floresta primária já vistos, mostra o trabalho da WRI.
Na ROC, a perda de floresta primária disparou 150% em comparação com o ano anterior, sendo que incêndios, agravados por condições de calor e seca incomuns, causaram 45% dos danos. Assim como a Amazônia, a Bacia do Congo desempenha um papel crucial como sumidouro de carbono, mas o aumento dos incêndios e da perda florestal agora ameaça sua função vital.
Na RDC, a pobreza, a dependência das florestas para alimentação e energia e o conflito contínuo impulsionado por grupos rebeldes alimentaram a instabilidade e levaram ao aumento do desmatamento, impulsionando ainda mais a perda florestal.
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Os países do Sudeste Asiático foram os únicos que não registraram aumento na quantidade de florestas perdidas. A Indonésia reduziu a perda de floresta primária em 11%, revertendo um aumento constante entre 2021 e 2023. Os esforços sob o ex-presidente Joko Widodo para restaurar terras e conter incêndios ajudaram a manter as taxas de incêndio baixas, mesmo em meio a secas generalizadas.
Da mesma forma, a Malásia registrou uma queda de 13% e pela primeira vez saiu da lista dos 10 países líderes em perda de floresta primária tropical.
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