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Pesquisadoras brasileiras ganham prêmio internacional de conservação ambiental 4mc2d

Trabalhos de pesquisa e conservação com a anta brasileira, por Patrícia Medici, e com o mico-leão-preto, por Gabriela Rezende, ganham prêmios do Whitley Award

Duda Menegassi ·
29 de abril de 2020 · 5 anos atrás
Patrícia Medici foi premiada com o Whitley Gold Award por seu trabalho com as antas. Foto: João Marcos Rosa.

Duas pesquisadoras brasileiras, cada qual com seu projeto, foram reconhecidas com dois prêmios em uma das premiações internacionais mais importantes na conservação ambiental, o Whitley Award. A ecóloga Patrícia Medici, que dedica sua vida à conservação da anta no Brasil, ganhou o Whitley Gold Award. Já a bióloga Gabriela Cabral Rezende, que pesquisa o mico-leão-preto, levou o Whitley Award. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (29) pelo Whitley Fund for Nature, responsável pela premiação.

Todo ano, a iniciativa elege um vencedor principal, categoria Gold Award, que este ano premiou a brasileira Patrícia Medici. Há 24 anos, Patrícia desenvolve ações de pesquisa e conservação das antas (Tapirus terrestris) e seu habitat. Referência mundial sobre a espécie, ela é uma das coordenadoras da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, projeto do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), e criou o maior banco de dados sobre a espécie no mundo.

“Receber este prêmio é extremamente importante, particularmente pelo momento pelo qual amos. Mais do que nunca, precisamos ressaltar a importância de manter o equilíbrio de nossos ecossistemas. A atual crise com a pandemia que vivemos está intimamente conectada com a destruição de nossos ecossistemas e com a forma como lidamos com a natureza. Conservacionistas como eu devem participar ativamente na definição da agenda ambiental na próxima década”, convoca a pesquisadora.

A anta, maior mamífero terrestre da América do Sul, atualmente é considerada como vulnerável pela Lista Vermelha da IUCN. “Considerada a jardineira das florestas, a anta promove a renovação desses ambientes através da dispersão de sementes. Diversas espécies de plantas somente existem porque suas sementes am pelo trato digestivo da anta. A anta ‘brinca’ com a composição e diversidade da floresta e é grandemente responsável pela formação e manutenção da integridade desses ambientes”, explica Patrícia.

Ao longo dos seus 24 anos de trabalho, Patrícia construiu o maior banco de dados sobre antas do mundo. Foto: João Marcos Rosa.

Com o financiamento de 40 mil libras recebido junto ao prêmio, Patrícia espera fortalecer e ampliar as ações de conservação por todo país. Um dos objetivos da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira é começar a trabalhar na Amazônia, com foco no estudo e na redução de ameaças a antas ao longo do arco sul do desmatamento nos estados de Mato Grosso e Pará.

De acordo com o fundador do Whitley Fund for Nature, “O trabalho de Patrícia é vital para combater o desmatamento no Brasil e proteger esta espécie incrível que é a anta. Sua dedicação à pesquisa, à educação e à capacitação são um exemplo brilhante de um trabalho eficaz. Patrícia Medici é uma voz forte da conservação no Brasil e no mundo. Temos o privilégio de poder continuar a oferecer nosso apoio a esta causa”.

Além da categoria principal, outros 6 pesquisadores ao redor do mundo foram premiados com o Whitley Awards, em reconhecimento ao seu trabalho na conservação. Em meio a este seleto grupo, está Gabriela Cabral Rezende e a iniciativa de pesquisa com o mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus), espécie considerada em perigo de extinção.

Há 9 anos a bióloga coordena o Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto, do IPÊ, que atua há 35 anos pela proteção da espécie. Estima-se que existam apenas 1.800 micos-leões-pretos na natureza, espécie que ocorre apenas na Mata Atlântica do estado de São Paulo, o habitat remanescente da espécie é altamente fragmentado o que impõe uma ameaça a mais na conservação dos micos.

“O mico-leão-preto só existe no estado de São Paulo. Tanto que é a espécie símbolo do estado. Temos a responsabilidade de garantir sua existência. Estou extremamente agradecida pelo prêmio, que nos ajudará a continuar um trabalho de conservação que precisa ser contínuo”, afirmou Gabriela, em referência ao valor de 40 mil libras recebido junto com o prêmio.

Gabriela coordena o projeto de conservação dos ameaçados mico-leão-preto. Foto: Katie Garret.

A restauração florestal e criação de corredores florestais para conectar fragmentos de Mata Atlântica isolados é uma das estratégias para apoiar a preservação da espécie. Além disso, a ação contribui com a capacitação e geração de renda da população, através de parcerias com viveiros comunitários e plantios agroflorestais que ajudam a formar os corredores.

Entre as ações prioritárias financiadas pelo prêmio está exatamente a plantio de mais corredores para formação de um contínuo florestal de 45 mil hectares. Além disso, a pesquisadora pretende transferir grupos de micos-leões-pretos para porções de florestas mais adequadas para sua sobrevivência. Isso é parte de um plano para prevenir a consanguinidade genética e garantir que esses pequenos primatas tenham o espaço necessário para sobreviver.

“Enquanto conservacionista, meu sonho é salvar espécies ameaçadas de extinção. Fazer a diferença para uma espécie e seu habitat é o caminho que encontrei para deixar um planeta melhor para as gerações futuras e inspirá-las a se envolver com a conservação, seja profissionalmente ou nas ações do dia-a-dia. Com o prêmio, espero também poder motivar outras cientistas mulheres a atuar pela conservação ambiental”, complementa Gabriela.

Formação de corredores florestais de Mata Atlântica é parte da estratégia para conservação dos micos. Foto: IPÊ/Divulgação.

 

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    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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Comentários 2 5d6d45

  1. Fernando Fernandez diz:

    Parabéns a ambas! Em especial à Patrícia, para quem este prêmio é uma justa recompensa por um dedicado e maravilhoso trabalho de vida inteira pela conservação das antas. Estes animais são subestimados na nossa cultura mas muitíssimo interessantes e valiosos quando a gente olha de perto. Parabéns também à Gabriela, cujo trabalho eu conhecia menos mas que certamente tem também muito valor, e à Duda, por repercurtir essa inspiradora premiação em O Eco.