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Prevenção de pandemias custa menos de 1% das perdas com Covid-19 2w6j2m

Ações ambientais contra epidemias custariam menos de 1% do valor perdido com o novo coronavírus em 2020

Emanuel Alencar ·
23 de julho de 2020 · 5 anos atrás
Os autores do artigo observam que locais próximos à borda de florestas tropicais, onde mais de 25% da floresta original foi perdida, tendem a ser focos de transmissões virais entre animais e humanos. Foto: Carlos Eduardo Young.

A implementação de um amplo programa global de prevenção de pandemias baseado em ações ambientais custaria quase nada em relação às perdas econômicas já impostas pela pandemia da Covid-19. Em artigo publicado na revista “Science”, nesta quinta-feira, especialistas calculam que a aplicação de US$ 27 bilhões de dólares em uma série de medidas ambientais eficientes, somente neste ano de 2020, representaria 0,54% do total de perda de Produto Interno Bruto (PIB) global (estimativa de queda chega a US$ 5 trilhões). O texto é assinado por equipe liderada por cientistas americanos e tem coautoria de Mariana Vale, doutora em Ecologia pela Duke University e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Prevenção de desmatamento, combate ao tráfico de animais silvestres, vigilância sanitária em áreas de alto risco [de surgimento de doenças emergentes] e biossegurança em espaços de criações de animais, diz o artigo, são ferramentas ideais para frear a agem de vírus entre animais silvestres e humanos.

“Está bastante clara a relação entre desmatamento e doenças emergentes, mas o artigo mensura pela primeira vez o valor monetário das ações de prevenção. Mostra que é muito mais barato apostar em estratégias de prevenção do que remediar os custos associados a pandemias”, analisa Mariana. “A sociedade pode pensar que é caro, mas o artigo mostra que o valor é quase irrisório. Os [cerca de] US$ 20 bilhões anuais para a prevenção de pandemias é menos de 1% do gasto dos EUA com o setor militar, por exemplo, e a Covid-19 é sem dúvida uma ameaça muito maior para a vida dos americanos que alguma guerra iminente”, acrescenta a ecóloga, que trabalha em outros estudos sobre meio ambiente e coronavírus.

Vírus nas bordas florestais

A monetização global foi feita com a revisão de literatura para as quatro estratégias de combate, fazendo extrapolações quando não havia indicadores gerais, e sim locais. Para o desmatamento foi usado o modelo brasileiro, que ganhou aplicação planetária. Num cenário de longo prazo, os pesquisadores estimam que o custo total, em dólares, das medidas preventivas por eles recomendadas para os próximos dez anos é de apenas 2% dos custos eventuais estimados para a pandemia da Covid-19, os quais segundo alguns economistas poderiam superar US$ 10 a US$ 20 trilhões.

Os autores do artigo observam que locais próximos à borda de florestas tropicais, onde mais de 25% da floresta original foi perdida, tendem a ser focos de transmissões virais entre animais e humanos. Sublinham ainda que a Covid-19, HIV, Ebola e outros vírus que aram de hospedeiros animais para os seres humanos no último século tiveram relação com o contato próximo entre pessoas e animais silvestres. Morcegos, por exemplo, prováveis reservatórios de vírus, aram a se alimentar nas proximidades de assentamentos humanos quando seu habitat florestal é perturbado pela construção de estradas, extração de madeira e outras atividades humanas. Em alguns casos, os animais infectaram humanos diretamente; em outros, a via de infecção foi indireta através de animais domésticos consumidos por humanos.

Entre as recomendações presentes no artigo está o investimento de US$ 19 milhões por ano em programas para acabar com o comércio de animais silvestres na China e educar os consumidores e caçadores sobre os riscos potenciais; e a aplicação de US$ 19 bilhões por ano em programas e políticas que poderiam reduzir em até 50% o desmatamento tropical em áreas críticas.

Os coautores do novo estudo (DOI: 10.1126/science.abc3189) são da Conservation International, Universidade da Califórnia-Santa Barbara; Universidade de Boston, Universidade Estadual do Arizona, Universidade de Illinois em Urbana-Campaign; Universidade de Havard; Instituto Earth innovation; EcoHealth Alliance; Universidade de Winsconsin-Madison; e  Fundo Mundial para a Natureza; Universidade Duke Kunshan; Universidade Rize; Universidade George Mason; o Safina Center; e Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

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    Jornalista e mestre em Engenharia Ambiental. É autor do livro “Baía de Guanabara – Descaso e Resistência” (Mórula Editorial) e assessor de Comunicação na Prefeitura do Rio

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