Notícias

Servidores do BNDES e Ibama protestam contra ataques ao Fundo Amazônia 1i5z1j

Manifestação ocorreu em frente à sede do banco, no Rio de Janeiro. Funcionários acusam gestão de Ricardo Salles de desmonte e ingerência no principal fundo para o meio ambiente do país

Sabrina Rodrigues ·
4 de junho de 2019 · 6 anos atrás
Cerca de 300 pessoas se reuniram no térreo do prédio do BNDES, no Rio de Janeiro, em ato em defesa do Fundo Amazônia. Foto: Divulgação.

Na noite desta terça-feira (04), cerca de 300 pessoas ‒ entre servidores do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), do Ibama e representantes dos povos indígenas –, se manifestaram contra o que chamam de ingerência e desmonte na estrutura do Fundo Amazônia, programa que financia ações de combate ao desmatamento e promoção do uso sustentável da floresta no país. O protesto foi organizado pela Associação de funcionários do BNDES (AFBNDES) e a Associação dos Servidores Federais da Área Ambiental no Estado no Rio de Janeiro (Asibama-RJ).

“É inissível o BNDES ficar sujeito à ingerência política, ou seja, não pode um ministro ar numa quinta-feira aqui, fazer um monte de denúncias vazias sobre o Fundo Amazônia e no dia seguinte ser afastada uma técnica séria do BNDES por conta de denúncias vazias. E foi exatamente o que aconteceu aqui no banco”, disse Arthur Koblitz, vice-presidente da AFBNDES (Associação dos Funcionários do Banco Nacional de Desenvolvimento BNDES).

Após o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Novo), criticar à gestão do Fundo, a diretora do BNDES responsável pelo Departamento do Meio Ambiente, Daniela Baccas, foi afastada.

“O ministro veio numa quinta-feira falou que tinha irregularidades no Fundo, mas que não foram demonstradas na Conferência de imprensa que ele proferiu no dia seguinte, na sexta-feira. Ele na verdade chegou a recuar sobre essas irregularidades. Até hoje o ministro foi incapaz de encaminhar um ofício ao BNDES fazendo qualquer questionamento protocolar, formal, sobre problemas no Fundo Amazônia e a nossa colega está afastada definitivamente”, disse.

Ainda segundo Arthur Koblitz, o protesto não foi chamado em defesa de Daniela Baccas, mas da governança do BNDES. “O técnico do BNDES não pode ser afastado das suas funções por conta de denúncias vazias. Depois de 15 dias dessas declarações e do afastamento da Daniela, não tem nem um horizonte de uma apuração interna, de uma averiguação interna porque não há nada, não há nenhum material encontrado. É uma situação esdrúxula”.

Ricardo Salles anunciou que prepara um decreto para alterar regras do Fundo Amazônia. Na semana ada, ele ventilou na imprensa a ideia de usar os recursos do Fundo Amazônia para indenizar proprietários rurais que possuem terrenos dentro de unidades de conservação e para o pagamento de policiais militares que farão “bico” na fiscalização das áreas protegidas.

“Na verdade o ministro quer subverter alguns propósitos do Fundo. Ele vem com essa história de irregularidades, mas ele quer fazer uma mudança em toda a estrutura do Fundo, mudar os órgãos de governança, o comitê que determina as funcionalidades do fundo para poder indenizar proprietários de terra que seja impactada por áreas de proteção ambiental. Isso significa, como dizem os ambientalistas, premiar criminosos ambientais, isso pode até estimular o desmatamento. O ministro está tão empenhado em fazer isso que está disposto a colocar o fundo em risco, atropelar os doadores que podem se cansar desse desrespeito e sair do fundo”, afirmou Arthur Koblitz, em entrevista a ((o))eco.

Fundo Amazônia

Considerado o principal mecanismo internacional de pagamentos por resultados de REDD+ (redução de emissões de gases de efeito estufa provenientes do desmatamento e da degradação florestal), o Fundo tem em carteira 103 projetos, no valor total de aproximadamente R$ 1,9 bilhão.

Criado em 2008, o Fundo Amazônia é financiado pela Noruega e Alemanha, que colaboraram com 93% e 6% do fundo, além do banco de desenvolvimento da Alemanha (KfW) e a Petrobras.

O ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, participou do protesto de hoje e relembrou a criação do fundo criado quando estava no comando do MMA. Segundo o ex-ministro, o que foi acordado na criação do Fundo, em 2008, eram que as doações dos países seriam feitas conforme os projetos são executados: “a condição é a redução do desmatamento”, disse.

“O decreto presidencial que eu e o Lula assinamos e que cria o Fundo Amazônia estabelece as regras e põe a gestão para o BNDES. Assumimos o compromisso de reduzir e garantir a participação da sociedade civil. A gente ganha cinco dólares por tonelada de emissão de carbono evitada. Na verdade, nós temos que primeiro reduzir para depois poder utilizar esse recurso”, disse.

Segundo Minc, pelo contrato estabelecido, as reduções na diminuição das emissões é tarefa do INPE. Também pelo acordado, o conselho gestor do Fundo Amazônia tem que ter representação da sociedade civil, inclusive os seringueiros, os povos indígenas, um representante do governo da Amazonas, dos prefeitos da Amazonas, de vários outros órgãos. “Por que isso? Porque se reconhecia que o esforço de redução do desmatamento não era só do governo, mas também da sociedade civil, da imprensa, dos cientistas. Portanto, o Fundo Amazônia não pertence a um governo, ele pertence à sociedade, está no contrato”, informa.

“Agora, eles querem mudar a medição, mudar os projetos, mudar a composição do Conselho e mudar a destinação, inclusive usar isso para indenizar proprietários da Amazônia. Mas já existe a compensação ambiental e isso está no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). O Fundo Amazônia não tem essa previsão. O que vai acontecer é que o Salles vai mudar a composição e o destino, eles não vão aceitar e se tiver esse ime, eles vão tirar 2,2 bilhões que não foram usados ainda”, afirma o ex-ministro.

 

Leia Também

Após declarações de Ricardo Salles sobre Fundo Amazônia, BNDES afasta diretora

Embaixada da Alemanha e entidades ambientais contradizem declarações de Salles sobre Fundo Amazônia

Governo anuncia que prepara um decreto para alterar regras do Fundo Amazônia

 

  • Sabrina Rodrigues ca2b

    Repórter especializada na cobertura diária de política ambiental. Escreveu para o site ((o)) eco de 2015 a 2020.

Leia também 84q8

Notícias
27 de maio de 2019

Governo anuncia que prepara um decreto para alterar regras do Fundo Amazônia 4t5s2n

Ricardo Salles se reuniu na tarde de segunda-feira (27) com representantes das embaixadas da Noruega e da Alemanha e declarou que governo federal estuda formular decreto para mudar regras

Reportagens
17 de maio de 2019

Embaixada da Alemanha e entidades ambientais contradizem declarações de Salles sobre Fundo Amazônia 2223b

Em coletiva, ministro do Meio Ambiente afirmou que há irregularidades em contratos do Fundo Amazônia. Auditoria foi feita pelo MMA sem apoio da Controladoria-Geral da União

Notícias
19 de maio de 2019

Após declarações de Ricardo Salles sobre Fundo Amazônia, BNDES afasta diretora 1c6c4h

Daniela Baccas foi afastada temporariamente, após ministro do Meio Ambiente convocar imprensa para anunciar suspeitas de irregularidades

Mais de ((o))eco 6q6w3q

bndes i6h1w

Salada Verde

R$ 100 milhões serão destinados à recuperação de vegetação nativa na Amazônia f4p3o

Salada Verde

União Europeia anuncia doação de R$ 120 milhões ao fundo amazônia 4n35c

Notícias

BNDES lança chamada de R$ 60 milhões para projetos voltados à conservação de corais qv6z

Salada Verde

Zoneamento marinho avança no Sul e Sudeste com R$ 19 milhões do BNDES 5f71

ibama 606926

Reportagens

Superlotação de animais e más condições geram nova crise no Cetas-RJ 1v428

Salada Verde

Boiada e seus donos devem sair de áreas que destruíram no Pantanal h1y5h

Salada Verde

Assassinato de onça-pintada será investigado pela fiscalização federal 3l4w5s

Salada Verde

Processo contra Salles por contrabando de madeira volta ao STF y6b42

política ambiental 6v2p2j

Análises

Em boa hora 6b1t6

Salada Verde

Países do BRICS querem US$ 1,3 tri para financiar ações climáticas 1m2a3j

Fotografia

Galeria: Veja como foram os atos contra o PL da Devastação 6g1o27

Salada Verde

Sociedade civil protesta contra PL que quer acabar com o licenciamento 6n1v2o

Caixa Postal 352x2y

Análises

Os oportunistas da notícia 152q3o

Análises

O MT Ilegal 14525b

Análises

Cadâ a pressa da licença ambiental? 6m2x2h

Análises

Biomas esquecidos 4z2q5k

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Comentários 2 5d6d45

  1. Gilmaria diz:

    Gostaria que o presidente do Brasil Jair Bolsonaro relatasse qual foi o critério que ele utilizou para colocar este homem como ministro do meio-ambiente.
    Se foi para acabar com a preservação das nossas riquezas naturais, ele colocou a pessoa certa.
    Agora quero saber onde está o poder judiciário e legislativo desse pais?


  2. Marta diz:

    Ataques ao BNDES = auditoria
    Servidores = associação aparelhada