Reportagens

Dengue, doença tão certa quanto o verão 5i1o28

Nos meses de calor, a dengue ataca. Para contê-la é preciso indicadores de infestação, educar a população e erradicar o mosquito Aedes.

Ecocomunicadores da Rede ParaTudo ·
15 de abril de 2014 · 11 anos atrás

 

Bodoquena, município de 8 mil habitantes localizado em Mato Grosso do Sul, quer precaução do governo contra a dengue. Foto:
Bodoquena, município de 8 mil habitantes localizado em Mato Grosso do Sul, quer precaução do governo contra a dengue. Foto:

 

É fim de março, ainda um período quente e de chuvas intensas, que favorecem a proliferação do mosquito Aedes, que ao picar pessoas, espalha o vírus da dengue, doença que causa febre, dores musculares e articulares fortes e, em casos graves, pode matar. A mortalidade é de uma pessoa a cada 1.000. No município de Bodoquena, Mato Grosso do Sul, a pergunta é se o governo está tomando as providências para minimizar o problema ou se só reage depois que o número de pessoas doentes aumenta.

De acordo com o site Campo Grande News, “no início deste ano [de 2014], a cidade [de Bodoquena] chegou a liderar a incidência de casos da doença em Mato Grosso do Sul com o registro de 195 casos suspeitos”.

Cristiane Geller, Veterinária e responsável pelo departamento de controle de vetores (animais como ratos, mosquitos e baratas que servem como intermediário da transmissão de doenças), do governo municipal, diz que “em Bodoquena, há precaução durante todo o ano, em especial nos períodos chuvosos”. O controle da dengue é feito através do borrifo de venenos, que matam o mosquito nos lugares em que ele ocorre.

Em Bodoquena, os casos se concentram no centro da cidade e nos bairros Jardim Planalto, Morro Verde e Pereira Solto. São os locais onde há mais pontos de água parada, onde as larvas do mosquito se reproduzem.

Devido às medidas do poder público, os casos estão diminuindo. As últimas medições mostram que foram registrados 6.083 casos em 2012, e 485 em 2013. Mede-se a incidência do dengue através de um programa chamado SISPNCD (Sistema do Programa Nacional de Controle da Dengue). O método LIRa (Levantamento de Índice Rápido), permite saber em curto espaço de tempo quais áreas têm alta infestação. Essas informações facilitam direcionar com mais eficiência ações da secretaria municipal de saúde contra a doença.

Para calcular o índice de infestação do mosquito, coletam-se as larvas, faz-se um relatório e o número de larvas é inserido em um programa de computador que calcula em que nível o programa está. Essas análises permitem mapear os casos e as regiões onde o problema é recorrente.

“É frequente o cidadão estar com dengue e não ir a um hospital ou ao centro de atendimento. Fica em casa, medica-se sozinho e, assim, não entra na estatística de casos notificados, o que dificulta saber onde estão os principais focos”, diz Rosangela Ferreira, agente de saúde do município.

Venenos usados no combate

Segundo Geller, um levantamento revelou que o inseticida Deltametrina não estava fazendo efeito. “Trocamos porque o mosquito se tornou resistente esse inseticida”, explicou Cristiane. Por isso, a Secretária de Saúde Municipal solicitou à Secretaria Estadual de Saúde a troca do inseticida pelo Malathion, eficaz para matar os pernilongos. Após a substituição, o número de casos despencou. Apenas um caso foi notificado em 15 dias, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde.

Cada veneno tem seus efeitos indesejáveis. Eles podem matar animais, por exemplo, como pássaros, peixes e insetos (dentre outros de pequeno porte). Outro problema é o veneno ficar grudado nas calhas das casas. Quando chove, ele escorre para rios e lagos e pode provocar a morte dos peixes.

O Deltametrina é um pesticida. Causa problemas no sistema nervoso dos insetos, mas pode ser danoso também a seres humanos, caso haja exposição. Já o Malathion é um composto químico tóxico. Nas pessoas, distorce os níveis de replicação do DNA celular e produz aberrações cromossômicas. Pode gerar efeitos como tonturas, convulsões, vômitos e diarreias e até causar câncer e infertilidade em homens e mulheres, segundo as informações da sua ficha técnica.

Educar para combater

Para reduzir os casos de dengue, o município tenta sensibilizar a população. Faz-se mutirão para coleta de lixo e os locais de maior incidência são notificados. Há uma proposta da população de aplicar multas a cada proprietário de residência e terreno onde seja encontrado foco do mosquito da dengue.

Escolas municipais e estaduais fazem um trabalho educativo com os alunos. O Programa de Erradicação do trabalho infantil (PETI) usa trabalhos artesanais educativos para ensinar o combate à dengue. Os agentes comunitários estão preparados para orientar a população de casa em casa.

Mas Bodoquena não está sozinha. A doença também afeta municípios vizinhos como Bonito, Corumbá e Miranda.

 

*O grupo ParaTudo Bodoquena é formado pelos jornalistas-cidadãos Bianca Silva de Souza, Elissandra A. Medeiros Barretos, Fernanda Évellyn, Thaiz Pereira, Alexsander Andrade, Letícia Stéfani, Ludmila Saldanha Escobar, Rosemeire dos Santos Araújo da Cunha

 

 Leia também
Só 35,2% das cidades brasileiras contam com rede de esgoto
Confira o ranking dos Estados com mais cidades do Brasil
Pesquisa relaciona malária com o desmatamento

 

 

 

  • Ecocomunicadores da Rede ParaTudo 6n6g2b

Leia também 84q8

Notícias
3 de junho de 2025

Iniciativa quer formar 1000 líderes pelo desmatamento zero no Brasil até 2030 55k4j

Comandada por André Lima, secretário do Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima, proposta oferece capacitação e troca de experiências com especialistas

Salada Verde
3 de junho de 2025

Coalizão com setores privado e financeiro engrossa coro contra o PL da Devastação z276c

Além de graves danos socioambientais, texto pode trazer mais insegurança jurídica, judicialização e perda de investimentos

English
2 de junho de 2025

Protected areas along an Amazon highway in sight of land grabbing, deforestation and fire 6f4c67

Finishing the pavement of BR-319 in Brazil could unleash an environmental destruction capable of irreversibly changing the world's climate

Mais de ((o))eco 6q6w3q

educação ambiental 5r1t20

Reportagens

A educação ambiental para além das escolas 4xt1b

Análises

Como a SPVS trabalha para educar e transformar a realidade ambiental no Paraná e no Brasil há 40 anos 2p3q59

Colunas

A ciência precisa estar conectada com a cultura  665d4a

Análises

A conservação ambiental também é azul 3k6f2o

comportamento 4h3t1g

Reportagens

Reduzir, reutilizar e reciclar: as regras do empreendedorismo verde 4f616y

Análises

Humanos, a espécie invasora suprema 5w661u

Reportagens

Pode haver água em Marte, mas será que existe vida inteligente na Terra? 3m1q46

Colunas

A multiplicação dos pets é um problema ambiental e ético 2u6i46

cidades 67414d

Notícias

Jardim de Alah, no Rio, terá manifestação neste sábado contra corte de árvores 182q3l

Reportagens

Crise global, soluções locais 46ir

Reportagens

A urgência da adaptação climática 5234

Reportagens

(in)justiça ambiental, para além de um conceito  4e631j

mudanças climáticas 1j5e1m

Salada Verde

Países do BRICS querem US$ 1,3 tri para financiar ações climáticas 1m2a3j

Salada Verde

Podcast investiga o que restou de Porto Alegre um ano após a enchente de 2024 2651j

Colunas

Por que os cristãos defendem o licenciamento ambiental 4o3a5d

Reportagens

“Brasil não pode ser petroestado e líder climático ao mesmo tempo”, alerta Suely Araújo 3q19z

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Comentários 1 2p2l4m

  1. Alícia diz:

    Muito bom o conteúdo! Gostaria de deixar uma leitura complementar sobre tratamento de dengue, caso tenha interesse em saber um pouco mais sobre esse assunto: https://blog.vitta.com.br/2020/07/15/tratamento-d