Reportagens

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Niède Guidon não pode mais garantir a integridade do Museu do Homem Americano e nem da Serra da Capivara, no Piauí. De promessas do governo ela já está cheia.

Carolina Mourão ·
29 de julho de 2005 · 20 anos atrás

Há três meses, valendo-se da repercussão do prêmio Faz Diferença, do jornal O Globo, a arqueóloga Niède Guidon peregrinou os ministérios e o Congresso Nacional em busca de ajuda para o Parque Nacional da Serra da Capivara. Voltou ao Piauí não só com uma, mas com várias promessas, incluindo ações que envolveriam seis ministérios em um Grupo de Trabalho para apoiar o desenvolvimento e garantir a segurança do Parque Nacional da Serra da Capivara e do Museu do Homem Americano no Piauí.

A batalha quixotesca de Niède, que já dura mais de 30 anos, é pautada desde sempre pela falta de apoio do maior interessado em seu projeto: o governo federal. Sem dinheiro para manter a segurança de todo o parque – atribuição do governo federal que tem sido realizada pela Fundação Museu do Homem Americano – e garantir a integridade dos sítios arqueológicos, ou do que ainda está para ser descoberto e estudado, Niède é pragmática: “Eu preciso de 400 mil reais por mês para esse Brasil daqui dar certo. É isso”. Para patrulhar a região, a arqueóloga conta com 180 pessoas, entre vigilantes e técnicos. “O ideal seria pelo menos 400 pessoas, pelo tamanho da área”. São 130 mil hectares. ”Já estou transferindo até a função de técnico para vigilante”.

Desta vez, quem vai a Brasília é a diretora científica da fundação, Anne-Marie Pecis, coordenadora do curso de pós-graduação em Arqueologia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela vai falar com os titulares dos ministérios da Cultura, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente, Turismo e ainda com o Ibama e a Unesco. Anne-Marie vai tentar, entre outras coisas, garantir dinheiro para a manutenção da segurança e a conservação do Parque. “O dinheiro acabou. Milagre tem limite. As autoridades precisam sentir o impacto que isso vai causar”, alerta. E ressalta. “Vou falar: do ponto de vista internacional vai ser péssimo para o Brasil, porque em 1991 o governo se comprometeu junto à Unesco a preservar este patrimônio. Só que vinte sítios já foram destruídos de forma irrecuperável”.

Na última visita a Brasília, ela recebeu uma série de promessas. Entre elas, uma do Ministério da Justiça, que anunciou a criação de um posto policial permanente na unidade de conservação. Mas até agora nada foi feito. O parque está cercado de invasões e o museu não pode mais pagar o salário dos vigilantes em detrimento de outras funções. Uma das invasões chegou para ficar. Chama-se Nova Jerusalém, segundo a placa que formaliza a vila, colocada há 20 dias no local. “Sofremos pressão diária de caçadores, ladrões, pessoas da cidade que estão atrás do dinheiro do Incra”, denuncia Niède.

A Polícia Federal prometeu abrir inquérito para apurar as ameaças dos sem-terra e tentar identificar os agressores do patrimônio público. O governo federal, montar um plano de medidas para desenvolver a região de forma sustentável. Nada ainda. Niède Guidon conta que o grupo de trabalho interministerial seria coordenado pela Casa Civil, e estudaria outras vocações para o desenvolvimento da região, como a de cultivo de plantas ornamentais. Até agora, só boas intenções. “Eu vou a Brasília, mas sei que as promessas são vazias, como foi da última vez”, lamenta.

Enquanto isso, na Câmara, os deputados Sarney Filho, Paes Landim, Paulo Delgado e Fernando Gabeira criaram uma comissão especial para tratar do assunto. Mas segundo Gabeira, os trabalhos ainda não começaram porque a crise do Mensalão atrapalhou. “A partir de 2 de agosto eu retomo minha agenda“, garantiu. “Queremos montar este grupo de trabalho e elaborar um relatório de prioridades. O grupo facilita porque ele precipita no governo uma ação mais rápida”, espera.

Guidon também espera. Faz tempo. “Nós fazemos muito mais do que é nossa parte. Compramos terrenos, vigiamos, fizemos projetos de hotéis, para garantir o movimento. O aeroporto é outra promessa. As obras estão paradas e não terminam nunca”, queixa-se. Mas quem não esmoreceu em 30 anos não há de desanimar tão cedo. Pelo menos sua indignação eles vão ter que continuar aturando.

  • Carolina Mourão 6a3r5j

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