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Na contramão da resistência federal, prefeitos norte-americanos adotam políticas ambientais para reduzir o aquecimento global. Exemplo disso é Salt Lake City.

Ana Antunes ·
26 de agosto de 2005 · 20 anos atrás

O governo Bush não é exatamente um modelo de política ambiental. Mas nos Estados Unidos cada vez mais prefeitos estão se opondo à agenda presidencial e trabalhando contra o aquecimento global no espaço que lhes cabe. Com o lema “think globally, act locally” (pense globalmente, aja localmente), esses políticos têm sido fiéis aos princípios do Protocolo de Kyoto, melhorando a vida da população e economizado dinheiro público.

Entre cidades, vilas e condados, o programa “Cities for Climate Change” (Cidades pela Mudança Climática) já conta com 158 participantes norte-americanos, incluindo as metrópoles Nova Iorque, Atlanta, Chicago, São Francisco, Los Angeles e Miami. O programa estabelece compromissos para as prefeituras, no sentido de adotar políticas que diminuam a emissão de gases, melhorem a qualidade do ar, a qualidade de vida e a sustentabilidade ambiental.

Para criar e cumprir seus planos locais, os governantes são ajudados pela ong ICLEI, criada em 1990 com o nome de International Council for Local Environmental Initiatives (Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais). Ela ainda mantém a sigla original, mas ganhou como lema “Local Governments for Sustentability” (Governos Locais pela Sustentabilidade). Todo ano, os participantes do programa Cities for Climate Changes evitam a liberação de 20 milhões de toneladas de gases causadores do efeito estufa na atmosfera e economizam 400 milhões de dólares dos contribuintes em energia e gastos com combustíveis.

Uma cidade que aderiu à cartilha do ambientalmente correto é Salt Lake City, no estado de Utah. O prefeito Rocky Anderson adotou os padrões do Protocolo de Kyoto e pretende reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa em 21% até 2012. Como parte do projeto, inaugurou em 1999 sete linhas de bonde que ligam o centro aos subúrbios. O resultado foi uma redução diária de cerca de 35 mil automóveis circulando na cidade. A dedicação ambiental não foi apenas uma demanda ideológica. É questão de saúde pública: Salt Lake é uma das cidades americanas com pior qualidade do ar .

O município investiu recentemente 3,5 milhões de dólares em uma usina de tratamento de esgoto que utiliza como fonte de energia o gás metano gerado pela decomposição de matéria orgânica. Mas nem todas as medidas são tão dispendiosas. Os edifícios públicos trocaram todas as suas lâmpadas incandescente por fluorescentes, ganhando com isso uma economia de 30%, ou 33 mil dólares por ano.

Salt Lake também aposta em energia alternativa. Os moradores da cidade já podem optar por comprar lotes de 100 kw de energia eólica para as suas casas. Como incentivo, o programa oferece descontos em lojas e ingressos para eventos culturais. Ao todo, já são 12 mil clientes fixos de energia eólica. Pode parecer pouco mas, para uma cidade de 182 mil habitantes, a adesão já ultraa os 5% da população.

Em abril deste ano, o prefeito de Salt Lake City anunciou que o consumo de petróleo pela frota municipal deve cair em 20% até o final de 2005. Para atingir suas metas, Anderson não contava com uma ajuda inesperada: o preço da gasolina está cada vez mais alto, o que leva os moradores a optar por transportes públicos ou pela bicicleta.

As ações de Anderson não se restringem à cidade que ele governa. Em julho, o prefeito recebeu, juntamente com o ator e ambientalista Robert Redford, outros 45 prefeitos de 28 estados americanos para discutir, em um encontro chamado Sundance Summit, meios de conter o aquecimento global nos municípios. Redford promete que o encontro acontecerá anualmente na sua estação de esqui, Sundance, que dá nome ao evento.

A população está aprovando as medidas ecológicas. Rocky Anderson é democrata e está no seu segundo mandato, em um dos mais conservadores estados norte-americanos. Utah deu a George Bush a maior vitória percentual do país nas últimas eleições, mas agora a população parece distante da antipatia do presidente por assuntos ambientais. Ryan Jensen, fotógrafo de 25 anos, é morador da cidade e aprova a preocupação do governo local. “Estou feliz que a cidade tenha avançado tanto nesta área, mas ainda há muito a ser feito”. Segundo Ryan, o desperdício de água, em um local que sofre com periódicas secas, ainda é um grave problema. Mais um para o prefeito colocar na agenda.

  • Ana Antunes 222330

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