Reportagens

Telhado à base de PET 1d5f3e

As garrafas de plástico são consideradas um dos principais ivos ambientais nos centros urbanos. Em vez de serem descartadas, porém, elas podem virar telhas resistentes.

Felipe Lobo ·
1 de março de 2010 · 15 anos atrás
Divulgação
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As famigeradas garrafas PET costumam permanecer centenas de anos na natureza após o descarte. Isso significa, entre muitos outros impactos ambientais, a redução na vida útil de aterros sanitários e a contaminação de lençóis freáticos, rios e redes de esgoto. O que pouca gente sabe é que há soluções para reintegrar a matéria-prima à linha de produção, algo capaz de reduzir o desmatamento e a emissão de gases do efeito estufa. Uma delas foi desenvolvida há menos de dois anos pela Telhas Leve, empresa com sede em Manaus (AM) e responsável por uma rede de revendedores em todo o país. São telhados feitos a partir das garrafas de água mineral e refrigerante.
 
A firma, criada em 1997 por Luiz Antônio Pereira Formariz e alguns sócios, começou a fabricar telhas em polipropileno. Mas, tempos depois, decidiu optar pelo material de plástico abundante no lixo doméstico e rico em qualidades. “O PET é a resina com maior durabilidade, tem uma vida útil muito longa. Além disso, trata-se de produto nobre. Como consumimos o líquido que vem em seu interior, nunca ou pelo processo de reciclagem. É virgem”, explica.
O processo para desenvolver a tecnologia capaz de transformar garrafas de plástico em telhas seguras não foi simples, mas teve o auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). A Telhas Leve se inscreveu, em 2009, no edital do Programa de Apoio à Pesquisa em Micro e Pequenas Empresas, iniciativa pública que conta com investimentos totais na casa de 6 milhões de reais para o Amazonas. O resultado não poderia ser melhor: cerca de 150 mil reais de incentivo do governo no caixa da firma para estudos e testes.
“ Acho a ideia da Telhas Leve muito interessante, porque trata-se de uma matéria-prima que se joga no lixo e, por exemplo, atravanca os igarapés de Manaus. Além disso, o baixo custo na sua aquisição tem reflexo no produto final. O retorno que temos é social, lá na frente”, garante Odenildo Sena, diretor presidente da Fapeam.
Atualmente, a empresa tem 28 funcionários fixos e capacidade para reciclar 24 toneladas de garrafas PET por dia. A oferta não é totalmente satisfeita porque só é possível conseguir por mês, em média, 80 toneladas do material em Manaus. O ciclo não é muito complicado: Luiz Antônio recebe o plástico na sede da Telhas Leve de, mais ou menos, cem cooperativas, muitas vezes prensado e sujo. Paga-se 800 reais por tonelada. Em seguida, o material é lavado duas vezes e transformado em espécies de flakes dentro de um moinho (pequenos pedaços que, unidos, formarão a telha). Nenhum processo é manual, a não ser a separação inicial do que chega à fábrica. Ao todo, cerca de 400 pessoas participam do trabalho, desde a coleta até a confecção final. “Depois, são mais dois processos de lavagem, um de separação dos rótulos, tampas e outras impurezas, nova lavagem e secagem. Neste ponto podemos armazenar e transformar em telha. Ao todo, temos potencial para produzir 10 mil metros quadrados do produto por mês”, assegura Formariz.
Similar à telha de barro, a feita com garrafas PET é um pouco mais cara: o metro quadrado custa 36 reais, enquanto a tradicional é adquirida por 19 reais na capital do Amazonas. O peso, no entanto, começa a dar uma boa diferença entre as duas. Enquanto a telha de plástico tem 5,8 quilos, a outra chega a 60 quilos. Por isso, o custo da estrutura de uma telha de barro gira em torno de 65 a 70 reais por metro quadrado. A daquela encontrada na Telhas Leve, porém, não a de 15 reais. Uma casa popular média necessita de 55 a 60 metros quadrados do produto.
Uma das maiores necessidades vistas pela equipe da empresa era saber qual a vida útil da telha oferecida. Para tanto, pediram ajuda ao departamento de engenharia de materiais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em São Paulo. Apesar de não serem 100% conclusivas, as respostas foram satisfatórias. “A máquina que temos aqui simula e acelera o envelhecimento. Em princípio, todos os plásticos sofrem perda de composição devido à ação de intempéries. A expectativa era de que ela durasse por volta de 50 anos, mas não chega a tanto. É possível fazer com que demore mais, com tratamentos especiais à base de resina de poliuretano, por exemplo”, afirma o professor Elias Hage, um dos responsáveis pelo estudo.
   

Entre as principais características das telhas plásticas estão a resistência ao ressecamento e a fixação através de abraçadeiras de nylons especiais, o que protege contra ventos fortes. Além disso, a inclusão de aditivos anti-raios ultra violeta (uv) permite maior combate à radiação solar. O principal, no entanto, é que utiliza um terço da matéria-prima necessária à fabricação das telhas de barro e não há desmatamento de florestas ou queima da lenha nos fornos. A telha utiliza um terço da matéria-prima necessária à fabricação das telhas de barro e não há desmatamento de florestas ou queima da lenha nos fornos. 

Serviço:
Telhas Leve Manaus
92. 36317562/ 32382471/ 91228338
[email protected]
www.telhasleve.com.br

  • Felipe Lobo 6k73

    Sócio da Na Boca do Lobo, especialista em comunicação, sustentabilidade e mudanças climáticas, e criador da exposição O Dia Seguinte

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