Reportagens

A pesca continua em Jauaperi 20t59

Rio ao sul de Roraima é alvo da pesca ilegal, onde pescadores desrespeitam período de defeso e ordem decretada pela Justiça. Moradores pedem criação de reserva na região.

Vandré Fonseca ·
15 de março de 2010 · 15 anos atrás

Clique no mapa explorar a região

Uma equipe de dez pessoas, formada por fiscais do Ibama e policiais do Batalhão Ambiental da Polícia Militar do Amazonas, está no rio Jauaperi, divisa com o estado de Roraima, para conter a atividade ilegal de pescadores comerciais na região. “A orientação é vasculhar toda a área. É um afluente do Rio Negro e lá existem muitos esconderijos e temos que verificá-los, conta o superintendente do Ibama no Amazonas, Mário Lúcio.

A pesca no rio Jauaperi e afluentes está proibida desde setembro por uma decisão da Justiça Federal. A medida foi tomada após o fim de um acordo de pesca, que vigorou na região até abril do ano ado. A falta de consenso entre as próprias comunidades impediu que o acordo fosse renovado.

O combate à atividade ilegal de pescadores foi feita por líderes comunitários da região. Eles buscaram também ajuda dos índios Waimiri-Atroari, que vivem em uma reserva vizinha ao Jauaperi. Os índios desceram até as comunidades de ribeirinhos para fiscalizar a atividade de pescadores, o que reduziu a atividade ilegal, segundo o superintendente do Ibama.

Mas alguns barcos permaneceram escondidos na região. Um agravante é que até o dia 31 de março vigora o defeso no Amazonas, período em que é proibida a pesca, para os peixes procurados pelos pescadores na região, tucunaré, matrinchã e jaraqui.

“Os pescadores estão na área, estão pescando lá. E além de pescar, estão estragando os peixes, porque só querem tucunaré, outros peixes eles não querem”, afirma a líder da comunidade de Sumaúma, em Roraima, Amélia Lima. “Eles jogam (os peixes que não querem), enterram, jogam na lagoa, atrás dos lagos”, completa.

Veja vídeo com entrevista de Amélia Lima

Ameaça à reprodução

A proibição determinada pela justiça atinge também a pesca esportiva do tucunaré, encontrado nas águas escuras da região. Na região do Baixo Rio Branco e do Jauaperi ocorre a reprodução do jaraqui e do matrinchã. Pescadores armam redes à espera de grandes cardumes que sobem através do Rio Negro até a região para se reproduzir.

A pesca, justamente no período em que os peixes estão se reproduzindo, ameaça estoques destas duas espécies, que estão entre as mais procuradas no mercado de Manaus.

Os moradores da região continuam divididos em relação à pesca. Alguns trabalham para os barcos geleiros de Novo Airão e Barcelos que atuam por lá. E a cachaça distribuída a moradores, como forma de pagamento pelo trabalho, aumenta a tensão na área. O líder da comunidade de Itaqüera, Rozan Dias da Silva, um dos autores da denúncia, chegou a sofrer ameaças de morte.

De acordo com Mário Lúcio, os pescadores têm uma rede de informantes na região, que usam rádios e até telefones por satélite para avisá-los sobre a chegada das equipes do Ibama.

A proposta para a criação de uma Reserva Extrativista (resex) no Jauaperi, que começou a ser articulada em 2001, continua aguardando uma decisão do presidente Lula. Para Mário Lúcio, a Resex traria melhores condições de controle da pesca na área. “Enquanto o rio é aberto, o pescado é um bem difuso, pertence a todos, enquanto uma reserva já levanta algumas condições para a atividade”, afirma.

Tramitação lenta

A criação da resex tem apoio da Rede Rio Negro, formada pelas organizações não-governamentais WWF, Fundação Vitória Amazônia (FVA), Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê) e Instituto Socioambiental (ISA). De acordo com o coordenador do Programa de Áreas Protegidas e Apoio ao Arpa do WWF, Francisco de Oliveira Filho, a proposta, que estava parada na Casa Civil, retornou ao Ministério do Meio Ambiente e ao Instituto Chico Mendes.
 
O WWF continua a atuar na região, para manter a mobilização em favor da resex entre as comunidades do Jauaperi e Baixo Rio Branco, já que entre os próprios ribeirinhos a proposta não é uma uninimidade. Mas principal oposição à resex vem do governo de Roraima. “O que está dificultando a criação da unidade extrativista é a anuência do governo de Roraima. Há uma negociação entre governo federal e estadual, mas não sei o teor desta negociação, como ela está evoluindo nos últimos meses”, afirma Francisco Oliveira Filho.

A região do Baixo Rio Negro e Jauaperi foi classificada como prioritária para a conservação pelo Programa de Pesquisa em Biodiversidade da Amazônia (PPbio). “Esta área permaneceu como prioritária, seja pelo regime de água, pela posição geográfica e características únicas que ali acontecem”, conta o coordenador do Programa de Áreas Protegidas do WWF.

*Vandré Fonseca é repórter em Manaus

  • Vandré Fonseca vd27

    Jornalista especializado em Ciências e Meio Ambiente.

Leia também 84q8

English
27 de maio de 2025

Two Brazilian monkeys among the world’s most endangered 6v5n2f

The newly published list of the 25 most endangered primates in the world raises alarms about the critically threatened status of the Pied Tamarin and the Caatinga Titi Monkey from Brazil

Notícias
27 de maio de 2025

Em audiência tensa no Senado, PL-bomba e Foz do Amazonas dominam a pauta 386zf

Ministra do Meio Ambiente Marina Silva deixa sessão da Comissão de Infraestrutura após discussão ríspida com parlamentares

Reportagens
27 de maio de 2025

Ajustes em trilha podem melhorar sua função de corredor ecológico no Cerrado 3w201a

Desenho estratégico de 'rodovias verdes' colabora ainda mais para conservar espécies animais e de plantas, mostra estudo

Mais de ((o))eco 6q6w3q

conflito ambiental 371e48

Colunas

A base dos conflitos socioambientais escapa das lentes do jornalismo  3r3t44

Notícias

InfoAmazonia: A luta pela Amazônia a por França, diz o chefe Raoni 6p2h3l

Notícias

InfoAmazonia: Novas territorialidades e conflitos na Amazônia: IIRSA s2s

Notícias

Metade das mortes de ambientalista no mundo ocorreu no Brasil 6u5c1a

resex 1i1438

Notícias

Livro dá voz aos moradores de reserva extrativista na Amazônia p2x3k

Vídeos

Extrativistas são ameaçados por pecuaristas dentro da Resex Jaci-Paraná, em Rondônia 123b64

Dicionário Ambiental

O que é uma Reserva Extrativista 3u5s2d

Reportagens

Jovens da Resex Chico Mendes monitoram a floresta 6f2jj

pesca c475h

Reportagens

Gestão nacional da pesca melhora, mas ainda ameaça a vida marinha 3b6aj

Salada Verde

STF adia julgamento final sobre a Cota Zero da pesca em Mato Grosso 475137

Notícias

Países liberam rios para salvar peixes migradores h3a1w

Notícias

83% das espécies de raias e tubarões comercializadas no Brasil estão ameaçadas 1w666z

amazônia ia40

Notícias

Em audiência tensa no Senado, PL-bomba e Foz do Amazonas dominam a pauta 386zf

Notícias

Brasil tem 34 espécies de primatas ameaçadas de extinção 3y45o

Colunas

No jogo das apostas, quais influenciadores apostarão na Amazônia? 1a2m6g

Notícias

Degradação da Amazônia cresce 163% em dois anos, enquanto desmatamento cai 54% no mesmo período 1b2369

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Comentários 1 2p2l4m

  1. Juruna diz:

    Tem gente fazendo pesca ilegal com barco hotel em tio jauaperi todo ano apartir do mês de agosto,pra quem denunciar?