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Nortão Dia 6 – Em busca de soluções para o desmatamento a315m

Os pesquisadores da Embrapa acreditam em soluções para os fazendeiros da região gerarem mais renda com a preservação da floresta em pé.

Redação ((o))eco ·
8 de novembro de 2012 · 13 anos atrás
O Ibama doou madeira apreendida para a construção da sede da Embrapa em Sinop. Para cada coluna de madeira recebida, plantou-se uma espécie local. Clique nas fotos abaixo para ampliar. Fotos: Fabio Pellegrini
O Ibama doou madeira apreendida para a construção da sede da Embrapa em Sinop. Para cada coluna de madeira recebida, plantou-se uma espécie local. Fotos: Fabio Pellegrini

Ouvi do prefeito eleito de Feliz Natal que a terra desmatada e limpa vale mais do que a terra intocada. Perguntei o por quê.

– O processo de ocupação, derrubada e extração vem atrelado a essa ideia de valorização dos terrenos. Hoje, observa-se preços muito altos e em alguns casos totalmente desconectados da realidade. Não só aqui em Sinop, mas também em Sorriso e Lucas do Rio Verde, que despontam na atividade agrícola”, disse Júlio.

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A estrutura valorizou a madeira confiscada em operações de fiscalização.

Qual a responsabilidade e como a Embrapa tenta transformar a cultura do desmatamento?

– Um dos grandes desafios da nossa unidade é tentar ajudar a sociedade a entender essa transformação e a mudança de perspectiva com relação à exploração da floresta e dos recursos naturais. O que pretendemos é buscar alternativas para compatibilizar desenvolvimento e conservação. Temos clara a ideia de que não é correto apontar o dedo para o madeireiro e para o pecuarista pioneiros e dizer que eles são os únicos responsáveis pela degradação ambiental. A gente precisa dar alternativas para que se adequem.

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– Na parte de manejo, estamos começando, agregando conhecimento através de parcerias com pesquisadores de outras instituições. Há boas expectativas não só para o setor madeireiro, mas também para produtos derivados da biodiversidade da floresta, como sementes, frutos, resinas, fármacos, disse Ingo.Ingo Isernhagen relata sobre a linha de frente de projetos e das parcerias com o poder público, iniciativa privada e terceiro setor.

– Desde 2010, participo de um time de pesquisadores que pesquisa de restauração florestal. Ele tenta mudar a percepção de área de reserva legal como área improdutiva. O projeto vai testar diferentes métodos de restauração, desde o plantio de mudas nativas, semeadura direta e condução de regeneração natural. O nosso grande desafio é mudar a perspectiva, provar que manter a reserva legal, por exemplo, é um investimento e provar que o produtor pode até ganhar mais dinheiro do que se desmatasse e plantasse, ou transformasse a área em pastagem. Aquilo que o agricultor veria como a saída de dinheiro pode, na verdade, ser entrada de dinheiro.

E como isso é possível?

– A intenção é mostrar ao produtor, desde o início, como planejar a floresta ou cerrado para produzir frutos, sementes, madeira, formar uma apicultura ou turismo rural. Enfim, alternativas para complementar a renda. O projeto piloto será implantando em 5 localidades, e já começou.

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O que especificamente será estudado?

– Em cada uma dessas áreas vamos avaliar o solo, o desenvolvimento da estrutura da comunidade florestal, o microclima, os recursos hídricos… Investigaremos qual modelo é mais interessante, a parte de carbono, tanto no solo, quanto a emissão, toda a parte técnica, insumos, maquinário, qual o mais adequado… E permeando todos esses modelos está o trabalho dos economistas que vão avaliar quanto custou e quanto cada área gerará de renda. Em alguns lugares já vislumbramos resultados positivos e a baixo custo para um investimento de longo prazo. Não queremos substituir a soja nem a pecuária, mas queremos reverter a percepção da reserva legal como área improdutiva.

Segundo a Empaer (Empresa Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural), 74% das propriedades rurais de Mato Grosso são de pequenos produtores. A maior parte dos projetos de pesquisa estão voltados para esse grupo.

E chegou a hora de voltar. Ao longo de uma semana acompanhei a fiscalização in loco do Ibama, sobrevoei a floresta, presenciei focos de degradação e áreas de lavoura, me surpreendi com fiscais do meio ambiente jogando bitucas de cigarro no chão, conheci uma cidade onde outrora fora floresta, conversei com um madeireiro que gosta da legalidade, entrevistei o prefeito eleito de um dos municípios campeões de desmatamento, ouvi taxistas e garçons, comerciantes que estão na região desde o início da colonização, e conheci jovens pesquisadores em busca de soluções efetivas para o dilema do “Nortão de Mato Grosso”: desenvolver sem degradar.

Do avião, voltando para casa, em Campo Grande, vejo a teia de retalhos da terra antropizada em contraste com faixas verde-escuras, irregulares, de reservas legais e matas ciliares. A floresta original recua.

Batizado pelos intrépidos bandeirantes, nos idos do século XVII em busca de riquezas (como os colonos contemporâneos), o velho Mato Grosso vai deixando de ser inóspito e desconhecido ao mesmo tempo em que se esvai seu coração de natureza.
 

 

Todos os relatos dessa reportagem
Chegada a Sinop – a cidade que um dia foi floresta
Dia 1 – A primeira operação de apreensão a gente nunca esquece
Dia 2 – Sobrevoando a maior floresta do mundo
Dia 3 – O desafio da extração legal
Dia 4 – Uma conversa com o novo prefeito de Feliz Natal
Dia 5 – A relação das pessoas com a madeira
Dia 6 – Em busca de soluções para o desmatamento

 

 

 

  • Redação ((o))eco 43176a

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