Reportagens

Mineração na Colômbia, horizonte de esperança ou caos 4q2x29

Grandes empresas entrarão em áreas das mais conservadas e biodiversas na Amazônia. Mas o governo diz que isso ajudará na conservação.

María Clara Valencia ·
5 de dezembro de 2012 · 12 anos atrás
Pequena mineração ilegal se expande pela Amazônia colombiana. Crédito: Diana Mora.

*Este artigo faz parte do especial de lançamento do atlas “Amazônia sob Pressão”. Clique aqui para saber mais

Colômbia Abrir o Amazonas à mineração é como dizer “se tem criminalidade, então organizo os criminosos para que funcionem de forma mais organizada”. Assim define a iniciativa das áreas estratégicas de mineração que anunciou recentemente o governo, o especialista em economia ambiental e professor da Universidade Javeriana Guillermo Rudas.

Aproximadamente 17,6 milhões de hectares no Amazonas, no Chocó (zona do Pacífico) e a Orinoquia fazem parte dessas zonas, de acordo com o anúncio feito pelo presidente Juan Manuel Santos durante a Cúpula Rio+20.

Embora o governo tenha dito que seu objetivo é combater a ilegalidade e organizar uma indústria que já se expande na região, especificando os lugares que se podem tocar e quais não, além de elevar as exigência para o ingresso das empresas, Rudas considera que o movimento ocorre em sentido contrário à ideia de proteger a Amazônia. “A mineração tem e terá muito que ver com os conflitos na Colômbia”, diz.

“É um paradigma, porque o estado não tem capacidade de gerar ações de controle a essa atividade”, afirma Rudas. Ele argumenta que como o estado é incapaz de conservar as áreas protegidas, termina justificando uma política na contramão, entregando títulos de mineração na Amazônia e excluindo da área de conservação as zonas mais frágeis.

Ele enfatiza em que, contrário a o que o governo está fazendo, é preciso fortalecer o estado e às comunidades, porque não tem sentido assumir uma posição de promover a mineração numa zona de alta fragilidade. “As empresas mineradoras têm mostrado irresponsabilidade em todo o mundo e o desenvolvimento econômico será danificado se a Colômbia compromete o capital a longo prazo, apresentando-o como uma alternativa de conservação. O que o presidente fez na Rio+20 foi um ofensa”, assegura.

Poluição para zonas melhor conservadas

A região do Guainía é uma das mais biodiversas e melhor conservadas da Amazônia colombiana. Crédito: Diana Mora.

Esta posição é compartilhada por Julio Fierro, especialista em mineração e professor da Universidade Nacional de Colômbia. Para ele é irracional o que propõe o governo, de gerar como mecanismo de proteção da Amazônia uma atividade predatória que é tóxica e historicamente trouxe violência.

“É tóxica desde o ponto de vista ambiental porque usa químicos que não se desfazem em centenas de milhões de anos”, explica.

Fierro diz que a zona que o governo tem na mira é o oriente Amazônico (departamentos de Guainía, Vaupés, Vichada e um pedaço do Amazonas) que é mais biodiversa da região por suas elevações montanhosas e temperaturas diferenciadas; além disso, é hoje a área mais inexplorada e por isso pode se conservar.

“Lá se vai substituir a mineração ilegal pela legal, o que na Colômbia historicamente tem provado não trazer beneficio. Com a mineração chega a ampliação de os, e população. E também, esta iniciativa já levou à divisão das comunidades indígenas: uns que percebem que isso não vai ser bom e outros que vem a possibilidade de dinheiro fácil”, diz.

Ele lembra que historicamente nas zonas de mineração é onde se tem concentrado alguns dos povoados mais violentos do país, com prostituição, pobreza, e erosão por maltrato do ambiente. “Por isso a mineração legal não é a solução para a ilegal”.

“Agora a Amazônia se está organizando em torno da mineração e não ao contrario. A proposta do governo não tem sensatez”, lamenta.

Aliança Brasil – Colômbia, uma esperança?

Martín Von Hildebrand, diretor da Fundação Gaia Amazonas tem uma visão diferente. “Temos que ser otimistas. Tivemos uma avalanche de títulos de mineração entre 2009 e 2010; foram entregues quase 2.000 títulos com só mostrar a cédula e pagar 50.000 pesos. Este governo não quer confusão e colocou um basta na mineração”, diz.

Ele conta que houve uma longa discussão da que participou e que concluiu em que não haveria mineração na Amazônia por enquanto, por razões de segurança nacional; segurança em termos geopolíticos, não militares. Mas justo antes da Rio+20, no Ministério de Defesa houve inconvenientes em que o conceito de segurança poderia ser confundido com a militarização. Nesse momento o Instituto Colombiano de Geologia e Mineração (Ingeominas) se converteu na atual Agência Nacional de Mineração e surpreendentemente lançaram a resolução 0045 de mineração estratégica, a mesma anunciada no Rio de Janeiro. Mas nisso, Hildebrand não participou.

Mas para ele, é positivo que seja proibida a pequena mineração e que se evite caos exigindo altos padrões às grandes empresas. Além disso, uma resolução recente garante que não será anulada a figura de reserva florestal até que seja feita um zoneamento claro e que se defina o que será a reserva floresta protetora (dedicada exclusivamente à conservação) e a reserva florestal produtora.Ele conta que houve uma longa discussão da que participou e que concluiu em que não haveria mineração na Amazônia por enquanto, por razões de segurança nacional; segurança em termos geopolíticos, não militares. Mas justo antes da Rio+20, no Ministério de Defesa houve inconvenientes em que o conceito de segurança poderia ser confundido com a militarização. Nesse momento o Instituto Colombiano de Geologia e Mineração (Ingeominas) se converteu na atual Agência Nacional de Mineração e surpreendentemente lançaram a resolução 0045 de mineração estratégica, a mesma anunciada no Rio de Janeiro. Mas nisso, Hildebrand não participou.

Gaia Amazonas, em aliança com os Ministérios de Cultura do Brasil e da Colômbia, com a Fundação Tropenbos e outras organizações, está trabalhando com comunidades nesse zoneamento, para fazê-lo de maneira participativa, já que mais de 50% desse território é indígena.

A ideia é gerar um sistema de lugares sagrados e de usos do Amazonas. Nesses lugares (em áreas que incluem o noroeste brasileiro) não se poderá realizar mineração. “Existe um acordo binacional Brasil-Colômbia para cuidar o patrimônio indígena no noroeste amazônico”, explica.

“O mapa é feito com imagens de satélite que darão um grande detalhe”, diz Hildebrand.

Porém, não obstante esta voz de esperança, Guillermo Rudas e Julio Fierro são enfáticos em afirmar que apesar de que se protejam algumas zonas, a mineração não gera impactos específicos, mas sim afeta todo o resto.

“Durante o governo de Virgilio Barco (1984 – 1990) foram estabelecidas diretrizes para a Amazônia, e foi decidido que esta região devia estar fora da lógica do mercado. Agora chega isto (a resolução) prejudicando, de um governo que se diz ambientalista, mas que atua contrário a essa decisão do Estado”, conclui Rudas.

 

  • María Clara Valencia 5f3t5m

Leia também 84q8

Análises
23 de maio de 2025

Que semana, hein? 3c4zy

Apesar das batalhas perdidas e dos ciclos que se fecham, a luta ambiental tem que seguir

Notícias
23 de maio de 2025

O Brasil e o mundo dão adeus a Sebastião Salgado, que viveu 81 anos de histórias e imagens 495p32

O fotógrafo dedicou grande parte da vida aos temas humanistas e ecológicos, incluindo a restauração de ambientes naturais

Análises
23 de maio de 2025

Pela transição energética Norte-Sul pactuada na COP30 5g4n1l

Uma tal prioridade técnico-econômica tanto levaria à substituição mais rápida das fontes energéticas predominantes, quanto ampliaria o leque das demais renováveis e superaria o ime Norte-Sul

Mais de ((o))eco 6q6w3q

amazônia colômbia 4j167

Reportagens

Apagar as Motoserras 4t403i

Reportagens

Com orçamento desfalcado, Colômbia quer expandir áreas protegidas 3p6w5r

Notícias

O maior programa para monitorar a Amazônia está na Colômbia 135e2s

Notícias

InfoAmazonia: Buscadores de ouro ameaçam a Amazônia colombiana 37x12

mineração l37n

Notícias

Quais os problemas brasileiros citados em relatório global sobre crimes ambientais? 2c1l2w

Salada Verde

Mais de 3.900 minas estão abandonadas no Brasil, diz estudo 461t5m

Reportagens

Destruição de caverna em Minas Gerais alerta para falhas no licenciamento 18381g

Notícias

Campos rupestres ganham destaque em plano de conservação de Juiz de Fora 6v6jw

fauna 1xr1c

Notícias

A alta diversidade de aves em Bertioga, no litoral de SP 4o4w5q

Notícias

Petrobras avança mais uma etapa no processo para exploração da Foz do Amazonas 363h63

Salada Verde

Ação prende casal que capturou macaco-prego no Parque Nacional da Tijuca 6j353g

Salada Verde

Plataforma aborda tráfico de animais em três países 4m829

unidades de conservação 5p295q

Colunas

Mercantilização e caos no licenciamento ambiental brasileiro 1o156g

Notícias

Com mudanças de última hora, projeto-bomba do Licenciamento é aprovado no Senado 4h5y5t

Salada Verde

Ação prende casal que capturou macaco-prego no Parque Nacional da Tijuca 6j353g

Reportagens

Maior área contínua de Mata Atlântica pode ser mantida com apoio do turismo 1525x

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.