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Supermercado usa o próprio lixo para fazer compostagem 636y13

Uma das grandes redes da cidade do Rio de Janeiro tem programa para reciclar seus resíduos orgânicos, mas diz que não sai barato.

Fabíola Ortiz ·
24 de março de 2014 · 11 anos atrás

Projeto transforma 3 toneladas de lixo orgânico em adubo. Compostagem é feita em parceria com a empresa Videverde (Venativ), em Magé, no Rio. Foto: Divulgação
Projeto transforma 3 toneladas de lixo orgânico em adubo. Compostagem é feita em parceria com a empresa Videverde (Venativ), em Magé, no Rio. Foto: Divulgação

Rio de Janeiro – As redes de supermercados são as responsáveis por gerar a maior quantidade de lixo orgânico. Boa parte deste material é descartado nos aterros sanitários sem ar por qualquer processo de separação ou reciclagem. Na contramão, a Zona Sul, uma das grandes redes no Rio de Janeiro, decidiu investir em um programa para transformar o lixo gerado em suas lojas em adubo orgânico.

O lixo orgânico é aquele resíduo de origem vegetal ou animal, como restos de alimentos (carnes, vegetais, frutos, cascas de ovos). Em seu processo de decomposição, esse lixo produz o chorume, um líquido viscoso que pode provocar contaminação de ambientes naturais como solo e águas.

Se não aproveitado de forma correta, o resíduo orgânico perde seu grande potencial que é o de gerar energia e ainda transformar-se em um importante produto para adubar a terra. É através da compostagem que é possível aplicar um conjunto de técnicas para transformar o que, a princípio, não teria mais valor em um produto útil.

A compostagem é um processo de transformação de matéria orgânica em adubo com a ação de bactérias em alta temperatura. Este processo é também conhecido como uma forma de se reciclar o indesejável e mal cheiroso lixo orgânico.

Descarregando os resíduos orgânicos que se transformarão em adubo através da compostagem. Foto: divulgação Zona Sul
Descarregando os resíduos orgânicos que se transformarão em adubo através da compostagem. Foto: divulgação Zona Sul

Há cinco anos, a Zona Sul resolveu separar as 5 toneladas de lixo orgânico geradas nas 33 lojas e mandar para a compostagem. Após a triagem do lixo, restam 3 toneladas que se tornam matéria-prima para transformar-se em adubo, que pode ser usado na agricultura, jardins e plantas.

“O que geramos de resíduos orgânicos em toda a nossa rede é praticamente uma cidade, pois temos cinco mil funcionários. A gente começou a pensar na ideia da compostagem”, contou a ((o))eco Fortunato Leta, diretor-presidente da rede Zona Sul. “O desafio era retribuir para a sociedade e diminuir a carga de resíduos que a gente leva para os aterros”, disse em uma conversa durante o seminário “Gestão Integrada de Resíduos Sólidos – Como transformar lixo em dinheiro“.

A ideia começou a tomar corpo em 2009 e hoje, já são produzidos 30 toneladas de adubo orgânico através de empresas parceiras. Apenas a rede em si mobiliza 150 funcionários para trabalhar no processo de seleção do lixo enviado para a compostagem. Uma parte é feita com uma empresa parceira no município de Magé, a 60 km da capital fluminense, e outra parte segue para a Comlurb, que compra o lixo para fazer composto orgânico e utilizar em praças e encostas.

Compostagem ainda é cara

“Ainda não consegui fechar os custos. Meu discurso está antenado com a ação, mesmo não valendo a pena economicamente”
 

Leta diz que esta iniciativa de reciclagem de lixo orgânico é pioneira no setor de redes de supermercados no estado do Rio, mas ainda não se paga. “Arrisco a dizer que somos os únicos na indústria de supermercado que fazemos esse projeto no Rio, ou seja, aproveitar o lixo e não levá-lo para o aterro”. No entanto, ele garante que sai “muito mais barato” jogar o lixo no aterro sanitário. “Ainda não consegui fechar os custos. Meu discurso está antenado com a ação, mesmo não valendo a pena economicamente”, disse. O adubo orgânico derivado do lixo reciclado volta às prateleiras das lojas do Zona Sul em embalagens de 2 quilos.

Para Leta, o desafio agora é participar de todo o ciclo que envolve desde a geração de lixo, reciclagem, adubação e produção de cultivos orgânicos. Em um projeto ainda piloto, a rede alugou um pequeno terreno onde planta pimenta em 4 mil metros quadrados de área. A primeira safra da pimenta foi colhida recentemente de um solo também certificado como orgânico.

“Conseguimos uma parceria de um produtor orgânico em Magé próximo à empresa que faz a compostagem e lá estamos produzindo pimenta. É a nossa primeira experiência. Queremos participar do ciclo completo. Se der certo, vamos expandir”, disse Leta.

 

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  • Fabíola Ortiz 381p72

    Jornalista e historiadora. Nascida no Rio, cobre temas de desenvolvimento sustentável. Radicada na Alemanha.

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