Reportagens

Da Amazônia às prateleiras do Brasil 8447

Estudo aponta empresas beneficiadas pelo desmatamento ilegal na Amazônia que abastecem mercado paulista. Entre infratores estão grandes marcas, conhecidas em todo o país.

Redação ((o))eco ·
15 de outubro de 2008 · 17 anos atrás

Todo mundo sabe que produtos da pecuária e do extrativismo na Amazônia abastecem os grandes mercados consumidores do país. O nome de quem está por trás desta cadeia – muitas vezes alimentada por práticas ilegais – é que, não raro, corre à sombra do conhecimento da população. Entre os estados beneficiados pela devastação, São Paulo figura no topo da lista.

Segundo o Ibama, os paulistas consomem 23% da carne que sai da floresta, por exemplo, o que representa mais do que o dobro do volume adquirido pelos dois estados que ocupam o segundo lugar, Paraná e Minas Gerais, ambos com 11%. Para entender o quanto São Paulo é responsável pela perda da floresta, o Fórum Amazônia Sustentável e o Movimento Nossa São Paulo lançaram esta semana um estudo que aponta as principais conexões deste comércio.

O trabalho, realizado pela ONG Repórter Brasil e Papel Comunicação Social, centrou-se na bacia do Rio Xingu, como representativa de toda a floresta. Mais da metade de seus 51 milhões de hectares, divididos entre os estados do Mato Grosso e Pará, está dentro de Terras Indígenas e Áreas de Conservação. Mas nem por isso deixa de sofrer grande pressão das ações humanas. Por lá é possível encontrar de tudo: grilagem de terras; desmatamento ilegal; trabalho escravo; êxodo e poluição.

Durante quatro meses, dez pesquisadores acompanharam a rota das várias matérias-primas responsáveis por este quadro. Concluíram que a situação favorece grandes empresas intermediárias, que compram produtos irregulares, os beneficiam e os vendem até com selo de certificação e sob a figura da sustentabilidade. Nas prateleiras paulistas não aparece o lastro da destruição que ficou para trás.

Grandes responsáveis

No relatório, os pesquisadores não se ativeram à conexão Amazônia – São Paulo de forma genérica. Pelo contrário, o documento aponta, sem dó nem piedade, os grandes responsáveis pela manutenção deste fluxo de comércio. Isto é, boi, soja, madeira e carvão manejados irregularmente. “Mas não é uma acusação, senão teríamos de acusar a todos nós, que consumimos os produtos”, justifica Leonardo Sakamoto, um dos coordenadores do projeto.

A madeira, segundo ele, é emblemática na relação de exploração com São Paulo. Dados do Ministério do Meio Ambiente apontam que cerca de 12,7 milhões de metros cúbicos de madeira da Amazônia abastecem os mercados paulistas. Mas estes são apenas os números oficiais. Os outros cerca de 90% do produto extraído ilegalmente não são contabilizados.

Na lista de empresas beneficiárias de atividades ilegais ligadas à derrubada das florestas estão Tramontina, IndusParquet, Sincol e Metalsider. Para se ter uma idéia do tamanho do mercado abrangido por elas, vale alguns exemplos: o faturamento total da Tramontina em 2007 chegou a 2 bilhões de reais; já a IndusParquet, produtora de pisos de madeira, abastece shoppings como D&D e Lar Center, lojas Louis Vutton e Empório Armani e até o palácio Presidencial da Romênia.

Entre os crimes dos quais elas seriam coniventes estão a compra de material proveniente de áreas embargadas pelo Ibama e comércio com empresas multadas por beneficiamento de madeira ilegal, envolvimento em grilagens de terras e prática do trabalho escravo. Todas as empresas negam as acusações e garantem que seus produtos são certificados.

Clique no gráfico para ampliar
Clique no gráfico para ampliar
Na manhã desta quarta-feira (15), o ministro Carlos Minc garantiu que parte do Fundo Amazônia será destinado aos trabalhos de “rastreamento, mapeamento e monitoramento” da cadeia produtiva dos produtos e sub-produtos provenientes da Amazônia. Ele também afirmou que não medirá esforços para que, em cada produto das prateiras dos supermercados, esteja indicada a área da floresta da qual é proveniente.

  • Redação ((o))eco 43176a

Leia também 84q8

Salada Verde
3 de junho de 2025

Decreto acrescenta 400 hectares ao Parque Estadual Restinga de Bertioga 1c3e3i

Ampliação visa compensar remoção de áreas habitadas de dentro do parque estadual paulista e ajuda a consolidar corredor ecológico da Mata Atlântica costeira

Salada Verde
3 de junho de 2025

((o))eco é um dos finalistas do Prêmio de Jornalismo Digital Socioambiental 386q1h

Investigação da repórter Alice Martins sobre o futuro de Marajó, no Pará, concorre na categoria “Melhor Reportagem Socioambiental” do prêmio dado pela Ajor

Notícias
3 de junho de 2025

Iniciativa quer formar 1000 líderes pelo desmatamento zero no Brasil até 2030 55k4j

Comandada por André Lima, secretário do Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima, proposta oferece capacitação e troca de experiências com especialistas

Mais de ((o))eco 6q6w3q

oceanos 5b3867

Reportagens

O quão pouco já vimos das profundezas do mar 6e6p51

Salada Verde

APA Baleia Franca sob ataque: sociedade protesta contra tentativa de redução 4k2y6n

Notícias

Projeto quer reduzir APA da Baleia-Franca, em Santa Catarina v3z5v

Salada Verde

Trilha Transcarioca terá trecho oceânico até arquipélago das Cagarras 5a36r

amazônia ia40

Notícias

Onda de apoio a Marina Silva após ataques sofridos no Senado une ministras, governadoras e sociedade civil 3h52q

Notícias

Em audiência tensa no Senado, PL-bomba e Foz do Amazonas dominam a pauta 386zf

Notícias

Brasil tem 34 espécies de primatas ameaçadas de extinção 3y45o

Colunas

No jogo das apostas, quais influenciadores apostarão na Amazônia? 1a2m6g

ibama 606926

Reportagens

Superlotação de animais e más condições geram nova crise no Cetas-RJ 1v428

Salada Verde

Boiada e seus donos devem sair de áreas que destruíram no Pantanal h1y5h

Salada Verde

Assassinato de onça-pintada será investigado pela fiscalização federal 3l4w5s

Salada Verde

Processo contra Salles por contrabando de madeira volta ao STF y6b42

mudanças climáticas 1j5e1m

Salada Verde

Países do BRICS querem US$ 1,3 tri para financiar ações climáticas 1m2a3j

Salada Verde

Podcast investiga o que restou de Porto Alegre um ano após a enchente de 2024 2651j

Colunas

Por que os cristãos defendem o licenciamento ambiental 4o3a5d

Reportagens

“Brasil não pode ser petroestado e líder climático ao mesmo tempo”, alerta Suely Araújo 3q19z

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.