Reportagens

Fala de ministro brasileiro sobre entrada do Brasil na OPEP+ repercute mal em Dubai 47213r

Governo Lula lança fundo global para proteção das florestas e reforça compromisso do país com o plano de transição ecológica

Cristiane Prizibisczki ·
1 de dezembro de 2023 · 1 anos atrás

O segundo dia da Conferência do Clima da ONU, que acontece em Dubai pelas próximas duas semanas, foi marcado pelas declarações inflamadas de chefes de estado das nações participantes. Para o Brasil, no entanto, a fala de um ministro de Lula repercutiu mal e acabou abafando as iniciativas lançadas pelo governo brasileiro.

Na tarde de quinta-feira (30), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que era quase certa a entrada do Brasil no grupo ampliado da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP+). Segundo Silveira, o Brasil “não assumirá nenhum compromisso com corte de produção [de petróleo]”.

A fala não poderia chegar em pior momento. Em seu discurso na sessão de abertura da COP nesta sexta-feira, Lula afirmou que o Brasil pretende liderar o processo de transição energética e o combate às mudanças climáticas “pelo exemplo”.

O presidente falou da gravidade da situação em que o meio ambiente se encontra e cobrou dos países desenvolvidos investimento no enfrentamento às mudanças climáticas e na redução da emissão de gases causadores do efeito estufa.

“O Brasil está disposto a liderar pelo exemplo […] o planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos. Os governantes não podem se eximir de suas responsabilidades. Nenhum país resolverá seus problemas sozinho. Estamos todos obrigados a atuar juntos além de nossas fronteiras”, disse o presidente brasileiro.

O convite para que Brasil entre na OPEP+ – grupo ampliado de discussões do cartel mundial do petróleo – foi feito na quarta-feira, durante a agem do presidente Lula por Riad, capital da Arabia Saudita, e formalizado por meio de uma carta que o ministro Alexandre Silveira recebeu ontem.

Lula não falou com a imprensa neste segundo dia de Conferência do Clima, mas seus ministros foram procurados para comentar a fala de Silveira. No final da tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, minimizaram o impacto da fala de seu colega.

“A indústria do petróleo é a primeira que tem que investir em descarbonização e se possível, ampliar muito os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para transição ecológica. Nós temos que deixar de consumir o petróleo não porque ele vai acabar, mas porque a gente tem outras fontes para usar”, disse Haddad.

Marina Silva também relativizou a participação do Brasil na OPEP. “O Brasil não vai participar da OPEP, vai participar como observador, inclusive para usufruir daquilo que são os debates e os aportes tecnológicos, inclusive os aportes tecnológicos que possam levar a essa transição que o ministro Haddad se referiu. O Brasil pode ter uma matriz energética 100% limpa e ajudar o mundo a também fazer sua transição energética”, disse.

Ela também não acha que seja uma contradição o Brasil entrar na OPEP+, desde que seja para levar a organização o debate da economia verde e da necessidade de descarbonizar o planeta. Organizações veem com ceticismo essa possibilidade.

Atualmente, o governo tem planos de expandir suas fronteiras de exploração de petróleo para regiões ambientalmente sensíveis, como a Amazônia, buscando saltar da 9ª para a 4ª posição no ranking dos maiores produtores de petróleo do mundo.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente da COP, sultão Al Jaber. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Florestas para Sempre 3y6h3y

Além dos embates entre seus ministros, o dia do Brasil na COP 28 foi marcado pelo lançamento de um fundo global para a conservação das florestas tropicais, com expectativa inicial de captar 250 bilhões de dólares em recursos de fundos soberanos.

Os mecanismos de funcionamento da proposta ainda não estão claros, mas sabe-se que o fundo pretende ser usado para o pagamento a 80 países que possuem florestas tropicais pela manutenção da floresta em pé, com um valor fixo anual por hectare conservado ou restaurado.

Batizado de Florestas Tropicais Para Sempre, o Fundo pretende suprir uma lacuna existente hoje nos mecanismos de financiamento. Atualmente, a maior parte dos recursos existentes para proteção das florestas se concentra em pagamentos por captação de carbono ou provisão de serviços ambientais. 

O novo fundo prevê uma forma simplificada de monitoramento e pagamento pela manutenção das florestas preservadas.

  • Cristiane Prizibisczki 1z1b3e

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

Leia também 84q8

Reportagens
30 de novembro de 2023

COP 28 começa em Dubai cercada de óleo, controvérsias e uma boa decisão 6s1i1z

Emirados Árabes, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, têm a função de colocar fim aos combustíveis fósseis na pauta. Fundo de Perdas e Danos sai do papel

Notícias
9 de agosto de 2023

Países com grandes porções de florestas se unem em bloco de negociação internacional v3b4

Anunciado na Conferência do Clima de 2022, “Bloco de florestas” foi formalizado nesta quarta-feira (9) no Brasil. Doze países fazem parte

Notícias
20 de novembro de 2023

Delegação brasileira para COP dos Emirados Árabes tem 2,4 mil inscritos 1d58g

Número é recorde na história das Conferências do Clima: maior delegação já registrada tinha cerca de 1500 pessoas. Evento já foi usado para turismo

Mais de ((o))eco 6q6w3q

política ambiental 6v2p2j

Salada Verde

Sociedade civil protesta contra PL que quer acabar com o licenciamento 6n1v2o

Reportagens

Como comunidades de fecho de pasto conservam o Cerrado no oeste baiano 4h422r

Notícias

Tribunal de Justiça do RS desobriga companhia de isolar fios para evitar choques em bugios 48634p

Notícias

Perda global de florestas atinge recorde em 2024, mostra estudo da WRI n6j56

desmatamento 4y695i

Reportagens

Como comunidades de fecho de pasto conservam o Cerrado no oeste baiano 4h422r

Notícias

Perda global de florestas atinge recorde em 2024, mostra estudo da WRI n6j56

Análises

O PL da Devastação e a falsa promessa do progresso 155t47

Notícias

Em audiência tensa no Senado, PL-bomba e Foz do Amazonas dominam a pauta 386zf

Governo Lula 25165g

Salada Verde

Deputado quer colocar parques nacionais de volta à lista de concessões do governo 6vy2f

Salada Verde

ONGs pedem que Lula defenda Marina Silva após ataques de ruralistas 1m441i

Salada Verde

Lula veta “jabutis” em projeto de lei das Eólicas offshore 624h72

Notícias

Presos por crimes ambientais representam apenas 0,04% de todos os encarcerados no país 5y641c

COP 28 76m3j

Salada Verde

Fundo bilionário para florestas tropicais começa a ganhar corpo, avalia o governo  1x5qs

Salada Verde

Troika da COP expandirá produção de petróleo e gás em 32% até 2035, aponta pesquisa 66o5h

Podcast

Entrando no Clima #18: Caminhos para Belém e desafios da COP-30 3z2g46

Análises

Caminhos para Belém: os desafios de uma transição energética justa 6i576w

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Comentários 1 2p2l4m

  1. Dennis diz:

    Que tal subordinar Minas & Energia e Forças Armadas ao MMA? Seria um sinal forte e traria tração às ações necessárias para mudanças climáticas. Tanto na descarbonizacao quanto no emfrentamento de consequências da crise.