Reportagens

Impunidade chega a 98% do desmatamento registrado no Brasil, mostra Monitor da Fiscalização 2x4957

Ferramenta, lançada nesta terça-feira (03), revela falta de ação do governo federal em fiscalizar alertas e punir desmatadores ilegais. 3/4 dos alertas estão na Amazônia

Cristiane Prizibisczki ·
3 de maio de 2022 · 3 anos atrás

Cerca de 98% dos alertas de desmatamento registrados no Brasil desde janeiro de 2019 não foram autorizados ou foram alvos de fiscalização por órgãos do governo federal, aponta o Monitor da Fiscalização do Desmatamento, uma nova ferramenta online lançada nesta terça-feira (3). O número revela o alto índice de impunidade dos ilícitos ambientais no país.

O Monitor da Fiscalização é uma iniciativa do MapBiomas liderada pelas equipes do Instituto Centro de Vida (ICV) e Brasil.IO. Para chegar à cifra da impunidade, os pesquisadores cruzaram dados de alerta de desmatamento do Mapbiomas com as autorizações de supressão e de uso alternativo do solo contidas no Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor) e com autos de infração e embargos lavrados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Entre janeiro de 2019 e março de 2022, foram emitidos 199.520 alertas de desmatamento, sendo que 194.964 continham indícios de ilegalidade e não sofreram ações por parte do governo federal

Isto é, apenas 2,17% dos alertas foram fiscalizados. Quando considerada a área desmatada, a ferramenta mostrou que as ações de fiscalização registradas alcançaram 13,1% do total de desmatamento detectado desde 2019.

Dos mais de 199 mil alertas gerados, três quartos estavam na Amazônia (149.631). Também neste bioma o índice de impunidade chegou a 98% dos alertas gerados, sendo que apenas 196 alertas estavam sobrepostos com áreas que continham autorização de supressão, segundo a ferramenta.

“A aplicação de multas, apreensões, embargos, interdições, entre outras medidas dos órgãos competentes, podem impedir danos ambientais, punir infratores e evitar futuras infrações ambientais […]  Mas os dados do Monitor mostram que a impunidade ainda marca o desmatamento ilegal no Brasil”, disse o coordenador geral do MapBiomas, Tasso Azevedo.

Impunidade no nível estadual 334z3h

A inação por parte do governo federal fica ainda mais evidente quando os dados são comparados com os índices de alguns estados, como Mato Grosso, Minas, São Paulo e Goiás, também avaliados pelo Monitor.

Em Mato Grosso, por exemplo, estado que historicamente sempre esteve nas primeiras posições do ranking de desmatamento na Amazônia, as ações de fiscalização por parte do governo estadual alcançaram 29,5% do total de alertas gerados no período (13 mil alertas). Quando considerada a área total dos alertas que sofreram ações de fiscalização ou tiveram autorização, o percentual sobe para 41%.

Em Minas Gerais, as ações de fiscalização ou autorizações emitidas pelo governo estadual se sobrepam a 22,4% dos alertas de desmatamento publicados no Estado. Em São Paulo, esse número é de 21% e, em Goiás, 10,3%.

Já o Pará, líder do ranking de desmatadores da Amazônia desde 2006, também avaliado pela plataforma do MabBiomas, a situação de impunidade se repete no nível estadual: apenas 1,8% dos alertas foram embargados pelo governo paraense ou possuem autorização, o que representa 9,8% do desmatamento total publicado.

Para Renato Morgado, especialista em Democracia Participativa da Transparência Internacional, a abertura de dados como os do monitor vai fornecer mais subsídios para a ação de órgãos de controle, como o Ministério Público e Tribunais de Contas.

“Um ponto essencial da ferramenta é que ela fomenta o controle institucional. Quando esses dados vêm a público sistematizados, ao saber o nível de esforço dos órgãos ambientais, é possível uma atuação mais estruturada do Ministério Público, do Tribunal de Contas. A ausência da emissão e cobrança de multas chega a bilhões de reais, por exemplo, e isso pode ser visto como uma renúncia de receita na qual os Tribunais de Contas têm atribuição para olhar”, explicou o especialista, em live de lançamento da iniciativa.

Apesar do grande número de informações já disponíveis na plataforma, nos próximos meses estão previstos vários outros aprimoramentos.

“Em relação aos próximos os, o primeiro é ampliar o número de estados que tem no monitor. Para isso, precisamos avançar na abertura ou qualificação das bases [de dados] que temos pelos estados. A próxima etapa é conseguir cruzar essas informações com o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e outras categorias fundiárias. A gente também quer criar uma busca direta aos alertas de desmatamento e desenvolver um API [Interface de Programação de Aplicação] e um mapa interativo”, explicou Ana Paula Valdiones, coordenadora do ICV e uma das responsáveis pela plataforma, também durante o evento de lançamento.

  • Cristiane Prizibisczki 1z1b3e

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

Leia também 84q8

Notícias
11 de fevereiro de 2022

Ibama só agiu sobre 1,3% dos alertas de desmate 314946

Estudo do MapBiomas mostra que apenas 6,1% da área desmatada da Amazônia em 2020 teve embargos ou multas do órgão ambiental

Notícias
15 de junho de 2021

Sob Bolsonaro, “congelamento” de propriedades na Amazônia cai 85% 456x6z

Estudo da UFMG mostra que embargo de fazendas e empresas, motor da queda no desmatamento, voltou em 2020 ao patamar de 2004, apesar de presença do Exército

Reportagens
8 de junho de 2021

Sanção ambiental está mais complexa, frágil e sujeita a controle político, diz relatório 1f222l

Documento divulgado pela organização Climate Policy Initiative compila e expõe fragilidades das mudanças introduzidas por Bolsonaro na aplicação de multas ambientais no país

Mais de ((o))eco 6q6w3q

amazônia ia40

Notícias

Onda de apoio a Marina Silva após ataques sofridos no Senado une ministras, governadoras e sociedade civil 3h52q

Notícias

Em audiência tensa no Senado, PL-bomba e Foz do Amazonas dominam a pauta 386zf

Notícias

Brasil tem 34 espécies de primatas ameaçadas de extinção 3y45o

Colunas

No jogo das apostas, quais influenciadores apostarão na Amazônia? 1a2m6g

RADZ 3v7370

Reportagens

Trabalho análogo à escravidão na pecuária do Pará chega a 31% nos últimos dois anos, revela pesquisa 4l3l41

Reportagens

Ferrogrão: Amazônia fora dos trilhos 582k1c

Reportagens

Livro revela como a grilagem e a ditadura militar tentaram se apoderar da Amazônia p5156

Notícias

Governo do Mato Grosso sanciona norma que prejudica signatários da Moratória da Soja 76e6g

política ambiental 6v2p2j

Fotografia

Galeria: Veja como foram os atos contra o PL da Devastação 6g1o27

Salada Verde

Sociedade civil protesta contra PL que quer acabar com o licenciamento 6n1v2o

Reportagens

Como comunidades de fecho de pasto conservam o Cerrado no oeste baiano 4h422r

Notícias

Tribunal de Justiça do RS desobriga companhia de isolar fios para evitar choques em bugios 48634p

desmatamento 4y695i

Reportagens

Como comunidades de fecho de pasto conservam o Cerrado no oeste baiano 4h422r

Notícias

Perda global de florestas atinge recorde em 2024, mostra estudo da WRI n6j56

Análises

O PL da Devastação e a falsa promessa do progresso 155t47

Notícias

Em audiência tensa no Senado, PL-bomba e Foz do Amazonas dominam a pauta 386zf

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.