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Pesquisadores da Austrália descobrem a maior planta da Terra 3g4n3z

Os cientistas encontraram uma erva marinha, que ocupa uma área de 180 m² com idade estimada de 4.500 anos

Evanildo da Silveira ·
29 de junho de 2022 · 3 anos atrás

Ela é antiga, bastante resistente e grande, muito grande. A maior planta do mundo ocupa uma área de cerca de 180 Km² e aproximadamente 4.500 anos. Trata-se de um exemplar da erva marinha de Poseidon (Posidonia australis), o deus grego dos mares e rios, descoberto por pesquisadores das universidades da Austrália Ocidental (UWA) e de Flinder, nas águas rasas e ensolarada da baía de Shark, a cerca de 800 km ao norte da cidade Perth, na costa oeste da Austrália.

A surpreendente descoberta foi feita por acaso. A bióloga evolucionária Elizabeth Sinclair, da Escola de Ciências Biológicas da UWA e do Instituto UWA Oceans, uma das autoras sênior do estudo, conta que o projeto buscava entender quão geneticamente diversificados eram os prados de ervas marinhas na baía de Shark.  “Estamos estudando há algum tempo ervas marinhas de água fria no sul da Austrália, para entender quanta diversidade genética há nelas e quão conectados são os prados”, explica.

Aí entra a Posidonia australis, uma espécie difundida na região, desde a baía de Shark, na costa oeste central da Austrália, até o norte de Sydney, na costa leste. “Alguns prados têm alta diversidade genética, ou seja, muitas plantas diferentes, e outros têm níveis muito mais baixos”, diz Elizabeth. “Os de Shark eram de particular interesse, uma vez que tinham níveis excepcionalmente altos de diversidade genética para prados que vivem perto do limite norte da distribuição geográfica, mas havia muito menos frutas produzidas a cada ano.”

Os pesquisadores se perguntaram então quantas plantas diferentes cresciam em prados de ervas marinhas, mais especificamente os da baía de Shark. Para responder a perguntas, eles usaram ferramentas genéticas. “Coletamos brotos das ervas de dez locais diferentes dos prados de Posidonia ao redor de Shark”, conta Elizabeth. As condições ambientais de cada um deles eram diferentes e bastante inóspitas.

Imagem área da Poseidon, na Baía de Shark. Foto: Angela Rossen/UWA.

Depois da coleta das amostras, os pesquisadores estudaram 18.000 marcadores genéticos em cada uma delas. “Nós extraímos o DNA e geramos uma ‘impressão digital” dele para cada amostra”, explica Elizabeth. “As amostras de nove dos dez locais eram quase idênticas. Então, a resposta à nossa pergunta definitivamente nos surpreendeu – apenas uma. Uma única planta se expandiu por mais de 180 km² na baía de Shark, tornando-se a maior conhecida na Terra.”

O que é mais interessante ainda, segundo a pesquisadora, é que ela tem o dobro do número de cromossomos do que em outras populações que eles estavam estudando – 40, em vez dos 20 habituais. Isso significa que a Posidonia australis é o que os cientistas chamam de “poliploide”. Na maioria das vezes, ervas marinhas são diploides, ou seja, uma muda herdará metade do genoma de cada um de seus pais. Os poliploides, no entanto, carregam todo o genoma de cada um de seus progenitores.

Elizabeth explica que a duplicação do genoma inteiro através da poliploidia – duplicando o número de cromossomos – ocorre quando plantas “pais” diploides hibridizam. “A nova muda contém 100% do genoma de cada pai, em vez de compartilhar os 50% usuais”, diz. “Mesmo sem floração e produção de sementes bem-sucedidas, parece ser realmente resiliente, experimentando uma ampla gama de temperaturas e salinidades, além de condições extremas de luz alta, que juntas normalmente seriam altamente estressantes para a maioria das plantas”.

Existem muitas espécies de vegetais poliploides, inclusive terrestres e bem conhecidos, como batatas, canola e bananas. Na natureza, muitas vezes elas se desenvolvem em locais com condições ambientais extremas. Frequentemente esse tipo de planta é estéril, mas pode continuar a crescer indefinidamente se não forem perturbados. Posidonia australis fez exatamente isso, clonando-se desde que nasceu, na época dos primeiros faraós do Egito.

Um dos desafios da pesquisa foi justamente determinar a idade da planta descoberta. Sabe-se que a baía de Shark se formou há cerca de 8.500 anos, quando o nível do mar subiu após a última era glacial e cobriu as dunas arenosas que existiam no local. Ao longo dos milênios seguintes, os prados de ervas marinhas em expansão formaram bancos costeiros rasos e soleiras por meio da criação e captura de sedimentos, o que tornou a água mais salgada.

Para estimar a idade da Posidonia australis, os pesquisadores se basearam na sua taxa de crescimento em área. “Usamos uma estimativa conservadora da expansão do rizoma, de 15 a 35 centímetros por ano, tirada de uma população oceânica e ajustada para o fato de que ela não cresce apenas em uma única direção”, explica Elizabeth. “É um padrão de crescimento complexo e não linear, no qual o rizoma se ramifica em várias direções.”

Segundo a pesquisadora, a descoberta é importante, porque a baía de Shark é uma área de Patrimônio Mundial da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) que permaneceu relativamente intocada durante toda a sua existência, mesmo depois da chegada dos europeus. “A planta foi capaz de continuar se expandindo, por meio do crescimento vegetativo – estendendo seus rizomas para fora – da mesma forma que uma grama em seu jardim, aumentando seu tamanho continuamente”, diz.

  • Evanildo da Silveira 6g1q3t

    Jornalista, dedicado as áreas de ciência, tecnologia e meio ambiente.

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