Análises

Criação de áreas marinhas protegidas está estagnada 221td

Em outros países, a criação de áreas protegidas marítimas avança célere, enquanto nada acontece no Brasil para proteger seu imenso litoral.

Marcia Hirota · Leandra Gonçalves ·
8 de setembro de 2014 · 11 anos atrás
Parque Nacional Marinho das Ilhas dos Currais. Foto: Juliano Dobis.

Nos últimos meses, diversos países aram a anunciar a criação de grandes áreas protegidas costeiras e marinhas ou até mesmo um conjunto significante de pequenas áreas. O movimento é recente. Começou com a iniciativa da Austrália em criar a maior rede mundial de reservas marinhas em 2012. Para isto, o governo do país declarou uma rede que engloba 44 reservas marinhas, cobrindo 2,3 milhões de quilômetros quadrados – um terço do seu território marinho.

Em junho, Bahamas, Ilhas Cook, Palau e Estados Unidos tornaram públicos planos de criação e ampliação de áreas marinhas protegidas. O presidente americano Barack Obama, por exemplo, propôs aumentar a proteção no entorno do Monumento Nacional Marinho das remotas ilhas do Pacífico, transformando-a na maior área marinha protegida do mundo, onde não será permitida a exploração de óleo e gás nem atividades de pesca. Mais recentemente, foi a vez de a Escócia anunciar a criação de 30 novas áreas marinhas protegidas, tornando a região a maior área protegida de toda a Europa.

Por aqui, tudo parado

O Brasil, porém, parece seguir no sentido contrário.

No país, as últimas iniciativas de criação de Unidades de Conservação (UCs) na zona costeira e marinha partiram do Poder Legislativo: Monumento Nacional das Ilhas Cagarras (RJ, 2010) e Parque Nacional Marinho da Ilha dos Currais (PR, 2013). Por iniciativa do Poder Executivo, as últimas áreas foram criadas cinco anos atrás – as Reservas Extrativistas da Prainha do Canto Verde (CE) e do Cassurubá (BA).

“A inércia e a falta de prioridade para criação das UCs costeiras e marinhas no Brasil é tanta que o tema sequer é mencionado nas propostas dos novos candidatos à Presidência”

A inércia e a falta de prioridade para criação das UCs costeiras e marinhas no Brasil é tanta que o tema sequer é mencionado nas propostas dos novos candidatos à Presidência e nenhum dos programas de governo apresentados promete fazer mudanças para promover a compatibilização do uso e da conservação do território marinho.

Esse cenário ilustra o grande conflito existente na costa brasileira – e que seria facilmente solucionado com planejamento e políticas mais equilibradas, que envolvessem não apenas a exploração, mas também a sustentabilidade dos recursos naturais e dos ecossistemas costeiros e marinhos.

Em um rápido levantamento, é possível resgatar o manifesto pró-UCs apresentado por entidades da sociedade civil, aprovado por unanimidade no Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação em 2012. A lista, assinada por 72 especialistas de todo o país e proposta por 43 instituições, incluía 19 Unidades de Conservação cujos processos se encontravam em estágio avançado e dependiam apenas do empenho por parte do Governo Federal para se tornarem realidade. ados quase dois anos, nenhuma dessas UCs foi criada. Entenda-se por empenho não apenas vontade para destravar processos prontos, mas sobretudo força política para enfrentar conflitos em áreas onde ocorrem grandes obras de infraestrutura.

Ao governo brasileiro, falta clareza sobre o papel das áreas protegidas. A importância de tais áreas é sem dúvida a recuperação e conservação da biodiversidade marinha, já bastante degradada. Mas vai muito além, pois as áreas marinhas protegidas podem e devem ser transformadas em polos de transformação social.

Somado a isso, é necessário ressaltar que as informações sobre planos e interesses em territórios públicos geralmente não são compartilhadas com a sociedade, o que desencadeia uma frustração coletiva. Esta prática governamental está no cerne das principais tensões sociais e também na dificuldade de entendimento do real papel das áreas protegidas para o país. Isso precisa mudar. E em ano eleitoral quem tem boas propostas será rei ou rainha.

A Fundação SOS Mata Atlântica em sua carta “Desenvolvimento para sempre – Uma agenda para os candidatos nas eleições 2014” traz metas e programas realistas e alinhados com as melhores práticas no mundo todo. Um exemplo: cumprir até 2018 a meta de proteger pelos menos 5% da área marinha sob jurisdição nacional e garantir que 100% das áreas protegidas marinhas tenham planos de manejo aprovados.

É necessário implementar de fato as potencialidades das UCs e dar conhecimento à sociedade sobre seus benefícios. Importante também que se desenvolva uma estratégia mais ampla de conservação e uso racional da biodiversidade para que o nosso mar não seja simplesmente mais uma arena para o equivocado conflito entre meio ambiente e desenvolvimento.

 

Leia também
Se eu fosse candidata em 2014
Dia mundial dos oceanos: Nos vemos em 2015
CBUC 2012 aprova moção pedindo mais UCs Marinhas

 

 

 

  • Marcia Hirota 4y5z4i

    Diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica.

  • Leandra Gonçalves 1mc50

    Professora no Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

Leia também 84q8

Salada Verde
6 de junho de 2025

Em pronunciamento, Marina Silva sai em defesa do Licenciamento Ambiental 32i1x

“Não podemos permitir que, em nome da agilização das licenças ambientais, seja desferido um golpe mortal em nossa legislação”, discursou a ministra. Leia o discurso na íntegra

Análises
6 de junho de 2025

Governo do RS ignora perda anual de vegetação campestre para comemorar a ilusão do Pampa conservado 6w566i

Relatório que apontou queda no desmatamento do bioma ite limitação para avaliar campos, mas Governo do Estado vangloria-se de um suposto sucesso da sua política ambiental

Colunas
6 de junho de 2025

ONU reúne 2 mil cientistas para transformar conhecimento em ações políticas para o oceano 6k6n12

Especialistas de mais de cem países estão em Nice, na França, para definir ações prioritárias até 2030 para melhorar a saúde do oceano

Mais de ((o))eco 6q6w3q

unidades de conservação 5p295q

Notícias

Ave criticamente em perigo de extinção, soldadinho-do-araripe ganha um refúgio 103f1s

Notícias

Governo cria três novas unidades de conservação na Mata Atlântica 2b5l3n

Reportagens

Como as unidades de conservação podem resistir à crise climática? 512p5g

Reportagens

O adeus de Niède Guidon, a matriarca da Serra da Capivara 281z1u

Eleições 2014 4u7158

Notícias

Dilma confirma Kátia Abreu no Ministério da Agricultura 1y1l6d

Salada Verde

Kátia Abreu é cotada para ser ministra da Dilma 5h84f

Notícias

Podcast: Na festa da democracia, a política ambiental não tem vez 352w2o

Colunas

Não chore por mim, Brasil 6j554b

oceanos 5b3867

Colunas

Podcast inédito explora os ambientes naturais marinhos e costeiros 5y4g3p

Reportagens

O quão pouco já vimos das profundezas do mar 6e6p51

Salada Verde

APA Baleia Franca sob ataque: sociedade protesta contra tentativa de redução 4k2y6n

Notícias

Projeto quer reduzir APA da Baleia-Franca, em Santa Catarina v3z5v

conservação 4y3hz

Análises

Governo do RS ignora perda anual de vegetação campestre para comemorar a ilusão do Pampa conservado 6w566i

Colunas

ONU reúne 2 mil cientistas para transformar conhecimento em ações políticas para o oceano 6k6n12

Colunas

Podcast inédito explora os ambientes naturais marinhos e costeiros 5y4g3p

Notícias

Ave criticamente em perigo de extinção, soldadinho-do-araripe ganha um refúgio 103f1s

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.