Notícias

TI e UCs armazenam 55% dos estoques de carbono na Amazônia 6a2s2k

Estudo lançado na COP20, em Lima, defende que países amazônicos assumam compromissos para evitar emissões de carbono e preservar áreas naturais.

Fabíola Ortiz ·
8 de dezembro de 2014 · 10 anos atrás

Foto:
Foto:

Lima, Peru – A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP20), em Lima, no Peru, começa a sua segunda e última semana na tentativa de preparar um rascunho para um possível acordo global de clima, que deverá ser formalizado na COP de Paris, em 2015. Sem a presença de chefes de Estado, a COP20 está sendo conhecida como a COP Indígena, é o que se ouve nos corredores e comentários dos side events, reuniões e encontros paralelos.

E não é à toa. As Terras Indígenas (Tis) e as Áreas Protegidas na Amazônia são responsáveis por armazenar mais da metade do carbono existente em toda a floresta, mais precisamente 55% – algo em torno de 47,3 bilhões de toneladas de carbono – segundo um estudo realizado pela Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (RAISG).

E as grandes pressões e ameaças já são bastante conhecidas: o corte de madeira ilegal, a mineração, expansão desenfreada da agropecuária e construção de represas que põem em risco as florestais tropicais.

Tamanha quantidade de estoque de carbono foi uma surpresa para os pesquisadores, itiu a ((o))eco, Sandra Ríos, integrante do Instituto del Bien Común (IBC) em Peru e uma das coordenadores do estudo em espanhol “Carbono en los bosques de la Amazonía: El poco reconocido papel de los territorios indígenas y las áreas naturales protegidas“, publicado na revista Carbon Management.

“Os povos indígenas demonstraram através do tempo que istram suas florestas de maneira muito mais eficiente do que nós não-indígenas fazemos. Essa quantidade de carbono armazenado reflete o bom manejo e uma boa conservação. Os povos indígenas podem utilizar os recursos naturais em suas terras para sobreviver, mas têm ido muito mais além. Eles istram suas florestas de tal forma que elas ainda sequestram uma boa porcentagem de carbono”, explicou Sandra Ríos.

O estudo teve início em setembro e reuniu pesquisadores e lideranças indígenas das seguintes instituições: o Centro de Pesquisa Woods Hole (WHRC), a própria RAISG, a Coordinadora de las Organizaciones Indígenas de la Cuenca Amazónica (COICA) e o Fundo de Defesa Ambiental (EDF).

Mudanças no clima

O informe apenas revelou o que já se supunha: os povos indígenas são importantes protagonistas para, não apenas conservar a floresta em pé e manter os estoques de carbono, como também contribuir para evitar os impactos ambientais nas mudanças do clima.

“Nunca tínhamos estado sob tanta pressão, agora este estudo demonstra que sim”, declarou Edwin Vásquez, coautor e presidente de COICA. “Agora temos evidência de que onde os direitos dos indígenas são preservados, as florestas estão em pé. Sabendo que mais da metade do carbono da região amazônica está nos territórios indígenas e nas áreas naturais protegidas, podemos dizer a nossos governantes que fortaleçam o papel e os direitos dos povos da floresta”, afirmou.

O estudo considera que uma importante proporção das TIs e áreas protegidas se encontra em situação de risco com “consequências potencialmente desastrosas” que podem afetar 40% dos territórios indígenas, um terço das áreas naturais protegidas e 24% que corresponde a ambas categorias, por tratar-se de áreas de superposição.

Manter a estabilidade da atmosfera amplia a gama de serviços ambientais e sociais fornecidos pela Amazônia e dependerá dos governos decidirem adotar políticas para assegurar a integridade ecológica das Tis e áreas protegidas, define o artigo.

O estudo adverte que a destruição contínua dos ecossistemas ricos en carbono diminuirá gradualmente sua capacidade de funcionar de forma adequada podendo resultar em “efeitos nocivos e potencialmente irreversíveis sobre a atmosfera e o planeta”.

Compromissos na COP20

Sandra Ríos espera que a COP20 no Peru sirva, pelo menos, para alinhar uma posição entre os países amazônicos a fim de traçar políticas comuns para a preservação da Amazônia e definir metas para evitar as emissões.

“Estamos em busca de compromissos. Esperamos demonstrar que nossa Amazônia armazena uma grande quantidade de carbono e que este estudo pode fazer parte de uma elaboração de estratégias para mitigar e adaptar às mudanças climáticas. O ordenamento e planejamento dos projetos de conservação devem ser pensados em conjunto”, argumentou.

Cerca de 14% das áreas indígenas ainda não estão legalmente reconhecidas. A Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada reforça a necessidade de reconhecer estas áreas oficialmente.

A situação dos povos indígenas na Amazônia ainda é “muito triste”, disse a ((o))eco a Relatora Especial da ONU para os direitos dos povos índigenas, Victoria Tauli-Corpuz.

“Tenho recebido muitas alegações de violações de direitos humanos dos povos indígenas na Amazônia, tanto no Peru, como no Brasil e no Equador. Se elas se confirmarem, não demonstram a seriedade de seus governos para tratar de temas relacionados às mudanças climáticas”.

A Relatora Especial da ONU conversou com ((o))eco durante o Global Landscapes Forum, um envento paralelo à conferencia oficial COP20 que reuniu neste fim de semana, na capital peruana, ambientalistas, cientistas, experts e ministros de sete países da América Latina para discutir temas de conservação da paisagem.

“Se você respeita os povos indígenas e seu direito à floresta, eles podem contribuir significativamente para as mitigações das mudanças do clima”, afirmou Victoria Tauli-Corpuz.

Alguns números do estudo

  • A região amazónica armazena um terço (38%) do total de carbono da superficie da Terra, ou seja, 86.121 megatoneladas de carbono.
  • As TIs da Amazônia armazenam 32,8% do carbono, correspondente a um terço da área geográfica da Terra (2,4 millones de km2).
  • As TIs e áreas naturais protegidas dos nove países amazônicos contém 55% do carbono estocados da Amazônia (47.363 toneladas métricas). Se liberados alteraria irremediavelmente os regimes climáticos e de chuva a escala continental.
  • Uma área de 4,2 milhões de km2 (mais de 53%) da região amazônica está ameaçada em razão da expansão da agricultura e gado, setor de mineração e petróleo, madeira e transportes. Esta área armazena 46% (39.743 toneladas métricas) do carbono da superfície da Amazônia, cifra maior que o carbono de todo território da Rússia (32.5000 toneladas métricas).

 

 

Leia Também
COP20 busca um rascunho do novo acordo climático
Estados Unidos e China: os importantes para o clima
Caminhada pelo clima reúne quase 1 milhão em todo o mundo

 

 

 

  • Fabíola Ortiz 381p72

    Jornalista e historiadora. Nascida no Rio, cobre temas de desenvolvimento sustentável. Radicada na Alemanha.

Leia também 84q8

Fotografia
2 de junho de 2025

Galeria: Veja como foram os atos contra o PL da Devastação 6g1o27

Centenas de manifestantes foram às ruas contra o avanço do Projeto de Lei que implode o licenciamento ambiental. Projeto está tramitando na Câmara

Salada Verde
30 de maio de 2025

Sociedade civil protesta contra PL que quer acabar com o licenciamento 6n1v2o

Mobilização ocorre em ao menos 12 capitais. Protestos estão marcados para ocorrer neste domingo e marcam o início da semana do meio ambiente

Salada Verde
30 de maio de 2025

Chance de aquecimento da Terra ultraar 1,5°C aumentou, mostra estudo 3263y

Países caminham para que a principal meta do Acordo de Paris seja descumprida. Chance de que o aquecimento fique entre 1,5ºC e 1,9ºC em pelo menos um dos próximo cinco anos é de 86%, diz ONU

Mais de ((o))eco 6q6w3q

unidades de conservação 5p295q

Notícias

Perda global de florestas atinge recorde em 2024, mostra estudo da WRI n6j56

Notícias

Em audiência tensa no Senado, PL-bomba e Foz do Amazonas dominam a pauta 386zf

Colunas

Mercantilização e caos no licenciamento ambiental brasileiro 1o156g

Notícias

Com mudanças de última hora, projeto-bomba do Licenciamento é aprovado no Senado 4h5y5t

conservação 4y3hz

Fotografia

Galeria: Veja como foram os atos contra o PL da Devastação 6g1o27

Notícias

Tribunal de Justiça do RS desobriga companhia de isolar fios para evitar choques em bugios 48634p

Notícias

Perda global de florestas atinge recorde em 2024, mostra estudo da WRI n6j56

Análises

O PL da Devastação e a falsa promessa do progresso 155t47

terras indígenas 1c3t5b

Análises

O direito dos Mbya Guarani de manejar seu território sobreposto pela Rebio Bom Jesus 6w3p1f

Reportagens

Cientistas e ongs criticam acordo que mantém caça numa reserva biológica de Mata Atlântica 6r5r2n

Notícias

Liminar federal barra ocupações de indígenas no Parque Nacional do Iguaçu 64416d

Salada Verde

Lewandowski assina portarias declaratórias de 7 terras indígenas em SP y4x5

cop20 3l3959

Notícias

COP20: um acordo tardio, mas melhor do que nada e1gt

Salada Verde

Greenpeace invade ruínas milenares e revolta peruanos 3o38

Reportagens

Reta final da COP-20 pode abraçar proposta brasileira 33193j

Notícias

Países se comprometem a restaurar 20 mi de hectares até 2020 2k5m5g

Deixe uma respostaCancelar resposta 4wh1i

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.